𝗦𝗲𝘂 𝗦𝗮𝗻𝗴𝘂𝗲 𝗲 𝗟𝗮́𝗴𝗿𝗶𝗺𝗮𝘀, 𝖽𝖺𝗋𝗒𝗅 𝖽𝗂𝗑𝗈𝗇 ²

𝗟𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗖𝗿𝘂𝘇𝗮𝗱𝗮 ¹⁸

Acordo com algo acariciando meu rosto. Meu corpo está dolorido e ainda sinto a ânsia de vomito no fundo da garganta.

Deus... nunca terei paz.

- Querida. - Ouço aquela voz.

Aquela voz que sempre resolve tudo. Que sempre me acalma.

Abro os olhos e lá está ele. E apesar de seu olhar preocupado sobre mim, não deixo de sorrir minimamente para ele. Me remexo na cama dura e noto a minha falta de roupa.

- Eu tive que te limpar do... sangue. Você praticamente desmaiou de sono quando chegamos. - Admiro seu rosto enquanto ele fala.

Agarro sua mão de meu rosto e brinco com seus dedos.

- Por quanto tempo eu dormi? - Daryl me olha no fundo dos olhos, enquanto morde o lábio por dentro da boca. Parecia nervoso.

- Praticamente um dia inteiro. - Suspiro pelo choque. - Ainda não queria te acordar, você tá muito cansada. Mas, precisa comer alguma coisa.

Ele beija minha testa suavemente antes de se levantar. Me sento na cama e observo seus movimentos. Não me sinto envergonhada perto dele, mesmo que eu esteja praticamente nua.

Daryl me alcança algumas latas de comida e o talher. Noto os hematomas em minhas mãos e as feridas nos ossos dos dedos pelas lutas que enfrentei. E apesar da dor extrema que se alastra em meu corpo, não consigo manter a postura quando sinto o cheiro da comida. Não era a melhor comida do mundo, estava até perto da validade, mas havia dias que não comia direito. E você não percebe a fome te atacar com o seu corpo anestesiado com adrenalina todos os dias.

- Achei o Rick. - Paro antes de comer mais uma colherada da comida.

Olho pra ele, esperando que fale.

- Depois... que nos separamos e fui atrás dele, acabamos nos encontrando no meio do caminho. Ele tinha acabado de invadir a base da WLF e estava fugindo. Matamos alguns no caminho e fomos atrás de você. - Ele olha pra mim somente no final da frase, como se temesse qualquer reação minha.

Sabia exatamente onde ele queria chegar com aquilo. Agora que estava todo mundo reunido, poderíamos voltar para Alexandria. Sabia que uma hora isso iria me encurralar, e sabia mais do que tudo que não iria voltar para Alexandria. Mesmo com Rick de volta ou não. Eu estou tão perto de achar Negan e cada segundo que passa, essa minha ânsia de achá-lo aumenta mais. Daryl diria que estou obcecada, e até mesmo eu acho isso. Mas não iria parar agora. Não quando já cheguei tão longe com a matança e tão perto de Negan.

- Tris... - Sua voz sai como um sussurro.

- Não! - Minha voz sai firme.

Sinto que ultimamente Daryl está pisando em ovos para falar comigo sobre Negan. E que ele tem medo de qualquer reação que eu possa ter com ele tentando me convencer a voltar para casa. Me sinto mal por isso, mas é algo que não consigo evitar. De qualquer lugar do mundo, minha mente nunca ficaria calma com o fato de Negan estar vivendo normalmente por aí. Preciso encontrá-lo. Preciso pegá-lo e o matar. O fazer sofrer como fez com Glenn. E mesmo que o trauma de seu sangue em minhas mãos fique em mim pelo resto da vida, eu sei que terei feito o certo. Por mim e por Glenn.

- Leve Maggie e Rick pra casa. Leve eles para Alexandria e deixa que eu faço isso sozinha.

- Por Deus, mulher... - Daryl levanta e nega com a cabeça algumas vezes, como se não acreditasse que eu estava falando aquilo.

- Não vou parar, Daryl. Nunca! Eu tenho que fazer isso!

Ele olha pra mim incrédulo.

- Você não tem que fazer isso pra provar nada pra ninguém.