Fitzgerald Harker

52 5 14
                                    

Fitzgerald encarou o tabuleiro diante dele, pela primeira vez em anos, ele não via uma saída.

-O senhor! Como conseguiu me vencer ? - O homem parecia totalmente incrédulo.

Ranpo coçou o queixo.

-Pode ter sido apenas sorte. Afinal o senhor foi campeão de xadrez, não é mesmo? - Ranpo sabia exatamente o que falar para homens do tipo dele.

-Oh, então o senhor ouviu falar disso? -o homem perguntou sentindo seu ego ser inflado.

-Claro! E quem não ouviu? - Continuou.

-Mesmo no continente asiático as pessoas me conhecem... -Ele suspirou. -Bem, acho que pode ter sido a sua sorte infalível mesmo.

-Me conte o que um gênio como o senhor está fazendo em um lugar tão isolado da Europa. - Ranpo começou, reorganizando o tabuleiro de xadrez novamente diante deles.

A senhorita Harker estava jogando cartas com o senhor Thompson e o senhor Murray. Poe estava em lugar mais afastado da sala mergulhado na leitura de um livro cujo título não se podia ler.

Fitzgerald pensou antes de dizer.

-Longa história... -Disse inspirando e expirando o ar dos pulmões.

-Nós temos tempo. -O detetive insistiu.

-Meu pai é um primo distante de sua alteza... E como tal, eles trocavam cartas durante as datas comemorativas, como o natal, e nos aniversários. -Começou.

-Compreendo. -Ranpo fez um movimentos simples e o cavalheiro continuou.

-Foi no verão passado que minha doce irmã conheceu um sujeito. Ele era bonito e espirituoso, mas sem nenhum poder aquisitivo, estudava na mesma faculdade que eu. E a conheceu em uma das festas da universidade. - O senhor Harker pareceu refletir, então moveu sua torre. -Claro que ela não deveria estar la, mas deu o seu jeito e acabou esbarrando em Anthony.

Ranpo moveu o cavalo, enquanto ouvia atentamente a história de Fitzgerald.

-Foi amor a primeira vista, pelo menos para ela. -O senhor Harker riu amargo.- Ele insistiu em cortejá-la, mas quando descobriu que a nossa família estava em decadência e que não tínhamos um dote para ela. Ele simplesmente sumiu.

-Eu sinto muito. -Ranpo disse tentando soar compreensivo, mas não entendia porque a moça guardava mágoa por uma pessoa tão mesquinha ter saído de sua vida.

-Minha irmã ficou arrasada e meu pai escreveu para sua alteza, pedindo para que nos convidasse a passar um tempo aqui. Pelo menos é o que minha irmã pensa.

-E o senhor veio para acompanhá-la... -Ranpo moveu sua torre.

-Sim e garantir a segurança dela...

-Acha que ela não está segura?

O homem olhou para os lados certificando-se de que ninguém estava ouvindo os dois e sussurrou.

-Nenhum de nós está. -Com estas palavras ele se fechou em um casulo e não disse mais nada, deixando o jovem detetive para dizer o mínimo, intrigado.

Depois de terminada a partida Edogawa levantou-se e se sentou ao lado de Poe, limitando-se a observá-lo silenciosamente.

Depois de alguns minutos o outro ergueu os olhos do livro e o fitou demoradamente.

-Algumas pessoas ficariam assustadas com o seu comportamento. -Disse por fim.

-É, mas não você. -Ranpo respondeu com um sorrisinho.

-O que quer de mim? - perguntou.

-Para ser sincero, nem eu consigo explicar. É estranho. -Poe fechou o livro, tentando esconder seu interesse crescente.

-se passasse mais tempo comigo e não fugindo de mim, Talvez eu conseguisse descobrir. -o outro virou-se escondendo o rubor de sua face.

-Eu não o estava evitando. -murmurou.

-Desculpe, não entendi o que você quis dizer... - Ranpo insistiu.

-Eu não estava fugindo de você! -O outro disse com a voz um pouco mais alta do que as pessoas estavam acostumadas e algumas cabeças se levantaram de seus afazeres para encará-los.

-Não estava? -Ranpo não dava atenção nem importância aos outros naquele momento.

-Não. -O escritor insistiu.

-Mas era o que parecia. - Ranpo cruzou os braços pouco convencido.

O outro bufou levemente irritado e permaneceu em silêncio.

-Me diga senhor Poe... - Naquele momento o escritor só desejava que ele parasse de falar tanto.

-O que quer saber? -Disse pensando em todas as formas que poderia fazê-lo calar a boca.

-O que o senhor está escondendo de mim? -Poe ficou surpreso e não conseguiu evitar de sorri levemente.

-Não tenho nada a esconder. -Ele levantou-se e encarou o homem diante dele.

-Então me responda... Por que seus olhos sempre estão em mim?

Poe mordeu o lábio e fechou os olhos antes de sair...
Ele murmurou algumas palavras inaudíveis e saiu apressado.

O dia passou e Ranpo seguiu reorganizando suas anotações, ele encarou o esboço que havia feito e deu-se por satisfeito. Ou quase.

O detetive encaminhou-se pelos corredores e parou diante de uma porta grande e maciça, com uma madeira escurecida e entalhes feitos com bastante esmero.

Não hesitou nenhum pouco antes de Bater. Uma. Duas. Três. Quatro vezes.

Já era tarde e os outros já haviam se recolhido, por isso ele imaginava que seu amigo escritor não deveria ter saído tão tarde.

Depois de alguns minutos de espera, ele tornou a bater na porta sentindo-se impaciente e não acreditando nenhum pouco que o outro estava disposto a ignorá-lo.

Ele segurou a maçaneta com força e desta vez houve um pouco de hesitação em seus movimentos. Com um suspiro encorajador, ele adentrou o quarto.
O lugar era muito bonito, com decorações elegantes e duas estantes contendo centenas, não, milhares de livros de todos os tipos.

A escrivaninha estava repleta de folhas soltas e pequenos livretos, alguns continham contos, outros, poemas e alguns rascunhos de desenhos estranhamente obscuros.

A luz das velas nos castiçais permanecia parcialmente acesa, deixando o quarto banhado na penumbra. Poe repousava suavemente sobre o colchão. ele usava uma calça fina de linho e nada mais... A pele pálida do seu peito que subia e descia suavemente estava exposta e os cabelos escuros caíam sobre a testa.

Ranpo se aproximou com passos suaves e muita cautela para não acordar.

Aproximou sua face da dele, procurando algum indicio de que ele estivera apenas fingindo

Ele espantou-se quando uma mão firme e forte agarrou seu pulso puxando-o em direção a cama. Com uma força descomunal Poe se colocou sobre o corpo do detetive, prendendo suas mãos sobre o travesseiro e segurando seu corpo com as pernas.

-O que você está fazendo aqui?! -Poe perguntou.

-Queria falar com você... -O escritor piscou algumas vezes antes de reconhecer a figura pequena de Ranpo e demorou alguns segundos para perceber que a situação que eles estavam era um tanto constrangedora.

E por mais atormentador que aquilo tudo parecesse, ele estava gostando da sensação.

A Máscara da Morte VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora