23 - Destrato

322 65 42
                                    

Maraisa abriu os olhos lentamente antes de piscar várias vezes. Encontrou o par de olhos claros lhe encarando com preocupação e só então se lembrou do que havia acontecido. Se levantou às pressas, percebendo que estava no quarto de Marília, ou no delas, como Marília costumava chamar. 

-- Hey... não se levante assim, você pode se sentir tonta. -- Marília disse com doçura na voz. Deu sorte de todas as grandes festas ocorrerem no salão principal de sua casa, porque assim pôde levar Maraisa rapidamente para o andar de cima e acomodá-la rapidamente. 

-- Vou te fazer uma pergunta e quero que me responda com toda a sinceridade. -- Maraisa falou notoriamente alterada. 

-- Pois bem. Faça. -- Marília disse, curiosa. 

-- Você ajudou minha mãe a armar contra Hugo e eu? -- Marília arqueou uma sobrancelha em total confusão. 

-- Como? 

-- Não se faça de sonsa! -- Maraisa gritou caminhando em voltas pelo quarto. Marília a alcançou e segurou seu braço delicadamente. 

-- Não estou realmente entendendo. -- Falou e sentiu Maraisa puxar bruscamente seu braço do toque de suas mãos. 

-- Então deixa eu perguntar melhor. Há quanto tempo vem me querendo? Há quanto tempo tem vontade de me beijar? -- Marília corou. Não queria falar a verdade, seria embaraçoso, mas jamais mentiria para Maraisa. 

-- Hm, desde...a-alguns meses antes de nos casar. -- Confessou cabisbaixa. 

-- E achou que eu não descobriria seu jogo sujo com minha mãe para fazer eu me casar com você? -- Perguntou aos gritos. Marília não estava conseguindo entender o que sua esposa estava tentando dizer. 

-- Mara... -- Marília foi calada pela mão de Maraisa acertando em cheio seu rosto. Levou a mão ao rosto mais por surpresa do que por dor, apesar de Maraisa ter um tapa realmente ardido. 

-- Nunca mais me chame assim! -- Impôs. -- Eu tenho tremendo nojo de você. Não pense que seu dinheiro possa ter comprado meus sentimentos, porque não, Marília, não comprou. 

-- Você ao menos pode me explicar o que... 

-- Basta! -- Maraisa gritou. -- Para de se fingir de vítima aqui, meu Deus. -- Pediu. Seu peito inflava e desinflava rapidamente. -- Como fui idiota a tal ponto? Claro que acreditei que foi uma coincidência você aparecer limpando as minhas lágrimas assim que minha mãe me contou a pior das mentiras e no dia seguinte apareceu em casa pedindo a minha mão. -- Disse em ironia. 

-- Maraisa, já chega! -- Marília falou um pouco mais alto. -- Eu não sei de que merda você está falando, mas eu não tentei te comprar jamais. -- Falou irritada. -- E tem mais, você me pediu para casar com você, não o contrário. 

-- Porque minha mãe conhece o quão idiota posso ser. -- Contestou. -- Sou patética. -- Disse chorando. 

-- Não, você não é. -- Marília a corrigiu, mas Maraisa a olhou feio novamente. 

-- Pare de agir como esposa perfeita porque seu joguinho já foi descoberto. Essa boa pose de ser perfeita, de me fazer sentir segura e até mesmo atraída por você acabou. Eu não ficaria com você nem por todo o dinheiro do mundo. -- Cuspiu as palavras. -- Só porque você é lésbica acha que todo mundo têm o mesmo tipo de atração que você? Acha que só porque é rica todas as garotas da cidade vão te desejar, mas adivinha só? Eu tenho repulsa, asco por você. Fui clara? Agora com licença. -- Marília até tentaria ir atrás dela, mas não podia negar que suas palavras a feriram de um jeito profundo. Não havia feito nada para merecer tamanho destrato, mas no fundo só ouviu da boca de Maraisa o que sempre soube: Ninguém jamais, em sã consciência, ficaria com ela por sentir algo. E rendida a esse pensamento foi para o banheiro tomar um banho e talvez, no secreto daquelas paredes, chorar. 

[...] 

-- Onde está a mamãe? -- Maraisa gritou ao chegar em frente à casa onde Marília lhes havia deixado. Havia pedido para um dos guardas lhe levar ali devido ao horário noturno. 

-- Olá, filha! -- Seu pai disse sorrindo, mas perdeu o ânimo ao ver que sua filha chorava e parecia irritada. -- Está lá dentro. -- Disse a localização da mulher. 

-- Você não tem nada a ver com isso, não é? -- Perguntou para seu pai, quem entortou a sobrancelha em confusão. 

-- Com isso o quê? 

-- Por Deus, o que são esses gritos? -- Almira saiu da casa, confusa pela gritaria. 

-- Como pôde, mãe? -- Perguntou ainda chorando. -- Eu estava apaixonada por ele. -- Confessou em um sussurro. 

-- Querida, por Deus, do que está falando? -- Fingiu confusão. 

-- Pode tirar sua máscara. Encontrei a Elisabeth ou seria... Lindsay? -- Os olhos de Almira se arregalaram e a mulher percebeu que não teria outra escolha senão dizer a verdade. 

-- Oh por Deus. Eram apaixonados, mas viveriam aonde? Em um chiqueiro qualquer? -- Perguntou com desdém. -- Como sustentariam meus netos? Com restos de ração e com leite de vaca? Você deveria me agradecer. Eu te fiz um favor. -- Completou cruzando seus braços abaixo do peito. 

-- O que está acontecendo aqui? -- Marcos perguntou completamente alheio aos acontecimentos. 

-- Além do mais vocês nem o amava. Amor e paixão são duas coisas bem diferentes. -- Resolveu ignorar a pergunta do marido apenas para dar a cartada final. -- E mais, desconfio até dessa paixão. Você só estava encantada por ele. -- Marcos olhou confuso para ambas. 

-- Sua querida esposa se uniu com Marília para bolarem um plano ridículo. -- Almira franziu o cenho ao ouvir o nome de Marília, mas não entendeu. 

Maraisa decidiu contar tudo para seu pai e o homem viu a cena com horror nos olhos. Como Almira chegara tão longe? Decidiu partir da casa naquela mesma noite, voltando para sua casa no vilarejo. Almira teve que o seguir, completamente contrariada e Marcos deixou claro que a partir de agora as decisões tomadas seriam todas única e exclusivamente dele. 

No caminho de volta para casa Maraisa estava magoada, triste. Como, em milhões de anos, imaginaria que sua mãe e sua esposa pudessem se unir para lhe atingir de tal forma? 

Estava arrasada, tinha certeza que nada mais sentia por Hugo, sabia admitir que com o passar dos dias lembrava dele cada vez menos, mas vacilou ao sentir a enxurrada de informações caindo em seu colo. Porém, uma coisa era incontestável: Ao chegar em casa acabaria com aquele casamento de uma vez por todas.

Over the Rainbow - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora