14 - Leis do casamento

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O barulho dos pássaros cantando e o se mexer de outra pessoa na cama fez com que Maraisa abrisse os olhos rapidamente. Avistou uma Marília com parte dos cabelos jogados no rosto e logo se lembrou de que havia se casado no dia anterior. Se virou e olhou no relógio, constatando ser sete e meia da manhã. 

Por que acordara tão cedo não soube explicar. Voltou a encarar Marília e não levou mais que alguns segundos para Maraisa reparar o quão linda sua esposa realmente era. Se sentia aliviada por Marília tê-la deixado dormir noite passada e essa foi só mais uma das coisas que Marília havia feito para provar à Maraisa que podia confiar nela. 

Decidiu se levantar da cama sem fazer barulho e então trocou de roupa ali mesmo, percebendo que Marília não acordaria naquele exato momento. Escovou os dentes e os cabelos rapidamente e saiu do quarto na ponta dos pés, encostando a porta com o maior dos cuidados. Caminhou lentamente pelos corredores do lugar e, ao entrar na cozinha, se deparou com dois rapazes desconhecidos para ela. Deu graças por ter trocado de roupa e não saído naquela camisola pela casa, até porque tinha homens que moravam ali, seria um tanto estúpido sair em trajes inapropriados do quarto. 

-- Bom dia, Senhora Pereira-Mendonça. -- Um dos rapazes a cumprimentou. Queria entortar a boca perante o nome, mas não podia negar que seus nomes juntos soavam um tanto bonito demais. 

-- Bom dia, senhores. -- Ela disse, se sentando em uma das cadeiras do local. Não tomavam café ali, mas tendo em vista que todo o resto da casa, incluindo salas de estar, de jantar, e salão principal, estavam um desastre devido à festa do dia anterior, se sentou ali mesmo. 

-- Uuh, olha só quem acordou cedo. -- A voz de Rosália preencheu toda a cozinha. A mulher parecia estar de bom humor. -- Como está minha menina? Ainda dorme? -- Maraisa sorriu e assentiu. 

-- Sim. Eu não quis acordá-la, parecia cansada ontem. 

-- Uuh, eu posso mesmo imaginar. -- A gargalhada da mulher se prolongou ali. -- Mas coma, precisa repor as energias. -- Falou, estendendo um maravilhoso bolo de chocolate para a menina.

Maraisa franziu o cenho, mas logo se lembrou do que todos naquela cidade pensavam que Marília e ela haviam feito noite passada. 

-- É... obrigada. -- Disse pegando um pedaço e começando a comer. 

Passou seu café da manhã inteiro conversando com Rosália, a mulher demonstrava ser muito atenciosa e Maraisa logo fizera amizade com a mesma. Assim que se levantou para ajudar Rosália a retirar a mesa escutou passos ecoarem no assoalho de madeira. Olhou rapidamente para ver uma Marília estacada no lugar, olhando paralisada para os rapazes ali presentes. 

-- Bom dia, meu amor. -- Marília disse enlaçando os braços no corpo de Maraisa, a abraçando por trás. Maraisa preferiu ignorar o arrepio que percorreu sua espinha ao sentir o delicado beijo em seu pescoço. 

-- B-bom dia. -- Respondeu, sentindo Marília soltar de seu aperto. Suspeitou que ter Marília fazendo tal coisa tinha algo a ver com os dois paspalhos ali parados, que analisaram meticulosamente o ato de sua esposa. 

-- O que tem para comer? Estou faminta, Rosália. -- Perguntou, caminhando até a mulher e lhe dando um beijo no rosto. -- Ontem só nos serviram bobeiras. 

-- Cadê meu bom dia? -- Perguntou acertando o pano de prato na garota. -- Dormiu comigo por acaso? -- A risada de Marília fez Maraisa sorrir involuntariamente. 

-- Desculpe. -- Pediu sorrindo como uma criança que aprontou algo. -- Bom dia, flor do meu jardim. 

-- Agora sim. -- A mulher falou sorrindo satisfeita. -- Vou pegar mais bolo. Sente-se aí. -- E assim Marília o fez. 

-- Então, senhores... -- Marília disse limpando a garganta. -- O que fazem aqui tão cedo? 

-- Protocolo, Senhora. Apenas protocolo. -- Marília assentiu sem dizer mais nada. Assim que terminou de comer se retirou do lugar, segurando a mão de sua esposa, quem achou estranho o toque repentino, mas não protestou, nem poderia. 

-- Para onde vamos? -- Maraisa perguntou. 

-- Para um lugar mais tranquilo. -- O corpo de Maraisa enrijeceu pensando que Marília poderia ter mudado de ideia, mas a loira tratou de se explicar. -- Apenas conversar. -- Maraisa assentiu e a acompanhou. Assim que chegaram no jardim Marília se sentou ao pé de uma árvore e Maraisa olhou para o banquinho ali perto, mas preferiu acompanhar a esposa, se sentando ao seu lado na grama. 

-- É algo... sério? 

-- Digamos que... mais ou menos. -- Disse dando um riso fraco. -- Eu gostaria de te pedir um favor. 

-- Diga. 

-- Esses homens que estavam na cozinha, bem, eles vão meio nos seguir pelos primeiros meses de casamento no mínimo. -- Começou. -- E se eles descobrirem que, você sabe... não obedecemos às leis do casamento eles podem tirar meu posto de comandante por mentir diante de algo tão sério. A honestidade é algo a ser levado a sério em nosso trabalho e mesmo eu sendo a herdeira posso ser arrancada como líder a qualquer momento. 

-- E o favor seria...? -- Maraisa tinha uma ideia do que era, mas preferiu perguntar. 

-- Eu não gosto de mentiras, mas realmente amo o meu trabalho. -- Começou. -- Por isso peço que diante deles me trate como esposa. -- Pediu envergonhada. 

-- Com mãos dadas, abraços, beijos e tudo mais? -- Perguntou. 

-- A parte do beijo pode ser só selinho. Não precisamos de demonstrações mais íntimas do que isso. -- Falou sincera e Maraisa suspirou aliviada. Era melhor do que realmente ter que fazer isso sempre. -- Se não quiser eu posso dar um jeito, sei lá... Posso tentar... 

-- Tudo bem. -- Maraisa concordou rapidamente, a cortando de entrar em alguma espécie de crise e Marília assentiu mais tranquila. Aqueles homens poderiam destruir sua vida caso implicassem com o casamento delas. 

-- Obrigada. -- Sussurrou. -- Então... como foi sua noite? Dormiu bem? 

-- Sim. Estava bem cansada para ser sincera e sua cama foi como um sonífero para mim. -- Falou rindo. 

-- Nossa cama é realmente muito macia. Comprei ela exatamente por isso. Durmo igual um bebê. -- Respondeu rindo, corrigindo sutilmente sua esposa. 

-- Percebi. -- Disse risonha. -- Agora vamos, quero andar naquela corda. -- Maraisa disse, se levantando e puxando Marília consigo. -- Hoje pretendo ficar mais tempo nela. 

-- E se você cair eu prometo não rir. -- Marília respondeu rindo, levando um olhar de reprovação de Maraisa antes de começarem a andar. Percebeu que Maraisa não soltou sua mão e sorriu internamente, mesmo que não tenha sido por vontade própria. -- Brincadeira. Quis dizer que se você cair vou estar lá para te segurar.

Over the Rainbow - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora