Ele me quer

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***
Mr Comudus veio me ver na manhã do dia seguinte, e embora eu quisesse acreditar que os últimos acontecimentos eram um sonho, a sua presença me impedia.

Ele pega o chá da mesinha de centro e me olha nos olhos. Dá um gole e depois deposita na mesinha de novo, pega uma das minhas mãos e acaricia com cuidado. Como quem toca em um objeto de vidro. Estou confusa mas meu corpo corresponde, sinto um formigamento no lugar onde ele toca. Seu olhos são profundos, de um cinza particular. Algo me diz que ele tem muitos segredos e que ele não é nem de longe alguém superficial.
Ele diz:

-Sei que as coisas não saíram como você esperava, senhorita. Mas quero que saiba que escolhi me casar com você, não para fazer um favor, ou livrar a senhorita de um mau nome, e sim porque desde o primeiro dia em que a vi descendo a escada dessa sala meu coração se encheu de ternura. E eu soube que era com você que iria me casar. Mesmo não sabendo como realizaria esse feito, estando eu noivo de sua irmã.

As palavras dele são fortes e eu quase não consigo responder tamanha é a minha surpresa.

-Temo que não poderei correspondê-lo nesse sentimento. Meu coração está tão machucado.

-Sei disso, e estarei aqui do seu lado. Esperando que essa ferida se cure. Logo não lembrará nem o nome daquele infeliz.

Mordo o lábio e fecho os olhos. Penso comigo "É o que mais quero". Uma lágrima escorre por meu rosto e sinto seu toque limpando-a. O toque é suave. E eu chego a pensar que se conhecesse esse homem anos atrás, seria dele o meu coração.

Mr Comudus vai embora algumas horas depois e Amber vem ter comigo.

-Darla, não se sinta mal em roubar meu noivo. -ela sorri verdadeiramente.

-Amber, não diga isso. Eu jamais imaginei que as coisas iam sair como saíram.

-Eu sei, não é loucura? E se ele for mesmo a pessoa certa pra você? O que ele te disse durante o encontro de vocês?

-Disse que se apaixonou por mim desde a primeira vez que me viu, e embora as circunstâncias não sejam boas, ele estava feliz por as coisas terem tido esse desenrolar.

O rosto de Amber se ilumina e ela parece verdadeiramente feliz por mim.
Amber é a melhor irmã que eu poderia ter, outra estaria morrendo de raiva de mim, mas ela não, ela me ama.

-Precisamos escolher logo o vestido, Darla. Que tal nós irmos a boutique da senhorita Florence?

-Não sei, não acha que é muito cedo?
Nós nem marcamos a data.

-Não precisamos comprar nada se não quiser. É mais pra espairecer. Você passou dias em casa, trancada. Sofrendo. Seria bom ver a cidade, os vestidos. Tenho certeza que isso vai te animar. Talvez você até goste da ideia de se casar com um estranho bonitão.

Eu rio e concordo com Amber.

Me visto rapidamente e entro no carro com Amber, enquanto o motorista nos leva até a praça da cidade. E de lá vamos andando até a boutique. Eu vejo as pessoas e elas me olham, me pergunto se algumas sabem do ocorrido. Amber me garante que não, que a notícia não se espalhou. Mas é difícil acreditar.

Madame Florence mostra alguns de seus vestidos. E eu já mais animada experimento um a um. Enquanto provo o último vestido do dia. Vejo uma silhueta familiar invadir o local. Peter.
Meu coração sai pela boca e eu sinto os sentimentos me invadirem o corpo novamente. A ansiedade toma conta de mim e eu revivo tudo o que aconteceu há alguns meses.
Seu rosto está cansado, os olhos vermelhos e as mãos trêmulas seguram o chapéu. Ele olha pra Amber que o lança um olhar feroz. Mas eu digo para que ela e madame me deixem falar com ele a sós.

Eu sento em uma cadeira e Peter me acompanha. Ele tenta pegar minha mão mas eu a tiro.

-Darla, eu... Soube que você vai se casar. Casar com aquele homem.

-Não era isso que você queria desde o começo? Que me casasse com um igual? Tudo isso depois de ter brincado com meus sentimentos. Francamente.

-Eu desisti do nosso plano porque a amo, amo tanto que não poderia te dar um futuro ruim. Se pequei foi pelo excesso.

-Você acha mesmo que coisas materiais me fazem feliz? Eu teria ido ao fim do mundo com você. Viveríamos de forma simples. O nosso amor teria sido o suficiente para mim.

-Darla, você é uma moça rica. Nunca passou dificuldades. Certamente não sabe o que está falando. A falta de dinheiro é um mal terrível.

-Desculpa sua. Você é quem não gostava de mim o suficiente.

-Amo você, amo mais que tudo. E é por amar que quero te ver bem.

-Bem? Casando com um estranho?

-Não, Darla. Há alguns meses eu não tinha recursos, nem um emprego. Mas meu tio me arranjou um emprego na capital. Agora eu posso te dar ao menos parte do que você merece. Preciso que vá comigo.

-Ir com você? De novo? Pra você ir a minha casa e contar tudo ao meu pai?

-Não farei isso, Darla. Você sabe que não farei. Eu não suporto ver você casando com esse sujeito. Não é justo você pagar por um erro meu.

-Mr Comudus foi um homem honrado em ter me pedido em casamento apesar do que eu e você fizemos.

Os olhos de Peter acendem de raiva quando eu menciono o nome de Mr Comudus. Ele pega minha mão e dessa vez eu deixo.

-Preciso de outra chance, Darla. Pense um pouco. Meu coração ainda é seu, e sei que apesar da mágoa que está sentindo, seu coração ainda é meu.

Eu tiro a minha mão da mão de Peter e levanto rapidamente enquanto saio da boutique atordoada e Amber tenta me acompanhar.

Casamento Arranjado - Um Breve ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora