Capítulo 3

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Consegui escrever mais duas frases. DUAS FRASES. This is not good. Duas frases em vinte minutos é horrível. E tenta adivinhar a causa da minha distração (pista: o palerma lindo sentado no outro lado do café).

Ele pega na chávena, eu reparo. Ele arranja a cadeira, eu reparo. Ele pega no telemóvel, eu reparo. Parece que cada tipo de barulho ou movimento que vem do lado dele me desperta os sentidos. Odeio. Eu só queria poder continuar a escrever em paz. Estava a ir tão bem.

É só um rapaz estúpido (que parece saído de uma revista, é importante salientar). Ele não devia reter tanto a minha atenção. Alguém me tire deste sofrimento! Não mereço isto!

Por isso, podes imaginar o meu alívio quando reparo num movimento a acontecer na mesa à minha frente, no barulho de uma cadeira a ser arrastada e na campainha da porta a tocar.

Agora que a distração se foi embora, é a minha oportunidade de me pôr a trabalhar again.

Isso ter-se-ia concretizado se eu não tivesse reparado num telemóvel e numa carteira em cima de uma mesa acabada de ser desocupada.

O palerma esqueceu-se das suas coisas!

Por isso, decido observar os outros clientes. Tem mais três mesas ocupadas para além da minha: uma ocupada por um trio de idosas (provavelmente, a contarem umas às outras as novas coscuvilhices), outra ocupada por uma senhora a trabalhar (suponho eu) no seu computador e a última por um casal de adolescentes (obrigada por me lembrarem que estou single).

Todas estas pessoas são completamente diferentes. Mas queres saber o que têm em comum?

Nenhuma reparou no mesmo que eu. Nenhuma se levantou e foi atrás do rapaz.

Será que se disser à Bia, ela leva ao rapaz?

- Bia, amor da minha vida, flor do meu coração ...

- O que é que queres, Teresa?

- Aquele rapaz deixou isto na mesa.

- Ok? E? O que queres que faça? Vai a traz dele e dá-lhe.

- O quê? Nem penses!

- Porquê? Assim é a tua oportunidade para ires falar com ele. Pode ser que ele se apaixone por ti. Amor à primeira vista.

- E eu quero que ele se apaixone por mim porque...?

- Sabes que eu reparei naqueles olhares que lhe estavas a dar. E, se não o queres, quero-o eu. Ele é lindo! Tu viste-o? Parecia um modelo, fogo!

Então, posso chegar à conclusão que este plano não foi um sucesso.

Vou ter que ser eu, não vou?

Why, world? Why would you do this to me?

Ok. Não te stresses. Só tens que te levantar, pegar nas coisas, sair para a rua e tentar chamar a atenção do rapaz. Não é complicado. O que pode acontecer de mal?

Vamos tentar não pensar nas figuras tristes que irei, com certeza, fazer quando chegar à beira dele. Já estou a imaginar: ele vira-se e eu vou ter uma branca, nada vai sair da minha boca fora e ele irá pensar que sou uma esquisita com problemas mentais que deveria sinceramente ir para um hospital psiquiátrico, o que, honestamente, é verdade.

Eu não consigo fazer isto. Sou tímida demais para isto. Falar com um estranho (um muito bonito, se o posso dizer) para lhe entregar algo que se esqueceu é fácil para as pessoas normais. A questão é que eu não sou normal. Eu sou a pessoa mais introvertida à face da terra. I can't do this.

Mas se não o fizer quem o fará?

Come on, girl. You got this.

E com isto, levanto-me da minha cadeira, pego rapidamente nos pertences esquecidos e faço um sprint porta fora.

Nem em física corria assim tão rápido, digo-te já. O rapaz deve andar a treinar para a maratona. Não é normal alguém andar assim tão rápido num curto espaço de tempo ou eu não estou mesmo em forma (e prefiro ser assim e feliz, do que em forma e em sofrimento).

Quando, finalmente, chego à beira dele, dou-lhe um toquezinho no ombro, o que o faz virar o corpo 180 graus, ficando de frente para mim.

Antes que ele pudesse tentar sequer perceber o que se passava, encosto as coisas ao seu peito.

- Acho que te esqueceste disto na pastelaria – digo-o, não sei como, sem a minha voz mostrar o quão nervosa estou – Desculpa ter de te incomodar.

Ainda lhe leva uns bons segundos até que, finalmente, assimila a situação

- Nada disso – abana a cabeça, enquanto pega nas suas coisas (não senti arrepios quando os dedos dele tocaram nos meus, que ideia). De seguida, dá-me um sorrisinho, o que me faz ter mais arrepios (stop it) – Obrigada por me teres trazido. Provavelmente, fiz-te perder tempo precioso. Desculpa - e dá-me outro sorriso (Aaaaahhhh).

Dava para modelo. Ele é ainda mais lindo de perto (como se fosse possível) e muito mais alto de que pensava. Fogo! O que lhe deram quando era criança? Adubo?

- Não custou nada – tento ser eu agora a pôr o sorriso bonitinho e simpático (como deves estar a suspeitar, deve ser exatamente o contrário, mas é o que temos).

- Eu estou com um bocado de pressa, por isso, tenho de ir. Mas, muito obrigado. A sério. Então ... vemo-nos por aí?

Vemo-nos por aí? Ele tem esperanças de me voltar a ver? Para de seres iludida, Teresa. Ele só estar a ser simpático.

- Ya – A sério? Ya? Estes anos todos a falar e estudar português e a primeira coisa que decides dizer como resposta é "Ya"? – Vemo-nos por aí, I guess.

E com isto, viramos as costas um ao outro e seguimos por caminhos opostos.

Agora apetece-me, e não estou a gozar, dar uns pulinhos de felicidade. CONSEGUI. Falei com o estranho sem parecer uma parva. Vou anotar este acontecimento no meu calendário. Este dia ficou para a história. Vamos deixar o embaraço da situação para quando estiver na cama preparada para dormir.

Quando chego à pastelaria, arrumo as minhas coisas na mochila e despeço-me da Bia. A aula da Ana está quase a acabar e com este pico de adrenalina que sinto duvido que consiga escrever algo mais. Vou, mas é, ter com ela ao centro desportivo. Pode ser que até faço um bocado de natação (sike).


Próximo capítulo...

Sweet Love (portuguese version)Onde histórias criam vida. Descubra agora