Alma Bruxa

SEMENTES INDESEJÁVEIS

— Você tá me dizendo que existe mesmo a chance deles estarem naquele laboratório? — Em uma voz trêmula Hitori questionou, recebendo em seguida a confirmação de Jiren com a cabeça.

— E o que pretende fazer quando encontrá-los? — Kristian interrogou — Aquele lugar apresenta um perigo extremo, o que torna a ideia de resgate ainda mais impossível.

— Eu vou pensar em alguma coisa! Tenho certeza de que existe uma forma! — Não demorou para responder. Hitori estava determinado, mesmo que em seus olhos estivesse estampada a desconfortável sensação de incerteza.

— Parece que acabamos de encontrar mais um motivo para irmos até lá, Krist! — Enquanto agarrava o ombro de Hitori, o enorme homem exclamou com gargalhadas. O garoto então olhou de lado para Jiren e o questionou:

— Vocês já iam pra lá?

— Digamos que não é só você que tem pendências pra resolver naquele canto. — Após a resposta de Jiren, Kristian prosseguiu.

—  Sei que deseja salvar seu povo, Hitori, entretanto temo que não tenha força e nem habilidade para isso. — A escuridão da máscara metálica parecia cobrir todo o corpo do rapaz. — Aquele é um lugar hostil, nem mesmo os mais poderosos guerreiros teriam alguma chance contra Intan. É praticamente uma missão suicida. — A afirmação fez com que Hitori engolisse a própria saliva numa súbita tensão que não pôde evitar, não só ele, mas Jiren igualmente apresentou preocupação através de um longo suspiro:

— O mascarado tá certo, coisinha. — Há mais chances de morrermos lá do que sairmos vivos. — Semi-cerrou os olhos. Hitori em pálpebras apertadas concordou com as condições, o que intrigou o enorme homem e o fez questionar. — Você não tem medo?

O pequeno não respondeu de imediato, apenas se manteve encarando uma das paredes do chalé. Pelo olhar perdido e expressão preocupada, podia-se dizer claramente que estava no mínimo espantado com os avisos. "Praticamente uma missão suicida", não é como se até aquele momento não tivesse passado por situações que podiam ameaçar a sua vida. Não poderia dizer que estava acostumado, entretanto mentiria se dissesse desconhecer essa sensação de perigo.

— Eu tenho medo, sim... Bastante. — gaguejou. — Mas os meus tios podem estar lá, e eu tenho que salvá-los a todo custo! — Olhou para o chão com a mesma determinação de antes. Escolheu não pensar tanto nos detalhes ou preocupações que não envolvessem estar ao lado de quem ama. Certos riscos precisam ser tomados - foi o que aprendeu com seu primo e todos que conheceu até então. — Aliás, vocês também têm seus próprios motivos e estão se arriscando assim como eu! Eu só peço que por favor não estejam mentindo pra mim. — Discursou em palavras apressadas, e então sentiu uma mão enorme sobre o topo da cabeça.

— Também não aguentamos mais mentiras, pequeno. — Acariciando os cabelos de Hitori e com um sorriso acolhedor, Jiren respondeu. — Não se preocupe, você agora é membro do nosso pequeno time! — Ergueu a outra mão com o punho cerrado.

Aquele breve momento de esperança foi repentinamente interrompido pelo estrondoso som do estraçalhar de vidro, e, após descansarem os braços que se ergueram sobre o rosto em reflexo, todos os três notaram o que havia invadido a casa: uma pedra transparente e pontiaguda, comportando em seu núcleo uma grande quantidade de água concentrada.

— Criocinese! — Após o desesperado aviso de Jiren, Hitori sentiu o corpo ser envolto aos braços do enorme homem, onde em seguida lançou-se com o garoto em seu torso contra a janela mais próxima, enquanto Kristian fez mesmo na direção contrária. Em cerca de cinco segundos nenhum deles estava mais no chalé.

Não demorou muito para que o motivo do alerta se manifestasse, sendo ele o repentino surgimento de um pilar de gelo proveniente da pequena estalactite lançada anteriormente. O crescimento instantâneo daquela enorme geleira ocasionou na completa destruição do chalé, lançando restos de madeira e vidro para direções diversas.