Capítulo 04

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Jimin

Jimin estava bastante certo de que este homem nunca teria lhe dado um lugar para colocar a cabeça à noite, se ele soubesse que Jimin tinha acabado de sair da prisão. Exceto que havia definitivamente algo sobre o homem que Jimin queria agarrar. Bondade, compaixão, as mesmas qualidades que seu avô possuía. Ele não conseguia acreditar que se oferecera para trocar as etiquetas de identificação de seu avô, seu bem mais precioso, mas de alguma forma sabia dentro de si que Jungkook as manteria a salvo.

Foi a mesma intuição que o fez concordar em entrar no lado do passageiro do caminhão do homem e seguir em direção à casa que ele pensava estar vazia. Jungkook nem precisou dizer a ele que era para onde eles estavam indo; ele sabia antes que Jungkook fizesse a oferta, como uma espécie de déjà vu. Assim quando ele teve esse pensamento, algo que parecia dedos frios pressionou seu pescoço, fazendo-o tremer. Ele lançou um olhar para Jungkook, se perguntando se ele também sentiu.

Ele passou a mão pelo rosto. Ele estava sonhando com espíritos agora? Mas isso também não estava certo. Talvez fosse ele quem era o fantasma. Um fantasma do seu antigo eu.

— Você veio a pé? — Ele notou como os dedos de Jungkook seguravam o volante como se a ideia o incomodasse.

— Peguei um ônibus de Lucasville quando não consegui encontrar trabalho lá. Não queria pegar carona e arriscar.

— Isso deve ter sido péssimo. — Jungkook lançou lhe um olhar hesitante de lado, sabendo o suficiente para não encarar sua perna. — Eu sempre poderia...

— Não, senhor, você não vai. — Jimin agarrou sua bolsa. — Como eu disse, eu gosto de ganhar meu sustento.

— Justo. — Jungkook suspirou. — E não precisa me chamar de senhor.

— Desculpe — Jimin murmurou, seu pescoço esquentando. — Um hábito que meu avô me ensinou.

Os babacas também.

— Seu avô? — Os olhos de Jungkook se voltaram para a garganta de Jimin. — Não as forças armadas?

Ele podia sentir suas bochechas vermelhas quando seu pulso bateu forte em seus ouvidos. Ele procurou o que dizer. Porra, agora ele seria visto não apenas como criminoso, mas como mentiroso.

— Está tudo bem. — Disse Jungkook, mesmo quando seus olhos ficaram cautelosos. — Isso explica as placas de identificação antigas. Então, você compartilha o nome do seu avô?

Porra, Jungkook já lhe compreendia, e ele não tinha certeza de que ser pego em mais mentiras era a escolha mais sábia. — Está certo. Recebi o nome do meu avô e estou feliz porque... — Depois que minha mãe saiu, eu queria estar conectado a ele. — ... ele era tudo para mim.

Tanto que ele tatuou seus detalhes da etiqueta de identificação em seu braço em sua memória. Ele não se atreveu a levá-las para a prisão com ele, e foi por isso que seu avô as escondeu.

— Isso é legal — respondeu Jungkook com um olhar distante, como se Jimin tivesse lhe jogado em alguma memória.

Quando eles pararam na grande fazenda, Jungkook abafou um bocejo, e Jimin mais uma vez notou as bolsas sob seus olhos. Ele era um homem atraente, com cabelos escuros e curtos e mandíbula barbeada, mas certamente parecia que não dormia há dias. Eles definitivamente tinham isso em comum. Embora eu pudesse matar por um barbeador. Apenas mostrava que não importava se sua cama era o chão duro ou um colchão confortável, sua mente poderia mantê-lo acordado.

Quando eles saíram do caminhão, Jimin olhou ao redor da propriedade que estava extremamente necessitada de atenção.

Grama coberta de vegetação, canteiros invadidos por ervas daninhas. Tudo o que precisava era de alguns cuidados, e poderia ser incrível. Algo como inveja apertou seu peito. Ele nunca possuiu algo assim, mas se o fizesse, certamente o seguraria por tudo que valia a pena.

Faria com que parecesse um lar. Jimin só sentira isso com o avô, e eles eram muito pobres. Logicamente, ele sabia que casa era mais um sentimento do que uma estrutura real, mas com certeza seria bom se sentir em algum lugar para uma mudança.

Ele afastou esses pensamentos antes que algum tipo de esperança injustificada surgisse.

— Você mora aqui sozinho? — Perguntou Jimin, olhando para os degraus que levavam à grande varanda da frente e para os ganchos vazios pendurados no teto que poderiam ter ancorado um balanço. Ele quase podia imaginar a si mesmo e seu avô balançando nele, copos de limonada à moda antiga na mão, em vez do apartamento apertado de um quarto de sua infância.

Quando ele não recebeu uma resposta, ele olhou para Jungkook. Sua mão estava enfiada no bolso da frente, o sapato batendo no chão e algo se fechou em seus olhos.

Ele conhecia esse olhar muito bem.

— Longa história? — Jimin forneceu.

— Algo assim — respondeu Jungkook em uma voz tensa. — Mas sim, sou só eu. Deixe-me mostrar o celeiro.

Ele partiu em direção ao caminho ao lado da casa que levava à estrutura oca e, quanto mais perto ele chegava, mais alto seu coração batia nos ouvidos.

Seus pés vacilaram no terreno rochoso, e ele parou para se firmar, bem como seu pulso acelerado. Foda-se, o que diabos havia de errado com ele?

Jungkook virou-se para esperar por ele enquanto seu passo instável se tornava mais pronunciado.

— Não é uma ferida militar, eu sei disso agora — comentou Jungkook, olhando para a perna. — É uma nova lesão? Você precisa de alguma...

— Não, senhor — Jimin disse, incapaz de impedir que a formalidade deslizasse de sua boca. — Machuquei alguns anos atrás.

— História longa? — Jungkook respondeu com um toque de sorriso, e Jimin assentiu.

— Acho que somos um par — murmurou Jungkook quando abriu a porta enferrujada do celeiro e pegou uma lanterna pendurada dentro de um gancho. — Só estive aqui uma vez, e isso foi útil.

Quando ele balançou a luz ao redor do espaço, o pulso de Jimin se acalmou e ele percebeu o quão ridículo ele estava sendo. Era simplesmente um celeiro que já havia abrigado animais. O que a senhora da loja de rosquinhas disse? Dois cavalos, ela pensou, e talvez algumas galinhas. Quando a luz refletiu na extremidade, ele notou as paredes enegrecidas. Obviamente carbonizada pelo fogo, que havia criado um buraco não apenas no telhado, mas em um lado inteiro da estrutura.

Ele engoliu em seco. — Quando você comprou o local, eles disseram o que aconteceu com ele?

— Só sei que houve um incêndio na década de 1940 e alguns cavalos morreram — respondeu ele, seu olhar voltando para ele.

Enquanto se moviam pelo espaço junto com a luz como guia, ele notou uma cama velha no canto da sala onde um trabalhador do rancho poderia ter dormido.

— Você acredita em fantasmas? — Jungkook perguntou distraidamente. Ele estudou a parede enegrecida enquanto a lanterna tremia instável em seus dedos trêmulos. — Ouvi algumas crianças andando de bicicleta na outra noite, desafiando uns aos outros para se aproximarem.

— Não. — Ele levantou os ombros, recusando-se a ser pego em alguma superstição boba. Ele fez a mesma merda quando criança. — Mas acredito que quem possuía este lugar originalmente gostaria que ele fosse restaurado à sua antiga glória.

Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Jungkook, o primeiro que ele viu do homem, e sentiu mechas de calor preencherem alguns dos lugares solitários em seu peito. — E você estaria disposto a fazer isso?

Ele fez todos os tipos de trabalhos quando um jovem adulto, da construção ao encanamento e à manutenção de carros - e ele era muito bom na maior parte disso. Seu avô, sem dúvida, gostaria que ele continuasse os trabalhos.

Ele não queria parecer exagerado, mas não conseguia esmagar as raízes do otimismo plantando um jardim raso, porque de repente ele queria reparar esse celeiro mais do que qualquer coisa. Pelo menos isso lhe daria um senso de propósito. Rotina. Orgulho. Algo que ele precisava desesperadamente.

— Eu certamente posso dar o meu melhor — Ele respondeu, combinando seu sorriso.

Jungkook estendeu a mão. — Então você conseguiu um emprego e um lugar para descansar a cabeça à noite.

De luz solar e poeira estelarOnde histórias criam vida. Descubra agora