Capítulo 36 - Do outro Lado

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   Melissa estava sentada no sofá, apertava os dedos na tentativa inútil de manter a calma. A pequena Aurora estava assustada ao seu lado, analisando aos redores. Foi arrancada de casa de repente, sem ver a mãe, a babá Aziza. Homens grandes e medonhos surgiram de repente.

— Tia...

     A mulher encarou a menina com os olhos cheios de lágrimas, tremia, encolhida.

— Ficara tudo bem, querida. – abriu o braço para que se aproximasse. — Logo vamos para casa.

   Aurora se sentou em seu colo deitando a cabeça sobre seu peito.

   Como Melissa pode ter dito aquilo? Ela está claramente mentindo. Não faz a menor ideia de serão capazes de chegar à onde estão, nem ao menos sabe que lugar era aquele. E se tratando de Trevor, nunca mais veriam seus parentes. Mas, como diria a verdade para uma menininha de cinco anos?

— A Tasha vem? – perguntou chorosa.

— Não sei meu bem... – engoliu a saliva a seco. — Vamos esperar até que sua mãe possa nos ajudar.

   O silêncio se fez por alguns instantes.

— O homem alto, de cabelos brancos... – a menininha ergueu o olhar. — Ele vem?

    Melissa a fitou, acariciou as bochechas úmidas pelas lágrimas.

— Acho que sim minha querida... Não posso garantir.

   A menina acenou em silêncio. Eram tantas perguntas.

   Ela a ninou até que finalmente adormeceu. Os olhos de Melissa captavam cada movimento dos seguranças que andavam tanto dentro quanto fora da casa. Eram muitos homens, todos bem armados, com comunicadores. As câmeras de segurança estavam por todos os lados e não duvida que tenha nos banheiros também, afinal, não podem as perder de vista.

   E se pergunta qual o real plano de Trevor, além disso, porque confiar em Ayla?

   As horas foram passando e a tensão apenas aumentando. Cada pequeno caminhar naquela casa enorme era vigiado, nem mesmo pegar um copo de água Melissa conseguia beber sem que um dos homens aparecesse com a arma em suas costas. Estava com tanta raiva e medo ao mesmo tempo, mas não quer aparentar.

   Voltou a sala, entregou o copo para a menina que bebeu um pouco e voltou a sentar-se no sofá enrolada em uma coberta fina. Melissa escutou alguns dos homens conversarem, não exatamente o que falavam, mas suas vozes soavam pelos corredores.

   Eles começaram a aparecer, rodeando a sala, e claro que ficou atenta, instantes seguintes o telefone que estava na mesa de centro tocou. Sem demora atendeu.

— Alô?

— É melhor acalmar sua outra sobrinha, querido Arcanjo, ou as coisas sairão do controle.

  Melissa rapidamente encarou a câmera de segurança, negou veemente. Se Natasha estava com Trevor isso significava que sangue seria derramado. E pela situação que estavam, elas sofreriam as consequências.

    O silêncio perturbador da chamada foi interrompido pelos disparos de uma metralhadora, ecoando pelo telefone. O desespero de Melissa foi real, o pânico tomou sua face.

— NATASHA, NÃO! – gritou ela como se aquilo pudesse fazê-la parar.

  Os olhos arregalados da mulher encararam os homens que tinham as armas em mãos, logo para a pequena Aurora encolhida tapando os ouvidos após se assustar com o grito.

Ela sabe o que faz, não é mesmo, Melissa? – disse Trevor do outro lado. — Estava testando se era uma gravação.

   E sem conseguir responder, a chamada foi encerrada. Ela encarou o aparelho e logo a câmera de segurança. Aquilo não era bom, a qualquer momento ambas seriam fuziladas igualmente.

— Tia...

