Saul Thompson

44 5 10
                                    


Algumas horas mais tarde e com um curativo na cabeça, Ranpo estava novo em folha e pronto para interrogar o Jovial Sr. Thompson.
Ele parecia honesto, apesar de tudo, mas no ofício de sua profissao Edogawa aprendera a desconfiar das pessoas certas demais, nem sempre é tudo preto no branco. Claro que não se poderia generalizar, algumas só eram traumatizadas e formadas na arte de tentar agradar os outros.

Triste.

O jovem Thompson viera lhe visitar durante a tarde, uma vez que o mordomo insistira que ele ficasse de repouso durante aquele dia. Não era a ideia que mais lhe agradava, mas ele poderia fazer o melhor com as circunstancias e descobrir mais sobre o amigo do Sr. Murray.

Depois de tomar o remédio indicado pelo médico. Ranpo começou.

-Encontrei o senhor Murray ontem na biblioteca, ele parecia preocupado. -Ranpo começou.

-Eu suponho que sim... - Thompson se moveu desconfortavel na cadeira e Ranpo percebeu que ele era daquelas pessoas que não conseguiam segurar a propria lingua. Perfeito.

-Espero que ele e a sua familia estejam com saúde. -Disse com uma preocupação quase singela na voz.

-Bom. Na verdade, a família dele se foi há alguns anos. Ele tinha uma esposa que estava grávida, Rebecca, mas ele morreu de tuberculose e os médicos não conseguiram salvar a criança.

-Oh, eu sinto muito. Que tragédia. -Ele disse mas aquela história não parecia convencê-lo tanto quando o jovem Thompson.

-Imagine como foi para o pobre Sr. Murray, ele era extremamente devotado a esposa. -Saul balançou a cabeça e parecia desolado com a tragédia da vida do amigo.

-Entendo, espero que ele possa ficar bem. - Ranpo respondeu ainda sondando o rapaz.

-Bom, acho que de algum modo ele se culpa... Mesmo que não houvesse nada que ele pudesse fazer na época. - Saul suspirou e estalou os lábios.

-E o senhor, o conhece há muito tempo? -Perguntou.

-Pouco mais de um ano. Ele é como um pai para mim. Me ajudou em vários momentos dificeis. Eu devo muito ao senhor Murray. Sabe como é difícil conseguir subir na vida quando se é filho de criados. - Saul admitiu, mas não havia vergonha em sua voz.

-Muito generoso da parte dele. - o garoto assentiu.

-Pois é, por isso que eu não podia deixar que ele viesse sozinho para este lugar. - A última frase saiu quase como um sussurro.

-Oh, desculpe, não entendo o que quer dizer? - Ranpo disse fingindo inocência.

-É que durante muito tempo, várias pessoas que vinham a este lugar disseram que ele tem uma aura maligna... que as pessoas próximas do príncipe... Nunca encontram um bom fim. - Ele olhou para as portas com medo de que alguém os escutasse.

-Que curioso. -Ranpo riu.

-Deve ser bobagem, mas o que eu sei é que o tal príncipe não é uma pessoa boa, há quem diga que os tormentos que ele vem sofrendo são os castigos pelas misérias que ele infligiu aos outros.

-Que tipo de misérias? - Ranpo agora estava realmente curioso.

Uma batida soou na porta. E o velho mordomo entrou carregando uma bandeja com chá, bolo e algumas sobremesas.

-O senhor deve comer. -Disse austero.

Com essas palavras o Jovem Thompson não teve escolha se não se despedir de Ranpo e acompanhou o empregado para fora do quarto, deixando o detetive sozinho, conjecturas se formavam em sua mente, mas aquela história ainda era apenas a ponta do iceberg.

Algo estava acontecendo, ou havia acontecido?

Ou pior, ainda viria a acontecer?

Ele comeu seu lanche, tentando juntar as peças deste estranho quebra-cabeças, mas sua cabeça estava pesada e ele adormeçeu momentaneamente.

Quando abriu os olhos já estava quase escuro e ele suspirou desejando caminhar, antes de notar algo que não estava ali.

Ranpo ergueu-se sentindo-se um pouco melhor e caminhou até a escrivaninha.
Havia um vaso de flores ali...
Orquídias azuis...
Mas quem as havia trazido...?

-Senhor Ranpo! -a voz do mordomo soou grave. -Deveria estar de repouso.

-Estou me sentindo bem. -Disse honestamente.

-Ora... Faz tempo que não vejo flores tão belas... - O mordomo falou.

-Sabe quem as mandou? -Ranpo perguntou.

-A julgar pela raridade e pelo quao difícil é encontrá-las, o único que possui capital para tais meios é sua alteza, o príncipe Ébano.

Ranpo fez um biquinho. Que decepcionante.

-Quanta gentileza. -Disse lutando para esconder o sarcasmo na voz. - Ofereça a sua alteza meus agradecimentos.

O mordomo assentiu e estava prestes a se retirar, quando Edogawa o interrompeu.

-Espere! Pode levar este recado para o senhor Poe?

-O mordomo o encarou pouco convencido e então se retirou com aquela expressão sisuda.

-Obrigada Sebastian! - Ranpo disse.

O mordomo o encarou.

-O meu nome Charles. - Disse levemente irritado.

- Ah. Obrigada Charles. -O mordomo balançou a cabeça e saiu, pensando em como o tal senhor Ranpo era um sujeitinho esquisito.

Poe estava sentado na escrivaninha Perdido em seus pensamentos quando uma batida na porta o trouxe para a realidade.

Ele foi até a porta e abriu-a para ver o velho mordomo com uma expressão carrancuda lhe entregar um papel com uma letra que ele conhecia muito bem.

Nosso encontro ainda permanece? Me encontro ansioso para saber o que se passa na sua mente.

Ele suspirou e girou o papel entre os dedos e encarou a caligrafia garranchuda e quase impossível de se entender, mas por alguma razão ele entendia.

Depois de refletir por alguns momentos, ele pegou o casaco e foi até o quarto de Ranpo.

Bateu na porta algumas vezes e não recebeu resposta.

Então girou a maçaneta e entrou no quarto apenas para ver o detetive dormindo sobre a escrivaninha.

Poe tomou-o em seus braços e o colocou sobre a cama com cuidado. Por um momento ele desequilibrou-se e quase caiu sobre ele.

Seu coração batia descompassado e ele suspirou aliviado quando o outro permaneceu de olhos fechados.

Encarou as flores sobre a escrivaninha.

-São cortesia do príncipe, segundo o velho Sebastian. -Ranpo disse com a voz rouca.

-Sebastian? - o outro perguntou confuso. - Quem é Sebastian?

-O mordomo. -Poe riu.

-Não seria Charles?- O escritor perguntou.

-Tanto faz... -Ranpo respondeu.

-Ele disse que foram um presente do príncipe? - O outro virou-se para encará-lo na cama e por um instante seus olhos se encontraram.

-E não foram? - Ele esperou um momento antes de responder.

-Sim. Creio que sim.

Ranpo tinha a resposta que precisava. E um pequeno sorriso escapou de seus lábios.

-Já tem a minha resposta? -o detetive perguntou.

-Me dê mais um ou dois dias... As coisas são esquisitas demais por aqui.

Com um boa noite, Poe partiu e Ranpo ficou sozinho, pensando que o escritor estava certo.

Tudo aqui era muito esquisito, incluindo o próprio Poe.

A Máscara da Morte VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora