Prólogo

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Prólogo A Sombra na Casa de Deus

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Prólogo
A Sombra na Casa de Deus

Trilha Sonora: Arsonist's Lullabye- Hozier

Cordelia Sybil Liguori

Meus olhos varrem o interior da igreja, as paredes brancas de madeira por onde ressoa a voz do reverendo, imponente e gritada, que por vezes me assustava e me fazia encolher, com medo que ecoa em meu peito de ser alvo de sua atenção. Ao lado meus pais, sempre sérios em suas melhores roupas para o culto da manhã de domingo, que era a única vez que vínhamos para a cidade e deixávamos nossa fazenda mais afastada da civilização, apenas deixando aquelas terras por seus pilares de retidão e de fé. No mesmo banco que dividíamos todos os finais de semana perto do altar, meus irmãos adotivos, pálidos como a neve, tão loiros que quando o sol batia sobre suas cabeças, brilhava, também em suas melhores vestes, costurada por mim, minha mãe e irmãs, destaco-me em meio a eles como uma nota discordante, de maneira a ser óbvio que eu não pertencia aquele lugar e aquela família. Uma ovelha negra em meio ao rebanho alvo, um ponto que claramente não pertencia àquele grupo, a pele escura demais para pertencer à aquela família, destoando completamente de todos naquele salão.

Corde...lia — minha mãe sussurra, o olhar cortante como uma lâmina me fazendo sentir o desconforto com sua falta de aprovação, mexendo desconcertada e olhando para o pastor.

Seus cabelos loiros e lisos contrastam com os meus cachos indomáveis que ela tanto detestava, contidos da maneira que eu conseguia, em um coque. Com seu tom e seu olhar de rasgar a alma, desviei o olhar, me encolhendo mais e mais.

O ambiente é opressivo, cheio de rigidez e preconceitos, mas aqui estou, caindo dentro de um cerco tão diferente de mim, o destino que me foi imposto de maneira irônica. Dizem que nós temos sorte de cair em determinadas famílias, que eu deveria ser grata, mas como ser grata se meus pais me detestavam? Eu me perguntava o porquê de terem me adotado, por que fizeram isso se não conseguiriam me amar como amavam os outros filhos? A filha adotiva dos Liguori, o patinho feio em meio aos belos cisnes alvos e belos. As cadeiras de madeira rangem sob o peso dos corpos sobre os assentos quando me mexo, desconfortável, e eu me sinto afundar sob o peso da expectativa que era derramada sobre mim.

Nossa filha exemplar — proclama meu pai, um homem austero de cabelos brancos que reluzem na luz, sua fala no fim chamava a minha atenção, me fazendo arquear a sobrancelha, em dúvida e surpresa, uma vez que ele nunca me chamou assim, apesar de ter sempre feito as vontades deles.

Quando olhei ao redor, os olhares de desdém dos outros fiéis recaem sobre mim, uma mancha na pureza que eles tanto veneram, sendo a única pessoa não branca naquele salão. Eu engoli em seco, abaixando o meu olhar para minhas mãos que se remexiam, nervosas, sentindo no peito o coração disparar contra minhas costelas.

Lembro-me da infância diferente da dos demais, onde cada nota da Bíblia ressoava mais alto que as gargalhadas das outras crianças normais. Em casa, os estudos eram nosso único contato com o mundo exterior. Mas no final, o "diploma da fé" substituía o conhecimento secular, e enquanto meus irmãos aceitavam passivamente, eu, a filha mestiça e adotada, ansiava por mais, sempre mais.

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