Capítulo 23

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PAULINA GONZÁLEZ / O CASAMENTO

Em frente ao espelho, lágrimas de dor e infelicidade deslizavam pelo meu rosto borrando a minha maquiagem. Dizem que o dia do casamento de uma mulher, é o momento mais importante da sua vida. Mas, esse casamento não era, e sim a minha sentença da minha morte, do meu filho e provavelmente de Diego, o coitado está preso no calabouço desde ontem. Ontem foi de muitas revelações, que até agora não estou querendo acreditar e me recuso a acreditar na tamanha crueldade que o Luiz fazia durante esses meses. A nossa família é um monstro, eu faço parte disso?

— Menina, a sua maquiagem. — Diz a costumeira limpando o meu rosto — Deveria derramar lágrimas de felicidade e não de tristeza.

Depois voltou a arrumar os últimos retoques do meu vestido, tenho que admitir, é lindo. É uma cópia fiel do vestido famoso da Grace Kelly, eu vi esse modelo na revista onde fazia o meu pré-natal. O meu cabelo está solto e ondulados que iriam até a minha cintura.

— Aposto que está feliz se casando com o José González, é um homem bastante bonito. — Diz a cabeleireira que estava dando os últimos retoques — Você é uma mulher sortuda.

Sortuda? A minha felicidade para mim vai além de casar novamente com outro membro González. Elas não perceberam ainda? Ou estão apenas fingindo? Eu sei que a cidade inteira pensa de nós, que somos uma família monstruosa e infelizes. Essas duas mulheres também participaram no meu primeiro casamento e quatro anos depois, novamente.

— Hum!

Ouço alguém bater na porta. Através do espelho vejo o desgraçado de Luiz, nem se abalou quando o seu segredinho imundo foi descoberto. Ele apenas riu e continuou. Ponho a mão sobre o meu estômago, estou enjoada.

Os gritos
Os gemidos
E a indiferença do José

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei ainda olhando através do espelho — Eu não irei fugir, mesmo que eu quisesse não tem como sair desse inferno.

— Mulheres saíam, por favor.

Educado? Ata.

As duas obedeceram igual um cachorro adestrado e saíram do quarto caladas, com as mãos juntas em frente ao corpo e com as cabeças abaixadas. Luiz fechou a porta atrás dele, e veio caminhando lentamente.

— Está bonita com este vestido — Luiz elogiou — José tem um ótimo gosto.

Virei para encará-lo, pego a barra do meu vestido extremamente pesado e vou em sua direção.

— O que você fez com o Diego foi algo imperdoável, não sente vergonha ou remorso disso?

— O meu único arrependimento é não ter feito isso antes. Se eu soubesse que seria tão fácil assim, o faria dele o meu amante desde aos seus quinze anos de idade

Dou uma bofetada em seu rosto, mesmo que ele não sinta nada por causa dessas luvas macias, bato novamente.

— Você é um ser desprezível. O que vai acontecer? Vai continuar?

Luiz toca na sua bochecha atingida.

— Sim, após o casamento você terá uma surpresa.

— Qual surpresa? — Perguntei angustiada.

Luiz chegou perto e sussurrou ao meu ouvido.

— Tem haver com a morte de uma certa pessoa e não se preocupa, não é o seu precioso Diego.

Fechei os meus punhos com tanta raiva, se não fosse as luvas brancas supostamente as minhas unhas iriam penetrar na minha carne.

— Saia daqui, Luiz, por favor. — Virei à frente do espelho — Saia.

Luiz deu um sorrisinho de deboche e saiu do quarto.

— Merda! — Agarrei o meu vestido — O nosso plano já era.

Faltava muito pouco para nós conseguirmos o que nós queríamos, obter a nossa liberdade. Nós fomos ingênuos pensando que nós sairíamos daqui em ileso. Mordo o meu lábio inferior. Seria esperança demais se alguém interrompesse esse casamento? Se algo acontecesse como nas novelas, eu seria eternamente grata por essa pessoa.

🥀

— Paulina González, você aceita José González como o seu legítimo esposo? — Tentei abrir a boca para responder a sua pergunta, mas eu não conseguia encontrar minha voz. Que estava presa, entalada na minha garganta que chegava até doer, e também o ódio inflamava dentro de mim.

Segurava com bastante força o buquê de flores.

Virei o pescoço e olhei para o meu filho, estava sentado no colo da Francisca. Eu vi o medo estampado nos seus olhos ingênuos, ainda pequeno, mas sabia o que se retratava a sua realidade. E eu nem percebi da aproximação do Geraldo, ele me deu um tapa que virei o rosto e encontrei o olhar do José, estava impaciente.

Com orgulho quebrado e a esperança destruída, finalmente respondi.

— Sim, eu aceito!

Ouço padre suspirar

— José González, você aceita Paulina González como a sua legítima esposa?

— Sim, eu aceito!

— Se alguém é contra a esse casório, fale agora ou cale-se para sempre.

Houve dez segundos de silêncio, entretanto, antes de ele finalizar o casamento. Sinto uma fisgada muito forte na minha perna que debrucei de dor, e logo após, houve uma explosão e depois tiros. No início, fiquei sem entender nada. Fiquei em transe, só saí no meu estado de inércia quando ouvi o choro dolorido de Enzo Gabriel.

— Enzo!

Com a dor se alastrando na minha perna, fui em sua direção. Mas fui impedida pelo José agarrando o meu braço com muita ignorância.

— Aonde você vai? — Perguntou sacando a sua arma na sua cintura.

Homens desconhecidos começaram a entrar, e eu reconheci um deles, Leôncio Hernández. Será que Deus ouviu as minhas orações por tantos anos? Então eles começaram a atirar dos bastardos, fazendo uma guerra civil.

Soltei o meu braço bruscamente do seu aperto.

— Vai se danar, seu filho da puta!

Francisca estava fazendo o seu corpo como escudo para protegê-lo, estava indo tudo bem quando ela foi atingida com um tiro na cabeça.

— NÃOOOOOOOOOOOO!

O seu corpo morto caiu sobre o meu filho que berrava bastante. Agarrei o vestido pesado e fui, tirei o seu corpo em cima do Enzo Gabriel. Ele estendeu os braços para mim.

— Mamãe.

Estava pronta para sair dali, senti outro tiro aceitar no meu ombro.

— MAMÃE.

Ignorei a dor e o sangue, peguei o meu filho. Levantei no chão, e fui caminhando lentamente, José estava ocupado demais atirando e matando alguns homens.

— Mamãe!

— - Calma, meu filho!

Enzo Gabriel apertou-lhe mais em mim. Infelizmente dei alguns passos e caí de joelho, o vestido e as dores estão impossibilitando a fuga.

— Me desculpa filho!

Um homem entrou em meu campo de visão, ele é alto e bastante bonito, estendeu a mão para mim. Estava usando luvas de couro.

— Está segura agora!

A sua voz é calma e doce.

— Salva o meu irmão, Diego.

Depois disso, não conseguia ver mais nada.


Famiglia Lambertini: A Escolha (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora