Capítulo 14 - Escada Para o Céu

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"Já tiveram a sensação de olhar para o próprio reflexo e não verem a si mesmos? Como se um estranho o encarasse de volta?

 Eu me sinto assim todos os dias, e talvez um pouco pior. Porque uma parte de mim sabe, a outra é um animal incontrolável, impulsivo e perigoso. Caleb mencionou que nunca é bom deixar um fio desencapado por aí.

 Acho que no final de tudo ele se referia a mim. Tenho problemas, vários e um deles é não aceitar ser contrariada. É não aceitar o que me tornei e por quê? Por quem?

 Para que tanto medo? Por que temer o fim? Se essa é a nossa única certeza?

 Acho que nunca tive opção, muito menos caminho de volta no momento que me deitei com o Diabo. Além de gostar, me entreguei por inteira mesmo sabendo que pulava no abismo.

 Olhem para mim agora, o que me tornei?

 Sou a definição de curto-circuito. E sinceramente... Aprendi a gostar disso, não preciso de regras, não preciso de mais nada. Apenas à espera da morte.

 E ela veio."

 Natasha estava dependurada, segurando-se apenas com o braço direito na beirada do prédio. O ombro esquerdo foi deslocado, o punho torcido queimava, o corpo tremia tentando manter-se, o impacto contra a parede a deixou zonza. Ela lentamente olhou para baixo, não se via nada além de miniaturas.

"E eu a encarei no fundo dos olhos. Infelizmente não sabia se queria ir ou sobreviver. Então... ela decidiu por mim."

  Os dedos escorregaram por fim para cair no abismo.

[Minutos antes]

Lilith. – gesticulou ele.

  A resposta dela foram tiros diretos na cabeça dele, mas, assim como era de esperar, o capacete era blindado. O viu cambalear para trás, pode não ter morrido, mas com toda certeza aquilo lhe daria muita dor de cabeça.

 Natasha continuou atirando até vê-lo correr e esconder-se no quarto ao lado.

— Patético. – disse ela franzindo o cenho. — Como pôde lutar contra um primordial?

 Ela manteve a arma erguida, mas se abaixou ao lado da mulher que tinha um saco na cabeça. E ao retirar ergueu as sobrancelhas.

 Não passava de uma boneca. Aquilo a enfureceu ao ponto de atirar naquela cabeça de plástico. Lançou o olhar ao homem que correu para o lado oposto em direção a janela, pulou para o andaime, fugindo.

— Você não é ele. – mirou nas cordas de aço. — Então desça mais rápido.

 Atirou nas cordas e o andaime despencou. Natasha fora até a janela ver os restos distantes de ferro e um corpo explodido, e a sombra no andar de cima a fez erguer o olhar.

 E agora sim, ela encarou o verdadeiro assassino. Ele a fitou de volta do telhado e logo desapareceu.

— Filho da puta.

 Ele pensa exatamente como ela, em cada detalhe, cada respirar, não conseguia competir.

 Mas se havia algo que ele não pode decifrar é a maneira insana que é capaz de agir. Isso, ninguém espera.

 Ela trocou o pente da arma novamente, a encaixou no coldre, tomou distância e então correu em direção a janela. Agarrou nas cordas restantes, o equipamento desceu um pouco com seu peso, mas parou com a trava de segurança.

 O homem no telhado parou por instantes, olhou por cima do ombro, e logo se virou assim que escutou aquele barulho, colocou a mão atrás do corpo alcançando a arma. Assim que se virou assistiu a cena, da garota que acabará de escalar até o último andar. Ele podia ter atirado, mas não o fez.

G.U.Y. - A Lei do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora