9 - Coragem

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-- Vista algo atraente, querida. Marília volta hoje, de acordo com Ally, e não quero que ela desista do casamento. -- Maraisa sorriu internamente pensando na hipótese, mas logo lembrou que se não casasse com Marília seria com outra pessoa. 

Dois dias haviam se passado desde que Marília partira e Maraisa nunca se viu tão feliz depois que soube que seu ex-namorado a enganava. Não que ela tivesse repulsa ou algo assim por Marília, ela apenas não conseguia encarar o fato de que se casariam. Teria passado dias conversando com a moça do rio, mas não suportava dez minutos ao lado de sua noiva. Eram a mesma pessoa, mas na primeira delas não havia o peso de um casamento. 

-- Você sabe que após o casamento terão que se mudar, não é? -- Maraisa perguntou. -- Só está aqui para confirmar de que Marília não fará nada comigo antes do casamento, mas pelas tradições vocês não deveriam morar conosco. -- Almira a olhou séria. 

-- A casa é enorme... mas eu sei. Vou pedir à Marília para comprar uma casa aqui pela cidade para mim. 

-- Marília não é seu banco. -- Maraisa alegou irritada. 

-- Que bom que pensa assim, pelo menos sorrirá quando te parabenizarem pelo casamento, assim mostra não ser por interesse. 

-- Por que fazem isso? Só nos povoados as moças têm idade para casar. Aqui a maioria é livre para decidir com quem e quando se casar. 

-- Estamos fazendo isso pelo seu bem, filha. 

-- Meu bem? Eu só aceitei essa droga de casamento porque poderia ser algum tarado, grosso, bruto e nojento. Se você não me ameaçasse eu não teria aceitado me casar com Marília. Eu não a amo! 

-- Ela te proporcionará uma vida de rainha. Depois que essa sua fase de sonhadora apaixonada acabar e você amadurecer você me agradecerá pelo que estou fazendo. -- Maraisa bufou. 

-- Onde está papai? -- Decidiu mudar de assunto para não se irritar mais. 

-- Com o antigo administrador. 

-- Jerry? 

-- Sim. Eles parecem ter assuntos intermináveis. -- A mulher disse rindo satisfeita. 

-- Isa? -- A voz de Ally preencheu o grande salão. 

-- Eu vou passear no jardim para que fiquem à vontade. Com licença. -- Almira disse antes de se retirar. 

-- Rosália fez uns biscoitos deliciosos e roubei alguns para nós. -- Ela disse revelando a caixinha de biscoitos em suas mãos. A risadinha de Maraisa foi adorável. 

-- Você é maluca. Senta aqui, quero provar. -- Falou animada. 

Nesses dois dias de ausência de Marília, Ally e Maraisa ficaram bem próximas, pois passavam o dia conversando e rindo de coisas aleatórias. Maraisa se sentia bem à vontade com a baixinha e sentia que podia confiar nela. 

-- Hey, não coma tudo. Trouxe para nós duas. -- Ally reclamou, vendo Maraisa devorar os biscoitos. 

-- Desculpe. -- Disse com a boca cheia, usando sua mão direita tampar a boca. Terminou de comer e continuou. -- Eu sou viciada por qualquer coisa doce. 

-- Marília também. Se matarão para ver quem fica com os doces então. -- Disse e Maraisa parou de sorrir na hora. O simples escutar do nome de sua noiva a trazia a sua realidade. -- Não deveria ficar tão chateada por se casar com ela. Ela é maravilhosa e te tratará como uma rainha. 

-- Já me disseram isso, mas... -- Suspirou. -- Eu não a amo. 

-- Isa... -- Ally foi interrompida pelo barulho de algo se quebrando. -- Acho que Marília chegou. 

-- Como sabe? 

-- Tem coisas sendo quebradas dentro da biblioteca. Só pode ser ela. 

-- Por que ela quebraria coisas lá dentro? 

-- Quer ir descobrir? -- Maraisa gostaria de dizer que não, que não queria correr o risco, mas sua curiosidade falou mais alto. Se levantou e acenou para Ally, para então seguir para a biblioteca. Ally já havia lhe apresentado toda a casa, então não teria problemas em achar nada por ali. 

-- Marília? -- Chamou sutilmente após deixar três batidas na porta. -- Posso entrar? 

