Capítulo 21

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Hanni:

Tenho poucas ou nenhuma lembrança feliz com a minha mãe. Ela nunca foi a uma apresentação da escola, jamais participou dos dias das mães, sempre se manteve bem longe de tudo que fosse "materno". Por isso, não tenho expectativas, que um dia receba algo nesse sentido vindo dela.

— Observei que suas redações estão mais... Sentimentais!

Minha mãe quebra o silêncio na sala de jantar. É raro, mas algumas vezes, ela janta em casa. Eu preferia que isso não acontecesse, porque era sufocante, ficar na presença muda e fria dela.

Eu mastigo devagar, ganhando tempo, enquanto corto o espinafre no meu prato.

Procurando como vou explicar, que estou mais sentimental porque conheci uma garota doce, que me desperta coisas boas, mesmo que me deixe distraída.

— Meu professor de literatura me deu algumas sugestões, achei interessante, aplicar nas minhas redações.

Não olho para ela, porque senão, minha progenitora saberia da minha mentira.

Eu não me sinto nem um pouco pronta para deixar ela por as garras em cima da Minji se souber que estamos juntas.

— Péssima sugestão, aquelas palavras doces, a fazem parecer fraca.

— Gosto de como o texto ficou e não penso assim!

— Claro, você no fundo é fraca. — Ela suspira. — Nunca aprende nada do que eu tento te ensinar!

Sinto vontade de me afundar na cadeira, mas apenas levo o espinafre na boca, mastigando mais uma vez e tentando me manter serena. Quando respondo, me sinto mais firme.

— Aprendo tudo mãe, mas algumas coisas, acho que não são necessárias. Qual problema num texto mais singelo?

O barulho dos talheres jogados no prato me fazem ter uma ideia que a irritei. Eu suspiro, deixando meus próprios talheres no prato, usando o guardanapo para limpar os cantos da minha boca. Quando encaro a mamãe, ela parecia pronta para me deserdar.

— Sabe o quão patética parece?

— Não, mãe.

— Desde pequena você é uma coisinha carente, que grita por atenção, tentei tirar isso desde cedo, mas o seu pai achava lindo e a mimou... Talvez seja culpa dele você ser tão estragada!

Meus olhos ardem, mas não choro, porque passei dessa fase. Pelo menos na frente dela.

— Papai deixou a gente quando eu tinha oito anos, como poderia me estragar?

— Não seja engraçadinha. — Ela franze o rosto. — Eu preferia que você fosse um menino, isso com certeza, seria muito melhor. Mas parece que a vida adora me frustra com coisas indesejadas!

Ela se levanta da mesa e me deixa para trás. Eu encaro a parede cinza da sala de jantar, nunca gostei dessa cor, não passa confiança, não é nem preto e nem branco, apenas um meio termo sem fim.

Odeio meio termos, pois parecem inseguros.

Cinza combina com a minha mãe, ela nunca foi segura.

Limpo uma lágrima que desce pela minha bochecha. Nem tento terminar de comer porque eu estou com um gosto ruim na boca. Eu apenas me retiro e vou para o meu quarto, mas quando chego lá, estou chorando.

Me sinto tão sozinha e só queria me sentir bem. Então assim que fecho a porta, me jogo na cama, pegando meu celular e ligo para a primeira pessoa que me vem à mente.

— Oi gatinha!

A voz doce e animada dela se infiltrou em meu ossos, mesmo do outro lado da linha.

— Oi... — Minha voz falha.

Verão cruel ~ BbangsazOnde histórias criam vida. Descubra agora