Esperança

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Naquela noite, depois do retorno de Petra Ral, meus irmãos e eu evitamos tocar no assunto. Arata apenas informou que deixaram a garota na borda da floresta; um dos corvos havia sinalizado movimentação humana a Leste, então ali era o máximo que poderiam deixar a garota sem que o Reconhecimento os encontrasse. Não havia mais o que ser feito.

Tentei não pensar mais nisso. Nos dias que se seguiram, só conseguia acordar e correr para a torre. Talvez eu pensasse que de alguma forma iria acabar vendo o Reconhecimento chegando para nos resgatar, mas os dias passaram e nada aconteceu. Em um dia quente, daqueles em que as cigarras começam a cantar junto dos pássaros, acordei mais cedo que meus irmãos e passei horas pela manhã em frente ao túmulo de mamãe, papai e Rokuro para contar as novidades. Eu sempre fazia isso, passava horas pela manhã contando-lhes tudo o que acontecia e imaginando quais seriam suas reações.

Rokuro era muito doce; ainda lembro de sua risada, de seus grandes olhos azuis e do cabelo liso. Fisicamente, era o mais parecido com o papai, mas puxou a doçura de nossa mãe. Meus pais amavam Erwin, tratavam-no como um filho, e todos nós o acolhemos como um irmão. Após a morte de Rokuro, esse acolhimento se intensificou ainda mais. Sinto que meus pais tiveram uma lacuna em seus corações, e por mais difícil que fosse preenchê-la, eles acabaram tentando fazer isso com a presença de Erwin.

Imagino como mamãe ficaria brava por saber que ainda estávamos ali, presos naquele buraco, e como papai ficaria furioso por não termos voltado para o reconhecimento

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Imagino como mamãe ficaria brava por saber que ainda estávamos ali, presos naquele buraco, e como papai ficaria furioso por não termos voltado para o reconhecimento. Gostaria que eles estivessem aqui; sinto falta das conversas com mamãe e de como Rokuro sempre insistia em fazer tranças em meu cabelo. Sinto falta de treinar com papai, de como ele dizia para eu sempre usar a força do meu oponente contra ele mesmo. "Você é pequena, e seus adversários vão sempre te subestimar por isso, mas é inteligente e ágil. Use isso a seu favor, e não será alguém fácil de matar." Foi a primeira coisa que papai me disse quando entrei para o reconhecimento.

- Não vou ser alguém fácil de matar, papai - disse, em meio aos meus devaneios.

Devaneios esses que foram interrompidos por um dos corvos. Algo muito útil que havia ensinado para eles, mas que raramente era usado: modulações de sons para diferentes tipos de aviso. Havia um som específico para quando um titã era avistado por ele, outro tipo de som para quando um titã incomum era avistado e, meu som favorito, para quando humanos eram avistados. O tipo de som mais incomum de se escutar, mas o mais precioso. Quando Ed, meu corvo mais antigo e mais inteligente, apareceu naquela manhã, ele fazia um som de que haviam humanos por perto. Perguntei três vezes para ele, apenas para ouvir aquele som mais vezes, e em todas as vezes, Ed confirmou.


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