Capítulo 1

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Capítulo 1 Fuga nas Sombras

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Capítulo 1
Fuga nas Sombras

Trilha Sonora: Don't Go to Strangers - J. J. Cale  & Dancing Queen - Abba

Cordelia Sybil Liguori

O cômodo que meu pai chamava de escritório, tinha prateleiras com livros que ele nunca leu, que foram herança de um tio distante. Eu dava graças que papai nunca teve gosto pela leitura, porque senão metade deles estariam queimados por terem muitas coisas "do demônio". Meu pai também quase não usava o cômodo, mas adorava dizer que tinha, talvez por pensar que lhe trazia um ar culto, longe do caipira arcaico que as pessoas pensavam que ele e minha mãe eram. O que não era mentira. O reduto de paredes em verniz antigo, prateleiras com livros e uma mesa antiga quase toda devorada por cupins, tornou-se meu palco de urgência, onde minhas mãos tremiam passando por sua superfície. O medo pulsava em minhas veias enquanto vasculhava as gavetas, procurando freneticamente pelos meus documentos. A cada ruído que vinha do lado de fora, meu coração disparava, o medo de ser descoberta aumentando a cada segundo que passava e eu não achava os benditos documentos.

— Onde tá... onde tá? — Eu perguntava a mim mesmo, vasculhando em desespero cada compartimento.

As gavetas se abriam e se fechavam rapidamente, papéis revirados se tornando vítimas da minha ansiedade, piorando quando a primeira batida ressoou no Umbral. Cada batida na porta do escritório era um trovão em meus ouvidos, fazendo o meu sangue correr quente e rápido, ecoando meu próprio nervosismo. O suor escorria pela minha testa enquanto minhas mãos tremiam, mexendo entre as inúmeras folhas e pastas.

Finalmente, encontrei o envelope amarelado, contendo os registros que me dariam liberdade, me fazendo sorrir, animada, secando o suor que escorria por minha testa, quase pulando de alegria. Ao colocá-lo no bolso do macacão, o som da maçaneta girando fez meu coração parar por um instante. A porta rangeu, abrindo-se para revelar meu irmão do meio, alto demais para idade, como todos os homens da casa, James, vestido com uma calça jeans surrada e uma camisa preta.

O que você tá fazendo? — questionou, seus olhos vasculhando o cenário de papéis espalhados, o cenho franzido. 

Eu? Tô organizando o escritório do papai, a mamãe mandou... — minha voz vacilou, nervosismo transbordando em minhas palavras. Como que querendo mostrar que dizia a verdade, comecei organizar os papéis — Papai saiu, deixando tudo jogado...

James me olhou por um instante, desconfiado, enquanto eu tentava manter um semblante inocente. A tensão no ar era palpável, e eu podia sentir meu coração martelando no peito.

— Deixe-me ajudar, então. — James pegou alguns papéis caídos e começou a organizá-los. — Não precisa fazer isso sozinha, Cordy.

Enquanto ele ajudava, o alívio se misturava com a culpa. A mentira pendurava como uma nuvem sobre nós, mas naquele momento, com James ao meu lado, a promessa de liberdade pairava no horizonte ainda falava mais alto. A jornada que eu havia iniciado no silêncio da noite ganhava forma sob o sol da manhã, e eu estava disposta a enfrentar as consequências, se isso significasse trilhar meu próprio caminho e ser livre, longe daqui.

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