Capítulo 4

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Minha respiração fica agitada, e percebo que não consigo me mexer. Tento focar meu olhar no teto, lá em cima tem uma pintura exatamente igual da pintura de Michelangelo da Capela Sistina. Foi a única coisa boa que o miserável do Sandro Lambertini fez pro seu filho traumatizado, quando o trauma e as lembranças vem à tona olho para cima. Entretanto, a pressão do peito aumenta, desvio o olhar para o canto da parede, meu pior erro, então eu a vejo. Minha mãe, meu pesadelo, parada e me olhando. Lágrimas de sangue deslizavam pelo seu rosto, e usando a mesma roupa que foi morta.

Morta há anos, ainda convivo com as lembranças que voltam sem aviso prévio. Terapias, remédios, mais terapias e mais remédios não estão funcionando, mesmo que ficasse trancado no Hospital Psiquiátrico não mudaria o fato que eu sou completamente louco. Talvez, a minha única solução seja fazer Geraldo González sentir a mesma dor que a minha mãe sentiu.

Porém, o meu pior inimigo seja a minha própria consciência.

Olho para a pintura, e observo cada detalhe. Por mais que eu tente, não consigo, sinto as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Sinto o demônio aproximando-se, a sua presença é forte e sinistra, quando dei por mim já estava urinando na cama.

Ouço ela sorrir, filha da puta.

Sinto ela me tocando, seus dedos tocam no pé esquerdo e vem subindo até chegar na minha virilha. Fecho os olhos quando ela senta-se no meu colo, é tão real que sinto a quentura da sua vagina sobre o meu pênis.

— Para ...

Comecei a chorar silenciosamente, aos poucos os seus membros foram caindo. Eu sei que tudo isso que estou presenciando é uma grande mentira, formas, vozes e sangue são frutos da minha imaginação traumática.

Ouço a porta ser aberta, uma luz no fim do túnel.

— Zeus, irmão! — Reconheço a voz do Apollo, sinto a sua mão quente em meu rosto. — Respira, estou aqui meu irmão.

Aos poucos fui controlando os meus sentidos, Apollo liga o abajur. Vejo a preocupação estampada no seu rosto e sinto uma fragrância de perfume conhecida nas suas roupas. Finalmente o meu corpo sai na inércia, rapidamente sento-me no colchão molhado.

— Precisa ter uma dose mais alta no remédio.

Levanto-me e vou em direção ao banheiro, a minha aparência refletida no espelho é digna de pena. Através do espelho, vejo Apollo encostado na batente na porta com os braços cruzados. Ele é o único que sabe que os remédios não estão dando o efeito desejado, infelizmente.

— Preciso fazer terapias, novamente. Daqui a pouco, vai querer se matar.

Bufo

— Geraldo González, ainda vivo. Duvido. — Ligo a torneira — Só morrerei quando a sua cabeça rolar no chão. — Lavo o meu rosto três vezes e depois desligo a torneira — E você? Eu sei o seu envolvimento com a sua cunhada e não se preocupe, Eros vai demorar anos para descobrir esse caso, ele está se entupido novamente de cocaína e outras coisas.

— E espero que dessa vez, ele consiga.

— Preciso de vocês dois vivos, consegue ficar vivo por pelo menos dois anos?

— Não irei prometer nada.

E saiu do meu banheiro.

🔪

Lia os papéis enquanto conversava com o meu informante, Lennon Vandenberg. O holandês trabalha na minha organização desde quando tinha dezoito anos de idade, cresceu no mundo da prostituição por causa da sua mãe.

Famiglia Lambertini: A Escolha (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora