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Mais um longo dia de aulas pela frente. 

  Levantei-me e fui fazer o que se faz de manhã: comer o pequeno almoço, lavar os dentes, vestir-me e fazer a mala. Pois, fazer a mala. Não a fiz ontem porque? Porque sou sempre a mesma, chego a casa, começo a ler e esqueço-me do resto. Fui ver o horário. História, Geografia e Português. Duvido que fosse precisar dos livros, mas, pelo sim, pelo não, coloquei-os na minha mala.

  Estava quase a chegar à escola, acompanhada, como sempre, pela música, quando sinto uma "leve brisa". Olhei e vi que, por pouco, não era atropelada. Um homem sai do carro, com uma camisa azul e umas calças de ganga, e dirige-se a mim. Olhei para o seu rosto. Adivinhem quem era? Exato. O professor de Português!

- Está bem? - Pergunta, muito aflito.

- Estou sim, vinha distraída e não reparei. - Evidenciei eu, a ficar corada.

- É minha aluna certo? - Pergunta o meu professor, expressando uma cara pensativa.

- Sou, Charlotte Hart, 11ºG.

- Hm, está bem aluna. Veja se chega à escola segura, tem de tomar mais atenção! - O professor aconselha-me e vai em direção ao seu carro.

  Eu não acredito, a escola ainda agora começou e o meu professor de Português deve estar farto de me ver, ainda por cima sempre a fazer porcaria. Mas bem, coloquei um auricular no ouvido e continuei o caminho para a escola, agora mais atenta, já bastava de vergonhas por hoje.

  A primeira aula correu bem. A aula de História, com a professora Harley, é sempre entusiasmante. Devido a tal, as aulas passam a correr, e quando dei por mim estava no intervalo. Naomi queria café, e eu fui fazer-lhe companhia até ao bar da escola. Não que me apetecesse muito, mas não tinha mais nada para fazer. O bar da escola era um pouco distante dos blocos de aulas. Era num dos limites da escola, onde só havia árvores e agradáveis flores, que na primavera aromatizavam o ar. A montra do bar era a melhor coisa de sempre. Cores vivas, devido às coberturas dos bolos e às frutas, alegravam o espírito cinzento dos presentes. Ninguém, ou quase ninguém, desfruta do regresso às aulas. É sinónimo de estudo e trabalhos. Naomi pediu o seu café e fomos sentar-nos numa mesa junto à entrada. Cinco minutos depois aparece a professora de Português do ano anterior numa animada conversa com o professor Stanley. Uma junção perigosa. Muito perigosa.

  O dia correu normal, aulas e mais aulas. Quando dei por mim estava a subir as escadas para a última aula do dia, que era, para variar, Português!  Fui para o meu nada discreto lugar, mesmo em frente ao professor que quase me atropelou. 

  A aula decorreu dentro da normalidade. Começamos a fazer algumas revisões a nível gramatical, mas só eu e outra colega nos lembrávamos de algo, ou seja, a aula consistiu no "stor" a fazer perguntas e só duas pessoas punham o dedo no ar. Típico da turma. Quando tocou, o professor disse, bem baixinho:

- Charlotte, pode ficar cinco minutos a falar comigo?

Assenti com a cabeça. Fiz sinal a Naomi que ia demorar. Foi aqui que entendi que o meu interior estava a ferver. Será que o professor iria falar do que se sucedera de manhã?! Não sei, mas era estranho querer falar comigo no segundo dia de aulas.

- Diga professor, passa-se alguma coisa? - Perguntei eu, com a voz tremida.

- Não, de negativo nada, não se preocupe. - disse, talvez porque entendeu que estava a ficar nervosa - Hoje, de manhã, conversei com a sua professora do ano passado. Não sei se sabe, mas haverá um concurso sobre literatura em breve e é preciso selecionar um aluno por turma. Como não vos conheço, e a data limite de entrega da inscrição é para a semana, falei com a professora para me ajudar a escolher. - respirou fundo, depois da longa explicação - E foi você a escolhida, a professora achou que tinha capacidades, e pelo que vi hoje, também fiquei com essa ideia. Aceita?

- Hm, ah, ok, pode ser. Mas o que terei de fazer? - Pergunto, bastante admirada e elogiada, de certo modo.

- Terá algumas aulas extra, de preparação, comigo. Basicamente terá uma lista de obras para ler e depois terá de responder a algumas perguntas sobre as mesmas. O melhor receberá uma pequena bolsa, no valor de cinco mil euros, e alguns livros. - Explica.

- Está bem. E quando começam as tais aulas de preparação? - Perguntei eu, já a ficar preocupada, menos horas de música e leitura, mais horas de escola. 

- Se possível, o início das aulas ficavam para a próxima segunda, logo após a nossa aula. Dose dupla! - E quando diz "dose dupla" o professor pisca-me o olho, castanho como o meu.

  Assim ficou combinado. Fui andando para a casa, a pensar nesta nova oportunidade. Se ganhasse seria realmente bom. 

15:00Onde histórias criam vida. Descubra agora