Amor

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Jake

   Eu não tinha planejado dizer coisa alguma. Apenas saiu, não consegui manter dentro, não depois disso.

   Quando Alessa me pediu para ligar para ela, eu sabia que era uma péssima ideia, não importa quantas precauções eu tenha tomado. Mas… eu nunca me senti tão sozinho. Então eu liguei. E prometi a mim mesmo que não falaria nada. A alteração de voz não tinha espaço para algo tão pessoal. Escolhi o silêncio no lugar. 

   Só que quando Alessa contou sua história e cantou aquela música. Não consegui mais aguentar. A voz de Alessa sempre me afeta intensamente, mas eu não estava preparado para uma música que falasse tão bem sobre o luto. Não esperava descobrir que Alessa entende como eu me sinto, que nós temos mais em comum do que eu pensava.

  Quando dei por mim, as palavras já tinham saído.

- Minha mãe se suicidou.

   Alessa fica em silêncio, não sei dizer se pelo o que eu disse ou só por eu ter falado em si.

- Nós não éramos exatamente próximos, sempre fomos muito diferentes, e acho que ela sofria por não conseguir me entender. Desde de criança, ela tinha dificuldade de me acompanhar, mas ela se esforçou ao máximo para me dar as ferramentas necessárias para eu desenvolver minhas habilidades. Só que isso exigiu que ela trabalhasse dobrado. Nunca reparei como ela era ... melancólica. Não percebi nada até ser tarde demais, um dia a polícia bateu na nossa porta e me deu a notícia. Achei uma carta no quarto dela, dizendo…

   Sinto as emoções me sufocando, mas limpo a garganta na tentativa de afastar tudo isso, eu queria contar tudo a Alessa.

- Dizendo que ela se orgulhava de mim, que não era minha culpa, que ela simplesmente não suportava mais toda aquela dor. E que só esperou por mim, esperou até ter certeza que eu ficaria bem sem ela. Na carta ela me contou sobre meu pai, que ele tinha uma família, com duas filhas. Junto com a foto deles, a que eu mostrei para a Lilly. Ela me pediu para contatá-los, para eu não ficar sozinho. Eu tentei… eu realmente tentei Alessa, cheguei a ir até a casa deles. Mas quando eu vi, todos eles reunidos, saindo de um carro, felizes. Eu não pude. Não podia estragar aquela felicidade, não podia me intrometer na vida deles. Então eu fui embora. Algumas semanas depois, decidi contatar a Hannah, apenas para conhecê-la, teria contatado a Lilly também, mas ela era mais nova. Como você sabe, fui forçado a cortar contato com a Hannah. Um tempo depois comecei a ser um fugitivo. Por tanto, me mantive o mais longe possível deles.

     Ficamos os dois em silêncio. Alessa o quebra primeiro.

-  Eu… sinto muito. Não sei mais o que dizer além de sinto muito.

- Você não precisa dizer nada, Alessa. Só… isso, o que você está fazendo por mim, é além do que um dia imaginei - Decido contar para ela a pior parte, o motivo de eu ter sumido de repente. - Eu… eu esqueci Alessa.

- Esqueceu o quê?

- Esqueci que dia era hoje. Todos os anos, esse dia sempre está em minha mente, o dia que minha vida mudou. Mas hoje, eu me esqueci. Eu só reparei depois, por isso sumi o dia todo.

- Jake… não é algo que você deva se culpar. Muita coisa tem acontecido, eu mal sei que dia é hoje. Quando eu comecei a esquecer meus pais, eu me culpei também, achei que eu deveria segurar cada coisa, cada memória. Mas… a vida continua, o tempo passa, e eu sei que eles não iriam querer que eu ficasse presa a eles para sempre. Existe um equilíbrio entre manter a memória de alguém viva, e se prender a essa memória. Que tal assim, você passou o dia pensando em sua mãe, certo?

- Hmm, sim.

- Então, agora é hora de pensar em você. O que você quer fazer?

- Eu… - Pretendia falar que não sabia, porque normalmente não sabia, não é algo que sequer penso em anos, o que eu gostaria de fazer. Mas eu percebo que dessa vez havia algo que eu queria. - Eu quero ouvir você cantar de novo

You are the reason 2 - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora