A manhã chegara com ventos gelados que faziam estremecer as árvores da colina.
A lareira já havia sido acesa quando Ranpo desceu as escadas pronto para expor toda a realidade dos assombros que envolviam aquela mansão.O desjejum estava servido, farto como sempre, repleto de bolos, pães, frutas e ovos.
Ele deixou que todos aproveitassem a refeiçao conversando sobre assuntos triviais, logo depois o detetive solicitou que todos o escutassem.-Desde que cheguei a este lugar algumas coisas me pareceram um tanto incomuns. -Começou, mas não em um tom acusatório.
Os outros o obsevavam curiosos.
-Claro que a primeira delas foi a escolha de um lugar tão sombrio para se viver, embora o castelo não esteja em condições ruins... Nenhum príncipe escolheria viver aqui. Embora de fato o príncipe Ébano, tenha vivido neste lugar há muitos e muitos anos. Em outra década, ouso dizer. -Explicou. E os convidados entreolharam-se, suas faces expressavam confusão.
-Mas, vamos interpretar o jogo que alguem preparou para mim. -Disse com um sorrisinho.
-De acordo com as provas que tenho em mãos... aquele que deseja a morte de sua alteza é nada mais nada menos, que o nosso querido Sebastian aqui... -apontou para o mordomo. - ...com sua plantação de beladona, no jardim, que para leigos pareceria uma planta totalmente inofensiva.
O mordomo permaneceu em silêncio.
-Mas claro que ele não chegaria sozinho tão longe, sem a ajuda de sua querida senhora, a Princesa sirena. -A Princesa o encarou com uma expressão inescrutável.
Ébano tremeu os lábios.
-Porém, não precisa mais fingir! Devo dizer que todos vocês são ótimos atores, embora nenhum seja tão bom quanto o homem que arquitetou esta peça, não é mesmo, senhor Poe? -Ele fitou aqueles cabelos escuros e desejou tocá-los.
O homem deu uma risada e depois bufou.
-Eu sabia que não teria como ganhar essa, admito... que subestimei suas habilidades... Mas cada instante dessa trama, valeu a pena. -suspirou.
Os atores se encararam entre si.
-Acho que falhamos, senhor. -Eles curvaram-se levemente.
-Não, não se preocupe, com qualquer outro teria funcionado,mas não comigo... -Ranpo explicou convicto.
-Afinal eu já sabia que o verdadeiro principe ébano se foi há mais de 30 anos... Era uma informação esquecida... Mas não completamente irrelevante...
-O que mais nos entregou? -Caroline perguntou.
-Só alguns detalhes, é difícil manter um personagem por muito tempo... Às vezes quando um dos senhores, ou senhoras iam para os jardins eu conseguia observar, certas expressões... -disse sugestivamente, e a jovem dama sentiu um rubor se espalhar por sua face.
-Entendo. -Ela disse, evitando encara-lo.
-Menos o Sebastian, é claro. Ele era bastante honesto, por isso jamais poderia ser escolhido para ser o assassino. Embora pela minha experiência, são desses que temos que desconfiar primeiro. -acrescentou.
-E o relacionamento da senhorita Sirena e da jovem Caroline, me deixou intrigado... Não é comum que as pessoas se envolvam tão intensamente umas com as outras em tão pouco tempo, ainda mais quando é preciso um tempo para que haja aceitação. -Sirena sorriu -Eu só podia supor que as duas tinham um relacionamento de longa data.
-Minha culpa... Estava com saudades... -Ela piscou para a outra.
-E quanto as flores de beladona... quando Charles me disse que seu acidente havia deixando sequelas, me pareceu bem simples associar, a ideia de que alguém queria que eu pensasse em envenenamento. E não no fato de que o mordomo precisava das flores para aliviar as dores constantes.
-O que devo dizer, é completamente ilegal. O que não quer dizer que me importo.
-Muito perspicaz, Sr Ranpo. Mas devo dizer que meu nome verdadeiro Sebastian Trent. E trabalho junto do senhor Poe desde que ele era um adolescente. -O mordomo explicou.
-Rá! Eu sabia, Sebastian lhe cai muito melhor! -Acrescentou com uma risada.
-Então? Você não está chateado? -Poe perguntou.
-Claro que não, Edgar. Foi muito divertido.
O outro sorriu...
-Acho que vou deixar você levar a melhor, mas na próxima, não serei tão gentil. -Acrescentou.
-Foi muito inteligente da parte de vocês, criarem histórias para me confundir... Mas eu estou acostumado a lidar com o ser humano e com suas expressões mais genuínas de medo, tristeza, felicidade, raiva e etc. E embora vocês sejam bastante habilidosos no que diz respeito a atuação é preciso ir um pouco mais além para enganar um homem como eu.
Ele retirou uma das pecinhas do tabuleiro de xadrez que carregava no bolso e colocou posicionada no lugar perfeito.
-Xeque-mate!
Com uma risada vitoriosa, ele seguiu em direção aos próprios aposentos.
Poe o observou afastar-se.
Ele sentia-se derrotado e ao mesmo tempo orgulhoso do outro... Seu único medo era que agora que tudo havia chegado ao fim... O outro optasse por partir.
Ele sentiu a mão de Sebastian em seu ombro...-Deixe que ele faça as próprias escolhas... O senhor já manifestou que seu desejo é que ele fique...
Se for o que o fará feliz... Ele saberá o melhor caminho a tomar...-Eu não sei se posso oferecer o tipo de emoção que ele espera encontrar... -Poe disse melancólico.
-Menino tolo... O mundo é um lugar grande e cheio de emoção... Mas isso que existe entre vocês dois... Só se encontra uma vez na vida...
Poe ficou em silêncio absorvendo aquelas palavras.
-Se ele é tão inteligente quanto julgar ser... -Ele deu um tapinha no ombro do outro e se afastou devagar.- então, ele vai saber.
Poe ficou para trás, remoendo pensamentos que o faziam querer afundar em si próprio...
Ele que escrevera sobre o medo tantas vezes, agora o sentia como um soco forte e violento fazendo o seu estômago retorcer...
Dirigiu-se para o quarto e pegou papel e tinta e pôs-se a escrever... Como sempre fazia em cada uma das vezes que tentara negar a própria realidade.Algum tempo depois uma batida soou na porta insistentemente.
-Já estou indo. -Ele levantou-se sentindo-se levemente entorpecido e abriu a porta para ver aquela figura pequena e animada que tornara os seus dias mais agitados e envolventes.No inicio ele o havia achado... Tão completamente irritante, mas agora havia uma necessidade estranha e incontrolável de tomá-lo em seus braços a cada uma das horas em que eles estavam a sós.
Ranpo sorriu.
-Sebastian pediu para eu te chamar. Ele imaginou que você provavelmente se esquecera do almoço.
A propósito, ele disse que você não se incomodaria se eu ficasse no quarto em que estou instalado, mas mesmo assim, eu quis perguntar.Poe engoliu em seco e absorvendo uma palavra de cada vez e com um sorriso gentil, e uma explosão de sentimentos que só alguem como ele deria capaz de manter, ele disse.
-Pode escolher o quarto que quiser!
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A Máscara da Morte Vermelha
FanfictionRanpo Edogawa parte de sua terra natal para uma cidade longínqua, buscando chegar ao fim de um mistério que assombra o príncipe Ébano e seu castelo de pedra Consciente de que tudo ali é mais do que aparenta ser, ele precisa investigar minuciosamente...