-- Não acho... que seja uma boa ideia, Maraisa. -- Pelo tom de voz, Maraisa percebeu que Marília chorava e, sem entender bem o que lhe deu, abriu a porta mesmo assim.  Se deparou com vasos quebrados e livros jogados para todos os lados, mas o que lhe chamou a atenção foi a loira debruçada sobre sua mesa, apoiada em seus punhos. Marília ergueu a cabeça ao ouvir a porta sendo fechada e se deparou com Maraisa. A menor percebeu os olhos inchados, as bochechas avermelhadas e lágrimas na face de Marília. 

-- O que houve? -- Perguntou se aproximando. 

-- Algo no trabalho. Desculpe, não deveria me ver assim. -- Disse enxugando suas próprias lágrimas. -- Como está? Já se acostumou com a casa? -- Forçou um sorriso. 

-- Sim, mas não vim para falarmos de mim. O que houve com você? Por que chorava? -- Perguntou, agora já de frente para sua noiva. 

-- Foi pela pequena batalha que tivemos. -- Confessou. 

-- Perderam? 

-- Não a batalha. -- Maraisa franziu o cenho. 

-- Como assim? 

-- Dois de meus homens morreram. Eles eram... eram boas pessoas. -- Disse em um fio de voz. -- Eles não deveriam... Foi tudo minha... a culpa foi... -- Soluços começaram a escapar de Marília, inevitavelmente. -- Eu não pude fazer nada para ajudá-los, Maraisa. Absolutamente nada. -- Maraisa sentiu seu coração se apertar ao ver a fragilidade da garota em relação a isso. 

-- Hey... -- Tomou hesitante as mãos de Marília. -- A culpa não foi sua. Você não pode levar todos os seus homens nas costas. Eles sabiam o que poderia acontecer quando se alistaram. 

-- Mas eles m-morreram para salvar a minha vida. -- Marília disse aos prantos. Maraisa não resistiu e puxou Marília para seu colo, começando um carinho leve em seus cabelos, no intuito de acalmá-la. 

-- Eles estavam cientes disso e se o fizeram era porque acreditavam em você como líder. -- Marília levantou seu olhar para Maraisa, quem nesse momento só queria que Marília parasse de chorar. 

-- V-você acha? -- Maraisa deu um leve sorriso e assentiu. 

-- Claro que sim. -- E depois disso nada mais disseram. Ficaram na mesma posição por alguns minutos, Maraisa acariciando os cabelos de Marília enquanto a loira se permitia chorar no colo de sua noiva. 

-- Marília? -- algumas batidas na porta foram ouvidas e um baixo "pode entrar" de Marília permitiu a entrada de Luísa. -- Desculpe interromper. Só vim perguntar se quer que eu vá anunciar à família deles sobre... Você sabe. -- Luísa odiava isso tudo. Sabia que Marília ficava arrasada sempre que algum deles morria. Marília sempre negava e sempre dizia que ela mesma iria anunciar à família. Se sentia na obrigação de fazer isso. 

-- Não. -- Marília negou, levemente mais calma. -- Eu mesma vou. É o mínimo que posso... -- Sua garganta se fechou e mais lágrimas desceram de seus olhos. 

-- Você não vai à lugar nenhum. -- Maraisa, em um golpe de coragem, disse de pronto. -- Pode ir avisá-los, Luísa. Digo, se não for incomodo. 

-- De maneira alguma. -- Luisa respondeu. 

-- Mas eu... 

-- Mas nada. Você está exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. – Maraisa falou. -- Então você vai deitar no meu colo e eu vou continuar fazendo carinho em você até que se acalme. Depois você vai subir e tomar um banho para ir comer algo e depois descansar. -- Maraisa não sabia de onde tinha vindo isso, só sentiu necessidade de proteger Marília. 

-- Tudo bem. -- Marília disse deitando sua cabeça no colo da mais nova novamente. Luísa sorriu com a cena. Essa garota definitivamente faria bem à Marília e ver isso confortou seu coração. 

-- Ok. Com licença. -- Luísa disse, deixando ambas à sós novamente. Maraisa continuou sua carícia e minutos depois escutou o leve ressonar da loira, percebendo que ela tinha caído no sono finalmente.

Over the Rainbow - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora