1: Mágoas afogadas em soju

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Era extremamente estranho ter aqueles lábios tocando os meus. As mãos, suavemente dispostas em minhas costas, me trazendo para perto de seu corpo, e as palavras doces proferidas antes do beijo eram completamente estranhas para mim.

Mas tudo não passava de atuação.

— E... corta! — o diretor Park gritou. Pela entonação em sua voz, ele parecia satisfeito com o resultado da minha cena. Meu parceiro, Jeongin, também tinha um sorriso nos lábios cheios, totalmente feliz com o resultado — podem descansar, garotos! Pausa de cinco minutos!

Jeongin ainda me tinha em seus braços musculosos, estávamos próximos demais e, mesmo que Park dissesse que podíamos relaxar e tomar um ar, Jeongin parecia estar em outro mundo.

— J-Jeongin? — limpei a garganta ao perceber que havia gaguejado. O Yang estava sem jeito ao ver que ainda me segurava e me olhava daquela forma, como se eu fosse sua presa e ele, o caçador.

— D-Desculpe! — Jeongin coçou a nuca e deu um sorriso torto, com as bochechas róseas e ombros encolhidos minimamente para frente. Abanei o ar, com um sorriso igualmente torto, indicando que estava tudo bem.

Jeongin era diferente de todos os atores com quem eu já havia trabalhado: por mais que as telas mostrassem que ele era extremante sexy, o que não deixa de ser verdade, ele está mais próximo de ser um adolescente que tem dificuldade em esconder suas emoções. Não que eu esteja reclamando, esse é seu maior charme.

— Quer beber depois do trabalho? — essa criança.

— Você por acaso tem idade para isso, Jeongin? — o provoquei. Podia não parecer, mas Yang Jeongin era mais novo que eu. Pelo o que lembro das pesquisas que fiz, ele ainda ia fazer 21 anos.

Jeongin riu baixinho.

— Sim, Felix. Pode não parecer, mas esse rostinho de bebê faz 22 anos semana que vem — exibiu seu largo sorriso.

Dei de ombros, já esperando que a resposta seria algo parecido. Quando assenti positivamente, as bochechas do Yang adquiriram a cor avermelhada. Uma criança, de fato.

— Felix, Jeongin! — o diretor Park nos chamou, nos chamando com a destra para que nos aproximássemos. Eu e ele nos entreolhamos e caminhamos até Park — hoje é o ultimo episódio da série, façam como sempre fizeram, hm? — traduzindo: estamos todos muito cansados e queremos que terminem isso logo para colocarmos o seriado no ar.

— Sim, senhor — respondi baixo ao me reverenciar e deixei os dois sozinhos. As maquiadoras ajeitaram meu cabelo e retocaram a maquiagem, para que pudéssemos voltar a gravar.

Enquanto meu cansaço era coberto pela base cremosa clara, lápis e rímel, eu encarava meu reflexo no espelho: Lee Felix, você está deplorável. Você precisa superar seu ex-namorado.

[...]

Felizmente, conseguimos gravar o último episódio. Obviamente, por todos estarem ansiosos e cansados, houveram erros, porém os corrigimos a tempo de eu cumprir o que havia prometido a Jeongin: beber com ele. Mesmo com todo o meu sermão sobre sermos pegos e boatos surgirem, Jeongin ignorou e disse que as máscaras podiam cobrir nossos rostos.

Procurei não argumentar com o Yang, já que ele estava decidido e, após entender como ele faz as coisas, eu sabia que era inútil. Nós nos arrumamos nos camarins e saímos logo depois. Só que minha ideia de passar despercebido e ter uma noite calma foi um tiro pela culatra: ao deixarmos o prédio da gravação, o carro de Jeongin, um Porsche, estava estacionado na entrada.

— Jeongin, você por acaso quer que boatos surjam? — murmurei com a mão na testa.

— Eles vão ver de qualquer jeito, então de que adianta? Somos dois amigos saindo para curtir — ele rebateu.

— Amigos que se beijam na série — falei e suspirei.

— Entre logo, Felix. Vamos comemorar!

Dando-me por vencido, coloquei minha bolsa no banco de trás e entrei no veículo, sendo seguido por Jeongin. Desde o momento em que Jeongin girou a chave na ignição até boa parte do caminho, meu coração faltava sair pela boca por imaginar as notícias que apareceriam no dia seguinte. Eu devo ter parecido tão incomodado que Jeongin deu uma risadinha sem vontade e girou o volante, dando meia-volta e alterando nosso rumo.

— Vamos para um restaurante perto da minha casa, então — ele disse — é quieto e o ramén é uma delícia!

Eu apenas sorri de alívio e pude relaxar no banco do passageiro. Aproveitei que estava mais calmo para observar a cidade à noite, algo que era raro quando se tinha uma agenda tão cheia quanto a minha. Em menos de dez minutos, o Yang já estacionava o Porsche na frente de um pequeno restaurante. Ele tirou o cinto e eu gastei esses segundos examinando a organização e limpeza do local, cujo transmitia uma harmonia indescritível. Me perguntei se era por conta da construção ter sido feita à base de madeira, o cheiro de eucalipto, as mesas bem dispostas, ou tudo isso junto.

Me apressei para acompanhar Jeongin, que já estava lá dentro. Saudei a adorável senhora que estava atrás do balcão, com um cardápio já em mãos. Havia somente um cliente no restaurante: ele estava todo vestido de preto, com três garrafas de soju em cima da mesa e virando um copo de muitos. Devo ter passado muito tempo o encarando porque ele percebeu e passou a olhar em minha direção. Seus olhos pequenos davam um charme ao seu rosto, bem como seus lábios finos e o nariz longo. Os fios escuros caíam sobre seus olhos, porém ele parecia não se importar.

— Você está olhando demais — que voz grave.

— D-Desculpe.

— Quer me fazer companhia, por acaso?

Quando eu ia responder, Jeongin voltou dos fundos, alegando que estava no banheiro. Ao ver o homem, ele abriu um sorriso tão largo que pensei que seus lábios fossem rasgar.

— Hyunjinnie!

Franzi o cenho.

— Ei, venha cá, Felix! Esse é o Hyunjin, meu melhor amigo — disse Jeongin, entusiasmado.

— O-Olá — falei e acenei, meio sem jeito.

— Mun, mais duas garrafas de soju — Hyunjin pediu carinhosamente ao sorrir para a senhora que havia acabado de entregar o cardápio.

— Está bebendo por conta do estresse, é? Isso faz mal. Sei que vocês advogados têm muito trabalho a fazer, mas devem cuidar da s... — Hyunjin não deixou que Jeongin finalizasse sua fala: apenas deu um riso debochado e mordeu o interior de sua bochecha, enquanto encarava fixamente o copo à sua frente.

— Minha namorada terminou comigo — Hyunjin disse.

a lei do amor | hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora