Não chegou ao topo de início, mas conseguiu enfim alcançar utilizando as pedras da lacuna. Finalizou a escalada com os cotovelos sobre o solo, permanecendo deitado de barriga e cabeça para baixo. Anabel, de forma ágil, voou de frente para o rapaz para que pudessem comemorar o feito.
- Olha só, conseguiu pular mesmo! - Apontou com um sorriso, o qual Hitori retribuiu de maneira convencida após levantar o rosto da terra. Não conseguiu responder a fala da ave devido ao estado ofegante em que se encontrava. - Agora vamos, não temos mais tempo a perder. - Apressou-se para a representação da avenida de ladrilhos.
- Já estou indo. - O rapaz levantou-se de maneira cambaleante. - Acho que usei magia demais. - Expressou com uma das mãos agarradas na testa. Estava com dor de cabeça.
Depois de uma curta caminhada chegaram à igreja que antes viram pelo grande círculo. Sem pensar duas vezes, o garoto e a ave adentraram a estrutura puxando a porta de madeira envelhecida, a qual emanou um som rangido tão alto quanto um trompete anunciando a chegada da realeza. A primeira coisa que notaram foi o interior, era denso e espaçoso, quase o dobro do que demonstrava externamente. Haviam dezenas de bancos de madeira enfileirados, deixando um espaço livre no centro, a qual formava um caminho até o púlpito da igreja, pódio onde o padre costuma ministrar os cultos. Sentados nos bancos estavam inúmeros cadáveres esqueléticos de cabeça baixa, e todos tinham em suas mãos lamparinas iluminadas por brilhos coloridos. Algumas cores se repetiam, mas eram poucas. O tamanho infantil dos esqueletos revelavam quem antes os vestia. Hitori permaneceu caminhando pelo centro do local, seus passos, mesmo sutis, ecoavam de maneira aguda por toda a igreja.
- Pobres coitadas... São todas as crianças que o cretino matou. Esse lugar as impede de partir para o mundo dos mortos. - Lamentou no ombro do rapaz.
- Por que ele faz isso? - Em cochicho, o garoto perguntou. O olhar desolado era a coisa mais notável em seu rosto.
- Não faço a mínima ideia. - Voou levemente até um dos bancos. - Só sei que gente ruim não tem motivo. - Coçou uma das asas com o bico.
Hitori analisou em volta de forma cautelosa. Estava visivelmente triste com toda aquela situação envolvendo os menores, mas foi então que em seu minuto de lástima, identificou alguém familiar no meio daquela apresentação de luzes.
- Adrien! - Correu até o último banco esquerdo da frente. O menino estava na mesma posição que as outras crianças, a única diferença é que ainda não teve o seu corpo decomposto, sendo o motivo aparente o recente comparecimento. Com um dos joelhos apoiados no chão, Hitori ficou de frente ao menino. Seus olhos de pálpebras recaídas acusavam a ausência de vida naquele corpo, mas Hitori não desistiu de trazê-lo de volta. Balançou seus ombros e continuou gritando seu nome repetidas vezes.
- Me desculpa! Eu não consegui te proteger! - Não conseguiu encarar Adrien nos olhos. Sentia-se culpado pelo o que aconteceu, a angústia o levou a apertar os ombros da criança, e em sequência o abraçou com pequenas lágrimas surgindo de seus olhos agora fechados. - Eu fui fraco... - Expressou em soluços. A respiração pesada do garoto foi descontinuada pelo reperentino abraço retribuído.
- Não precisa pedir desculpas, Hitori. Afinal, você é criança, também. - Em uma voz doce, Adrien respondeu. Hitori instantaneamente saiu do abraço, mas continuou com as mãos sobre os ombros. O sorriso do rapaz expulsou as lágrimas de sua bochecha. Adrien também sorriu.
- Você tá vivo! - Disse em êxtase.
- É, mais ou menos - Anabel intrometeu-se em aproximação. - Precisamos fazer isso para essas dezenas de crianças, moço.
- Eu ajudo. - A criança levantou-se do banco em um pulo, e então balançou a cabeça para acordar do transe em que antes estava. - Antes do Hitori aparecer, eu meio que estava dormindo. Talvez tenha algum jeito de acordar essas crianças, também. - Supôs.
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Alma Bruxa
FantasíaHitori Mizuhikari acorda em meio a destroços, onde seu reino, WaterHill, foi arrasado. Determinado a descobrir o que aconteceu e restaurar sua terra natal, Hitori se junta a seu primo, Melias Mizukuroi, em uma jornada perigosa e emocionante através...