   Melissa fez apenas um sinal de silêncio. Começou a caminhar de um lado para o outro pensativa. Natasha pode ter piorado a situação delas. O que estava impedindo aqueles homens de simplesmente abrirem fogo?
   Um deles falou pelo comunicador e acenou para os demais saírem e rapidamente ficaram sozinhas na sala outra vez. Mel queria ter soltado os ombros e suspirado em alívio, mas, o fato deles terem ido embora não muda que ainda estão com um alvo na cabeça. Só não serão mortas ainda.

   O que Natasha estava fazendo? Como chegou tão depressa a Trevor? Será que sabe que a culpa de tudo aquilo é da sua desgraçada mãe?

   A noite chegou, e nada de novo aconteceu. Melissa se viu obrigada a socializar minimamente com aqueles brutamontes, pois não deixaria sua sobrinha passar fome. Por mais que isso seja controverso, afinal, matá-las de fome seria uma maneira bem cruel e lenta. Entretanto, pensando por outro lado, Trevor também sabe como dar uma falsa esperança para seus cativos. Afinal, veja onde estão. Uma casa grande, bonita, bem arrumada, há aquecedores, camas para dormirem. A comida veio logo depois, Melissa cozinhou algo rápido para se alimentarem. Agora me digam... Que tipo de sequestrador é tão atencioso assim? Acredita que nem mesmo celebridades ou figuras políticas importantes são tão bem tratadas quantos elas. Os terroristas querem o desespero, elevar o medo e a tensão de que se não seguirem suas ordens, serão mortos.

  Mas, Trevor... Esse garoto tão calculista e cruel. Prefere que tenham esperanças, para arrancá-la com uma faca cega. Seria como estar presa com um tanque de oxigênio, afundando no mar. Você sabe que em algum momento aquele ar vai acabar, e consequentemente se afogará, seja por não respirar ou a grande pressão do oceano. Está morto do mesmo jeito, e ainda assim, reza para alguém te socorrer.

   Como aconteceu com a parceira de Nero Barns. E nesse caso específico, a mulher teve muita sorte que os Ceifeiros estavam no caso. E agora? Eles viriam por ela? Bem, Melissa acredita que se estivesse sozinha, não deixariam que Natasha arriscasse tudo para salvá-la, entretanto, a situação é outra. Aurora foi tragada pela maré. Caleb engoliria o maldito orgulho e viria salvar a filha que nunca assumiu?

   Quando esse pensamento passou em sua mente, ergueu o olhar para luzes que piscaram por instantes. Não deveria ser nada demais, quedas de energia acontecem, mas pelos passos pesados daquelas botas, não foi algo simples.

— Para que tanto alarde. – Melissa deu de ombros quando deles entrou no quarto onde estavam. — Nunca viu uma luz piscar e já acham que é um fantasma?

   Teria rido da própria ironia, se outra ideia não tivesse surgido em sua mente.

— Ah, claro... Vocês temem a morte. – sorriu de canto. — Mas, a morte encapuzada.

   O homem apontou com a arma para que voltasse para cama e assim ela obedeceu, mas continuou a encará-lo.

— Não temem os Arcanjos, nem mesmo o próprio Querubim, mas... – os olhos passaram pela habitação. — Estão apavorados apenas com a possível sombra dos Ceifeiros.

    Ela riu, ajeitando os cobertores sobre o corpo da menininha adormecida. Ouviu os passos do homem, ele saiu fechando a porta.

Eu estava errada. – disse para si mesma. — Ceifeiros nunca abandonam a família.

     Os olhos foram em direção as luzes novamente que piscaram e por fim apagaram.

  Uma fagulha cintilou na escuridão, logo a cor avermelhada de algo queimando surgiu. A fumaça do cigarro escapou pelos lábios, as luzes do porão piscaram novamente, revelando a face do Ceifeiro que logo mesclou-se com a escuridão novamente.

 A fumaça do cigarro escapou pelos lábios, as luzes do porão piscaram novamente, revelando a face do Ceifeiro que logo mesclou-se com a escuridão novamente

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Ninguém foge de mim.

G.U.Y. - A Lei do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora