-- Não preciso de ajuda para subir. -- Maraisa disse rindo. -- Sei montar a cavalo desde que tinha doze anos. -- Esse havia sido um dos motivos pelo qual havia se irritado com Hugo, dizer à sua verdadeira esposa que lhe ensinava a montar a cavalo era mais que uma ofensa, uma vez que ela montava muito melhor do que ele.
-- Ora; ora. Tenho uma esposa que não para de me surpreender. -- Marília disse rindo, vendo Maraisa já montada sobre o cavalo. Decidiu caminhar até seu cavalo e acariciar o mesmo, antes de subir nele.
-- Uma corrida de cem metros? -- Maraisa propôs balançando sua sobrancelha e sorrindo. Já estavam casadas havia pouco mais de um mês.
-- Não quero fazer feio na sua frente. -- Marília disse.
-- Está com medo, Mendonça? -- Provocou arqueando uma sobrancelha.
-- Talvez. -- Falou se inclinando para o lado e tocando os lábios na bochecha esquerda de Maraisa. -- Te vejo na chegada, mon amour. -- E deu partida, fazendo Maraisa a olhar incrédula e boquiaberta antes de começar a correr com seu cavalo logo atrás.
Maraisa até tentou, mas, pela vantagem de Marília, foi praticamente impossível ultrapassá-la.
-- Não vale. Você roubou! -- Maraisa disse descendo do cavalo e cruzando os braços de forma birrenta. Marília soltou uma gargalhada ao ver a cara de sua esposa.
-- Tem razão. Roubei. -- Confessou descendo de seu cavalo. -- Mas foi engraçado ver sua cara.
-- Pois eu não achei.
-- Claro que não, você não viu. -- Marília respondeu. -- Tudo bem, desculpe. -- Pediu ao ver que Maraisa não sorria.
-- Só se assumir que eu ganharia caso não tivesse roubado.
-- Bem, isso eu não posso dizer, porque não tenho certeza.
-- Vamos correr de novo. -- Maraisa propôs e Marília respirou fundo.
-- Tenho uma ideia melhor. -- E sem dizer mais nada estendeu a mão no ar para Maraisa subir em seu próprio cavalo.
-- Por que no seu? -- Maraisa perguntou arqueando uma sobrancelha.
-- Suba e descubra. -- Maraisa, por ser curiosa demais, não resistiu e subiu no cavalo de Marília. Marília caminhou até o cavalo de Maraisa e o amarrou ali. -- Já já alguém vem te buscar, amigo. Vou providenciar isso. -- Falou para o cavalo e Maraisa sorriu ao ver que sua esposa se importava com o bem-estar do animal.
-- E então? -- Maraisa perguntou animada, mas sentiu seu corpo se enrijecer ao ver Marília subir no mesmo cavalo que ela.
-- Você me disse no dia em que nos conhecemos que tinha vontade de voar em um zepelim. -- Marília disse, enlaçando seus braços pela cintura de Maraisa. -- É... -- Disse um pouco constrangida. -- Você guia ou...
-- Pode guiar. -- Maraisa disse, deixando Marília segurar as rédeas do animal. Sentia-se extremamente nervosa com a respiração de Marília tocando-lhe o pé do ouvido. Sentiu Marília apoiar o queixo em seu ombro e fechou os olhos tentando controlar a própria respiração. -- Então vamos voar hoje?
-- Exatamente, Senhora Pereira-Mendonça. -- A voz rouca disse em meio a um riso. O cheiro do shampoo de Maraisa tão próximo de si fez Marília suspirar bobamente.
-- Acho que gosto dos nossos sobrenomes juntos. -- Maraisa confessou um tanto mais nervosa do que deveria estar para um passeio normal a cavalo.
-- Gosta, é? -- Em seu mais profundo interior Maraisa assumia para si mesma que a voz de Marília era demasiadamente sexy. Seus olhos se desviaram para as mãos de Marília segurando as rédeas e Maraisa mordeu o próprio lábio diante do pensamento que teve. Não havia ninguém as vigiando ali, não precisava de teatro, mas o que Maraisa queria fazer não seria teatro e esse era o problema, porque não tinha uma desculpa para fazê-lo. Fechando os olhos rapidamente para tomar coragem, os voltou a abrir apenas para deslizar lentamente seus dedos finos pelos braços de Marília, até alcançar os dedos da outra.
Olhou de relance para Marília e a viu sorrir. Então, percebendo que não fizera nada de errado, entrelaçou seus dedos nos de sua esposa, sentindo a suave mão acolher o aperto. Seguraram juntas as rédeas e foram o resto do caminho sem falar mais nada.
-- Pois bem. -- Marília disse aplicando um beijo lento no rosto de Maraisa. Não queria sair dali, mas não queria exceder nenhum limite. -- Chegamos. -- Decretou. Ia soltar do aperto de suas mãos, mas Maraisa a impediu.
-- Espera! -- Disse ao sentir Marília tentar soltar de sua mão. Não tinha o que falar, só não queria que Marília a soltasse.
-- Que foi?
-- É... Andar nesse negócio é seguro, não é? -- Disse a primeira coisa que lhe veio à mente. Se permitiu soltar seu peso sobre o corpo da mais velha. A risada de Marília ecoou pelos quatro ventos.
-- Está com medo, Pereira? -- Repetiu a pergunta que sua esposa lhe fizera minutos antes.
-- Talvez. -- Disse em meio a um risinho.
-- Eu jamais te colocaria em algum lugar que não fosse seguro para você. -- Marília disse abraçando o pequeno corpo contra si, antes de soltar das mãos de Maraisa e descer do cavalo.
-- Se eu morrer a culpa será toda sua. -- Maraisa disse descendo do cavalo. Marília o deixou com um de seus empregados foram caminhando até a frente do enorme zepelim. Seus olhos percorriam cada detalhe. -- Uau, é muito maior de perto. -- Constatou boquiaberta enquanto subiam a bordo.
-- E como diz o ditado: Para o alto e avante! -- Marília disse sorrindo.
E, enquanto o enorme transporte subia, Maraisa ria bobamente. Adorou o vento tocando seus cabelos daquela forma tão intensa, mas assim que chegaram lá em cima se arrependeu de não ter levado nenhum abrigo. Sentiu os braços de Marília rodearem sua cintura e permitiu deitar sua cabeça no peito da mais velha. Sentia frio ali em cima, mas o abraço de Marília fazia tudo ficar mais aquecido.
-- Eu adoro a paz que essa vista propõe. -- Marília confessou admirando toda a cidade abaixo delas. Maraisa desviou os olhos para Marília, ainda em seus braços.
-- Obrigada. -- Sussurrou e Marília sorriu sem mostrar os dentes.
-- Tudo o que te fizer feliz me fará também, então acho que quem tem que agradecer sou eu. -- Disse de modo terno. Viu o exato momento em que Maraisa desviou os olhos para seus lábios, prendendo a atenção por vários segundos ali. O momento foi interrompido por um longo suspiro de Maraisa, que logo em seguida voltou a apoiar a cabeça no peito da mais velha e a contemplar a vista de toda a cidade.
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Over the Rainbow - Malila
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Maraisa, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Hugo Vezzani, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Almira, deseja que a filha co...