Over the Rainbow - Malila

13 - Tradição

Como de costume em todas as festas de membros do exército e de famílias nobres, a comemoração perdurara longas horas. Marília estava sentada na maior cadeira no lugar, dando destaque a ela por ser a noiva. Maraisa se sentava em seu colo de maneira comportada, nada de desrespeito, apenas tradição. Diziam as lendas que o casal que se sentasse naquela cadeira seria feliz por toda a eternidade. Alguns casais se sentavam ali no começo, com intuito de prolongar o prazo da relação deles, se possível, por toda a eternidade de acordo com a lenda. Com o passar das décadas as pessoas transformaram tal crença em um costume entre eles. 

Os braços de Maraisa enlaçavam o pescoço de Marília e não havia sido por tradição. A morena apenas decidiu que assim ambas ficariam mais confortáveis. 

-- Está cansada? -- Era a quinta vez que Marília perguntava isso à Maraisa. Percebia os olhos caídos, vermelhos e que sua esposa bocejava de cinco em cinco minutos. A mais nova realmente estava exausta, só queria retirar seu vestido, tomar um longo banho e desmaiar, mas o fato de essa noite ser, em especial, sua noite de núpcias, a estava fazendo enrolar ao máximo Marília, porém o cansaço não lhe permitiu mentir pela quinta vez consecutiva. 

-- Sim. -- Respondeu em um sussurro, se permitindo coçar os olhos. Marília apenas assentiu e deu dois tapinhas em seu quadril. Maraisa entendeu e logo se levantou, fazendo todos gritarem em animação. 

-- O casal vai consumar o casamento. -- Um dos homens ali gritou em animação pelas duas. 

-- Só cale a boca, Marone. -- Marília disse para seu amigo, que apesar de ser meio idiota e desligado, era um bom homem. -- Tenham uma boa noite. -- E, sem dizer mais nada, segurou na delicada mão de sua esposa, a guiando por entre os corredores do lugar até o quarto de ambas, que ficava na parte de cima da imensa casa, que Maraisa mais considerava mansão. 

-- Bem, eu vou... tomar um banho. -- Maraisa disse e Marília assentiu, vendo a mais nova pegar algo em seu guarda-roupa e desaparecer no banheiro. Sim, os pertences de Maraisa já haviam sido transportados para o quarto de Marília. Isso era tradição por lá também. Marília caminhou até a enorme janela e levantou uma das enormes cortinas para espiar lá fora. 

Os barulhos que se faziam no salão principal, lá embaixo, podiam ser ouvidos dali e a festa provavelmente duraria a noite inteira. Marília admirou a vista do céu e internamente pediu forças para Deus para lhe guiar pelo caminho correto. - Sim, apesar de não frequentar a igreja, Marília acreditava no mesmo e tinha muita fé nele. 

Ficou, sabe-se lá quantos minutos, olhando para o céu. Decidiu sentar-se na beira de sua cama e retirar seus saltos. Escolheu alguma roupa em seus pertences e já as deixou preparadas para que quando Maraisa saísse ela pudesse entrar em seguida para livrar-se de seu vestido e tomar seu banho. 

Foi o barulho da trava da porta que fez Marília olhar rapidamente e quase se engasgou ao constatar que sua esposa usava uma camisola de seda branca, bem curta... E só... Nada mais cobria seu corpo. 

A mais velha se levantou, ainda sem reação, e caminhou até Maraisa lentamente. A mais nova lhe olhava assustada e sua respiração estava alterada devido às batidas descompassadas de seu coração. 

-- Vou tomar um banho. -- Marília sussurrou e respirou fundo antes de entrar no banheiro. 

Maraisa respirou aliviada e se sentou na cama. Lembrou do que sua mãe lhe dissera e obedeceu, tratando de se sentar de uma maneira sensual na cama -- A própria mãe dela a fez repetir a posição que havia feito para se certificar de que não estragaria as coisas. -- e subiu sua camisola levemente, de maneira que deixava suas coxas mais à mostra. Queria chorar ou fingir que havia adormecido, mas dizia para si mesma que mais dia, menos dia, isso aconteceria. 

Pediu internamente mil vezes que não doesse, e que Marília fosse gentil porque era o mínimo que merecia, havia sido obediente até ali, não custava que o destino lhe ajudasse um pouco fazendo sua esposa ser carinhosa. 

-- Eu não consigo compreender os seus planos, meu Deus. -- Sussurrou baixinho de olhos fechados. -- Mas vou confiar em ti, mesmo sem entender. -- Fazia uma prece rápida. -- Só por favor não me desampare. Por favor, por favor... Que além do arco-íris haja algo melhor do que isso. 

Depois disso pensou em Hugo, que mesmo estando apaixonada por ele jamais havia pensado em praticar tais atos com o mesmo. Não até o casamento pelo menos, e, como isso estava longe, sequer pintava a ideia dos dois juntos nos três meses de namoro. Mesmo quando ele se mostrava visivelmente ansioso para isso. 

Saiu de seus devaneios quando escutou a trava da porta do banheiro e seu coração voltou a bater feito louco. Suas mãos suavam e suas pernas tremiam e não era de um jeito bom. 

Marília a analisou de longe, deixando seu olhar percorrer sua esposa por longos segundos. Maraisa não tinha visto aquele olhar em Marília ainda e ignorou o fato de que mordeu o próprio lábio ao vê-la vestindo apenas um baby doll curto, que deixava livre suas coxas e marcava suas voluptuosas curvas. 

Marília respirou fundo e se aproximou, se sentando na cama e se inclinando para apagar o abajur. O silêncio era tudo o que ambas ouviam, até que o barulho de Marília se acercando de Maraisa na cama se fez presente. Maraisa fechou os olhos em total desespero, repetindo para si que Marília era uma boa mulher, e claro, muito linda. 

-- Eu sei que você odiou o fator principal do dia, no caso, ter se tornado minha esposa. -- A voz rouca foi apenas um sussurro. -- Mas espero que pelo menos a festa tenha lhe agradado. Ally disse que lilás é sua cor preferida e por isso mandei colocar na decoração. -- Confessou. 

-- Foi tudo muito... lindo. -- Maraisa disse serena, tentando não transpassar desespero em seu tom de voz. O fato da respiração de Marília estar batendo em seu rosto não ajudava muito. 

-- Ótimo! -- Disse a loira, respirando fundo logo em seguida. Maraisa fez o que sua mãe disse e passou o dedo indicador vagarosamente sobre a clavícula visivelmente exposta de sua esposa. Não podia negar que sua pela era macia e a mulher era sensual. 

Maraisa pôde ouvir um longo suspiro de Marília e percebeu seus dedos se apertarem no colchão. Um silêncio perturbador invadiu o quarto logo depois. A respiração de Marília era tudo o que conseguia ouvir. Sentiu o exato momento onde sua esposa se inclinou, mas, para sua surpresa, lhe deu um beijo longo no rosto, antes de se afastar. 

-- Tenha uma boa noite, Mara. -- Sussurrou lentamente. -- E lembre-se: Eu só quero te ver feliz. -- E assim se deitou e se cobriu, se virando para o outro lado sem dizer mais nada