A manhã chegara fria e escura, nuvens se aglomeravam no céu e o castelo parecia mergulhado em uma bolha cinzenta.O desjejum fora servido exatamente as sete horas. Uma variedade de pães e bolos, ovos e biscoitos acompanhados de chá ou leite. A jovem senhora da casa estava a beliscar um pão com delicadeza e sorriu quando Ranpo entrou.
Os outros convidados não haviam descido ainda.
Poe também não estava lá.
Ele aguardou silencioso enquanto observava a mulher, não pela primeira vez, ele desconfiara que ela era mais inteligente do que deixava transparecer.
A jovem ergueu os olhos calmos para ele e lhe indagou.
-O senhor dormiu bem? - Perguntou enquanto empurrava pequenas migalhas de bolo na boca do filho. Ranpo de fato não compreendera, por que os criados não cuidavam da alimentação do pequeno príncipe, uma vez que eram todos extremamente ricos. Nunca entendia essa gente da nobreza.
Passos na escada o fizeram erguer a cabeça para o corredor.
Poe se aproximou, usando um traje simples, os cabelos bagunçados como sempre. Parecia muito adorável naquela manhã. Ele o fitou rapidamente e sentou-se no lado mais distante. Parecia nervoso.
Ranpo arqueou a sobrancelha e não conseguiu evitar um sorrisinho enviesado.
Os irmãos Phillips desceram simpáticos e cumprimentaram os presentes.
Logo depois todos estavam a mesa. Sua alteza conversava e gesticulava parecendo animado. Mas Ranpo notou que algo em suas feições não estava correto. Logo depois da refeição eles conversaram.
Naquela noite, quando sua esposa já estava dormindo, o príncipe ouviu um som suspeito, como passos apressados. Ele sentou-se na cama e observou o ambiente ao redor. A porta estava entre aberta.
O que o perturbou, pois ele lembrava perfeitamente de tê-la trancado com a chave.
O seu coração esmurrava o peito,quando ele levantou-se. Apenas um castiçal permanecia aceso. Com os acontecimentos recentes, ele se adaptara aquela nova realidade. As chamas da vela que iluminavam parcialmente o quarto, lhe traziam certo conforto e permitiam que ele desfrutasse de uma noite menos apavorante de sono.A porta fez um som suave ao se abrir completamente.
As velas apagaram-se todas de uma vez. E apenas a luz da lua iluminavam fracamente o ambiente.
Então, ele viu.
A máscara flutuava diante dele. Aquelas que os médicos usavam durante os anos da peste.
O príncipe correu para a porta e girou a chave três vezes. Antes de correr para a cama e se enfiar embaixo dos lençóis completamente apavorado.
Ranpo acreditou parcialmente naquela história, máscaras não flutuavam, o mais provável foi que alguém usava uma roupa fácil de de camuflar nas trevas da noite, dando a impressão de que não havia ninguém, exceto o objeto flutuando em meio a penumbra.
O que ele não conseguia explicar, era por que alguém estaria tão interessado em deixar o príncipe apavorado daquela maneira. Bom, os nobres sempre escondiam algum podre que acabava resultando em homicídio... Mas alguma coisa o estava... Escapando.
Com autorização do príncipe ele começou a investigar os aposentos principais do castelo.
Não havia muita coisa ali.
Exceto os trajes estravagantes e alguns objetos ridiculos de decoração.Novamente ele sentia que estava deixando passar alguma coisa. Por fim, começou a procurar qualquer objeto que pudesse ser usado como um mecanismo.
Ele mirou a moldura gigante que possuía uma foto da família real e pensou que parecia um tanto grotesco. Deslizou as mãos pelos entalhes da madeira e puxou-a, mas como o quadro não ameaçou se mover, Ranpo resolveu-o deixar de lado.
Nada de passagens secretas então. Ranpo não conseguiu evitar de se sentir decepcionado.
Caminhou pelos corredores e passou pela Sala de leitura, que estava quase vazia, com exceção do homem que encarava o tabuleiro de xadrez.
-Ah, não acho que jogar sozinho pareça um bom exercício... -Ele aproximou-se.
-Xadrez é um jogo interessante, não é, Sr. Edogawa. - Poe disse, surpreendendo-o. -É interessante não é? A dama ser a peça mais forte do jogo...
-O senhor acha? - Ranpo disse sugestivamente, mas Poe permaneceu silencioso. -O mundo em que nós vivemos é um tanto injusto com as mulheres. por isso eu aprecio muito o senhor...
-Acho que no fundo os homens covardes temem as mulheres... -Poe completou.
Ranpo permaneceu imóvel, algo naquela afirmação o deixara com a pulga atrás da orelha. O que estava deixando passar? Ainda era cedo... Embora ele sentisse que alguma coisa estava por vir.
-Tenho uma sugestão, senhor escritor... Vamos jogar um jogo?
Poe arqueou as sobrancelhas, parecendo interessado.
-A que tipo de jogo o senhor se refere? - Ele moveu o bispo duas casas.
Estou entediado e acho que você é a pessoa certa para me ajudar a cuidar disso.
-Pode me acompanhar até o quarto?-Hmm. -O escritor se levantou da poltrona e o seguiu, os sons de seus passos ecoando pelos corredores de pedra.
Alguns momentos depois eles adentraram o ambiente. Poe observou o quarto que era mediano em tamanho, embora a decoração fosse suntuosa.
A cama era grande com um dossel luxuoso, e uma cômoda ornamentada e bastante espaçosa do lado. Havia também uma escrivaninha e alguns livros desorganizados, bem como notas estranhamente posicionadas.
-Um pouco demais pro meu gosto, mas não estamos aqui para falar da decoracao. -O detetive acrescentou.
-voce disse que queria jogar...
-E o senhor é o único por aqui inteligente o suficiente para me acompanhar. -Os olhos do outro reluziram momentaneamente.
-De fato. -Poe respondeu desafiadoramente.
-Ho ho. Isso está ficando interessante.
-Ranpo o encarou.- Desde que eu cheguei neste lugar... Sinto que algo está fora do lugar... Algo não parece certo...
-Mas você ainda não consegue descobrir o que é.
-É aí que você se engana, eu sei exatamente o que é. Porém não sou modesto e pode ser que a minha dificuldade de admitir um erro -afinal eu nunca errei antes e não acredito que isso viria a acontecer agora- me impeça de ver a verdade mais claramente.
-Por isso o senhor espera que alguém tão genial quanto você, observe e chegue -ou não- a mesma conclusão. -Poe terminou.
Ranpo aplaudiu.
-Exatamente. É só isso. Vejo o senhor à noite, quando todos estiverem em seus aposentos.
por um momento ele viu um leve rubor na face do outro, o que lhe deu uma ideia, mas ainda seria cedo demais para executar.
Poe saiu e Ranpo ficou murmurando baixinho enquanto dialogava com os próprios pensamentos.
Notas da autora
Não resisti em usar o ho ho 😅
Alguém pegou a referência??
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A Máscara da Morte Vermelha
FanficRanpo Edogawa parte de sua terra natal para uma cidade longínqua, buscando chegar ao fim de um mistério que assombra o príncipe Ébano e seu castelo de pedra Consciente de que tudo ali é mais do que aparenta ser, ele precisa investigar minuciosamente...