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1 semana depois...



Estou eu caminhando na praça, para ver se meus pés desincham um pouco, ando devagar, sem pressa, assim como minha médica me mandou fazer, e mesmo se ela tivesse dito pra correr, a pata que eu me tornei não permitiria. O TH está na boca, e eu aproveitei para vir fazer meu exercício e pensar sobre a minha vida, e como tudo está diferente do pensei que estaria há um ano atrás. 

Gosto desse climinha da noite e do fuzuê desse horário de pico. 19 horas é sempre muito movimentado, por causa que o pessoal que trabalha no asfalto e sai às 17:00 chega agora aqui no morro, então o movimento é altíssimo. 

Eu e o TH estamos bem, muito bem obrigada, até mesmo ontem eu tive consulta médica e ele foi comigo, coisa que ele nunca mais tinha conseguido ir. Sem contar que ele praticamente tá morando lá em casa de vez, não trouxe tudo dele da sua goma, mas nessa semana ele tá se virando com as roupas que tem lá em casa, nem pisa os pés lá. É como se ele já tivesse se mudado. 

Ontem eu, TH e Babi fomos comprar mais umas coisinhas para o Tomás, e mal acreditei quando a Babi me mostrou um kit de bolsas maternidade que ela foi pegar na loja, ela encomendou um kit com mais bolsas do que eu sou capaz de contar. E o TH comprou o kit de carrinho dos meus sonhos, mesmo custando 5 mil reais. Segundo ele, isso não é grande coisa, mas para mim é sim. 

Hoje estou feliz, realizada, completa e relaxada. Agora que terminei minha caminhada, 1 horinha já é suficiente, só vou dar uma passadinha na boca, pra falar com o TH, já que deixei meu celular em casa quando vim caminhar. Tô com vontade de comer uma pizza, lá da pizzaria do lado do morro. Só fomos lá no dia que ele pediu pra ficar comigo. 

Ando em direção a rua principal, pra poder pegar a 2° travessa a esquerda, que é onde a boca fica. Faço o caminho, e quando piso na rua principal, ouço os fogos romper o céu, e estrondar meus ouvidos. Não pode ser! 

Invasão!

As pessoas começam a correr, alguns sobem a rua, outros descem, os comércios fecham as portas rapidamente e eu fico paralisada no lugar, a barulho de fogos não param, até que com o grande número de pessoas correndo na rua, sinto quando alguém esbarra em mim, e eu caio no chão só a merda, sorte que foi de bunda, se fosse com a barriga, coitado do meu bebê. 

Não consigo me levantar de imediato, mas quando comecei a ouvir os tiros, pus as duas mãos no chão, e me levantei o mais rápido que eu pude. Ando rápido em direção a travessa, mas parece que os tiros estão chegando cada vez mais perto, é como se eu estivesse trazendo eles atrás de mim. 

Chego na travessa da boca, com o coração acelerado e a respiração ofegante, estou cansada e sem ar, vejo de longe o TH dando ordens aos seus vapor na porta da casa onde fica a boca. Essa é a principal, daqui sai drogas pra todo o morro. Então, quem quer que está invandindo chegar até aqui, já era..

ANDRÉIA: TH! - Ao ouvir minha voz, ele me procura com os olhos e fica nervoso ao me ver na entrada da travessa, desprotegida, descabelada, assustada e já perto de fazer 9 meses. 

TH: ANDRÉIA! - Ele corre em minha direção, e me puxa para correr para a casa. E eu o sigo, pois não tenho o que fazer. - O que você está fazendo aqui? Tá louca Andréia?

ANDRÉIA: Eu tava caminhando na praça quando ouvi os fogos e alguém me derrubou no chão, eu só tinha como vir pra cá. .. - Falo após recuperar o fôlego depois da carreira. 

TH: E agora? Como vou proteger tu?? Eu tenho que descer..

ANDRÉIA: NÃO! Você vai ficar comigo. - Só a ideia dele ir enfrentar esses tiros me apavoram.

TH: Não posso amor, preciso ir com meus parceiros. Não vou ser arregão. Vou te colocar na sala do sombra, não sai de lá. 

Assim, corremos escada a cima e ele abre a porta, me manda fechar por dentro, e não me preocupar pois aqui tem arma, frigobar com água, chocolates e a porta é a prova de balas, assim como as paredes são de concreto. Isso me deixará um pouco mais segura, mas e ele? Quem vai proteger ele?

Ele é o homem que eu amo, então por que ele não fica aqui comigo? Meu coração parece ter ido com ele, mas só me resta ficar aqui e esperar. 

Mesmo sendo uma estrutura forte e que pode me proteger, eu me sento no chão em baixo da mesa, os tiros não cessam, o medo de algo acontecer com o Thiago ou com alguém conhecido, é horrível, é a vida esfregando na minha cara que eu sou fraca e que não consigo cuidar de ninguém. 

Passo a mão na minha barriga, fazendo um carinho no meu filho.

ANDRÉIA: A mamãe sempre vai cuidar e proteger você meu amor. E o seu pai também, ele volta logo logo. 

Eu falei logo logo?? Me precipitei, pois não foi nada logo logo, pois agora, já são quase 1 da manhã, e nada do Thiago voltar, mas é lógico, o tiroteio não acabou ainda, a bala comendo e eu aqui sem poder fazer nada para ajudar e sem notícias do meu homem.

Ouço uns tiros na frente da casa, e isso me deixa ainda mais em alerta, me levanto, e tento olhar pela janela, que com certeza deve ser a prova de balas, se consigo ver quem está aqui na frente, mas não consigo. 

Tiro vai, tiro vem, e eu não consigo me acalmar, estou com sono e pior ainda, com fome. No frigobar só tinha 2 barrinhas de chocolate e algumas poucas garrafinhas de água, eu já tomei quase todas e já comi todos os chocolates. Minha barriga está roncando e o Tomás está chutando mais do que nunca. Não sei se é devido eu estar muito nervosa ou por que meu filho está com fome. 

Ando em direção a porta, criando coragem para sair e tentar encontrar o Thiago, ou comida, ou chegar em casa. Os tiros estão diminuindo, mas ainda dá pra se ouvir claramente as rajadas e não são muito longe...  Tomo uma decisão, corro até a mesa, abro as gavetas, depois peço desculpas ao sombra, e pego uma arma que está na gaveta. 

Não sei usar, mas já vi o TH mexendo, e sempre ele me me dá umas aulas teóricas, ele diz que quando o bebê nascer ele vai me ensinar, quero só ver mesmo se ele vai me dar as aulas práticas. Segundo ele, é bom sempre saber de alguma coisa, caso um dia precise. E agora eu acredito mesmo, por que queria saber e não sei de quase nada. Mas vou tentar, e vai dar certo!

Pego a arma, verifico o coldre, para confirmar se tem munição, e tem, destravo e pego a arma em punho. Pego as chaves para abrir a porta, e faço o máximo possível para não emitir som algum, coloco apenas a cabeça para fora da porta lentamente, não vejo ninguém no corredor, e saio da sala. Fico na dúvida se devo deixar aberta caso eu venha correndo, mas e se alguém entrar sem ser eu? Sombra me mata. Opto por deixar fechada, é melhor. 

Ando pelo corredor sem ouvir nada dos quartinhos, Chego até a escada e desço os degraus bem devagar até me deparar com uma cena que jamais imaginei presenciar...

Escolhida para fielOnde histórias criam vida. Descubra agora