DÉCIMA QUARTA LEMBRANÇA

33 9 71
                                    

23/O9/2016, sexta-feira, Bahia, Munícipio de Alboçar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

23/O9/2016, sexta-feira, Bahia, Munícipio de Alboçar

As nuvens se precipitaram fora de época, pegando todos de surpresa. De manhã o sol estava rachando, porém, perto de meio-dia, vi pelos vidros o ambiente ficar cinza. Meu primeiro pensamento foi que eu havia esquecido o guarda-chuva. Na hora da saída, com o lugar pairando chuva, julguei a possibilidade de caminhar com Gabriele antes de ir embora, mas gotas pesadas de chuvas começaram a nos agredir.

Sua mãe veio lhe buscar, e no dia que eu mais precisava de Felipe aparecesse, ele não deu as caras. Tive que subir sozinha, e terminando de subir a ladeira da rua, avistei meu irmão largando a bicicleta na frente de casa, entrando com pressa.

Corri para lhe alcançar, tropeçando nos paralelepípedos que pareciam escorregadios por conta da chuva, e gritei seu nome ao cessar minha corrida agarrando o portão, que ele não teve tempo para fechar graças a minha interferência. Meu irmão cobriu imediatamente algo com o braço, e encarei seus olhos que denunciavam que ele tinha sido pego fazendo algo errado.

Soltei um suspiro febril, ao me aproximar perto o suficiente do meu irmão, passando por ele, puxando-o para dentro sem fazer contato visual. Ele se deixou ser arrastado por mim, e depois de limparmos os sapatos cheio de lama no tape, larguei-o.

— O que você está aprontando? — perguntei, com o frio atingindo meu corpo depois de sair da ventania frequente, fazendo eu buscar calor cobrindo-me com meus braços.

Enquanto Felipe perdia sua visão para algo que ele guardava nos braços. Sua franja estava colada na testa e os pingos que deslizavam dela caíam diretamente em que sei-lá-o-que-seja. Ele não pareceu escutar o que eu havia perguntado a ele, porque ele parecia obcecado em proteger seu pacote.

Nunca o vi tão centrado em nada, além de seus jogos e em mim.

— O que diabos você está escondendo? — reformulei minha pergunta, impaciente com sua demora. Porém, ele não moveu um músculo. Curiosa para saber, dei alguns passos, e quando eu pensei que iria conseguir ver, ele recuou.

— Espera, Ana — pediu sem fazer contato visual. — Ele pode acordar e ficar assustado.

Ergui uma das sobrancelhas por ele estar quase sussurrando, e falar como se estivesse se referindo a uma criança. No entanto, descruzei os braços assim que Felipe levantou o braço para limpar as gotas de água que se acumularam em seus olhos e vi um filhote de cachorro dormindo.

Uma vida frágil e inocente que eu também já havia segurado. Não era parecido com Ron, pois ele tinha uma pelagem bastante fofa e branca com preto, orelhas baixas e menor que Ron quando eu o encontrei. Bem menor. Aparentemente, não fazia muito tempo que ele tinha nascido, e por ver seus pelos, eu podia garantir que ele não era de rua.

Então Felipe ganhou de alguém?

— Meu deus — exclamei feliz, tomando o pequenino dos braços de Felipe e o acomodando-o nos meus. Eu sentia meu corpo flutuando, e uma vontade explosiva de pular me invadiu. — Que cachorro fofo. Nossos pais irão amar esse lindo.

ANTES QUE SE PERCAM...[CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora