A Máscara

155 11 23
                                    

Naqueles anos onde a peste assolava o continente europeu, alguns dos nobres de famílias mais abastadas decidiram isolar-se completamente e manter a morte rubra distante de si próprios. Ignorando completamente os corpos amontoados e pútridos que se decompunham em uma ruela escura qualquer, até que alguém se apiedasse deles e os mandasse enterrar a sete palmos debaixo do chão.

O príncipe Ébano foi um destes nobres. Durante os muitos meses de seu exílio e reclusão, ele dava festas para os membros da alta nobreza e soldava os portões assim que estes chegavam para manter a praga em um mundo distante do seu. Os outros que lidassem com ela.

Isso já havia acontecido há muitos anos e a praga se fora, sem que ele tivesse que presencear seus danos irreversíveis a sociedade. Mas é claro, que ele não dava a mínima importância para isso, os outros eram os outros, ele só deveria preocupar-se consigo mesmo.

É por isso que quando aquela máscara negra foi deixada em seus aposentos, ele ficou deveras perturbado, consciente de que alguém o espreitava por entre as brechas de seu enorme castelo de pedra.

O terror apossou-se dele de tal modo que ele não teve escolha a não ser contratar um detetive particular para lidar com a situação.

Um sujeitinho estrangeiro, com olhos profundamente afiados.

Seu nome era Ranpo Edogawa.

***

Raios partiram os céus, enquanto a carruagem sacolejava pela estrada longa e sinuosa, não pela primeira vez Ranpo perguntou-se se o lugar não era a casa do verdadeiro conde Drácula. Ele analisou o pequeno livro que portava em suas mãos, comprara de algum vendedor ambulante apenas para distrair-se durante a longa viagem. Mas os mistérios, com um profundo toque de terror o conquistaram.

E. A. Poe.

O autor devia ser algum aspirante, ainda engatinhando nos caminhos da literatura, pois ele não o conhecia.

Os portões de ferro ergueram-se com um rangido estridente e a carruagem atravessou a estrada de pedra. Seu cliente solicitara não muito gentilmente, que ele usasse a identidade de um parente distante e investigasse tudo de forma sigilosa.

O que dificultou um pouco o seu trabalho, mas não que ele se importasse.

Ranpo chegou a tempo para o jantar e depois de deixar suas coisas no quarto que lhe fora designado, desceu para encontrar o príncipe.

Este era alto e magro, possuía o rosto ossudo e um nariz aquilino. Usava uma túnica azul pesada e incrustada de cristais.

Na mesa haviam mais sete pessoas. A esposa, um coisinha pequena e fofa com cabelos escuros e fartos, tinha uma expressão tímida e alimentava uma criança de pouco mais de 6 anos que parecia muito incomodada.

Dois homens de meia idade, com bigodes quase idênticos que segundo o príncipe vieram visitá-lo de muito longe e permaneceriam por duas semanas.

Um casal de jovens simpáticos, com a mesma aparência, cabelos ruivos e pele pálida salpicada de sardas.

E por fim, havia aquele homem. Sua expressão era distante, fria até. Os cabelos estavam compridos quase cobrindo os olhos, a pele parecia muito pálida e macia. Quando ele ergueu a cabeça repousando os olhos em Ranpo, o detetive compreendeu que aquela pessoa era muito inteligente e observadora.

Depois de cumprimentar a todos apropriadamente, ele encaminhou-se e sentou-se ao lado dele, com um sorriso acrescentou.

-Eu sou Ranpo Edogawa. -Apresentou-se novamente.

-Ah. Eu sei. você acabou de dizer. - O homem possuía um tom melancólico.

-Decidi que gosto de você.

A Máscara da Morte VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora