Paulo André
📍Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo.
O quebra-cabeça não encaixava. Eu trouxe a Anna viva para o melhor hospital da cidade e também do país e me recusava a acreditar que não a levaria de volta para casa. Após a dor, o próximo estágio do luto é a revolta. Eu me revoltei por completo com Deus. Como eu falaria para a Jade que a filhinha que ela gerou, amamentou e cuidou com tanto amor não estava mais entre nós? Como eu falaria para a Maya que nunca mais ela ouviria a voz doce da Anna dizendo que lhe amava? Como eu falaria para o Peazinho que a Anna nunca mais lhe chamaria para brincar? Simplesmente não entra na minha cabeça que Deus nos abandonou desse jeito! Eu não aceito! Eu não quero aceitar! Eu disse a Jade que quando ela sentisse medo de perder a Anna se lembrasse que Deus jamais faria isso com a gente e agora eu arrastava minha cara no chão. Doía! Doía muito! Meu celular não parava! Ora ligações da Maya, ora mensagens...Mas eu na tinha cabeça para lhe responder coisa alguma! Até que eu senti um fôlego de esperança soprar nos meus ouvidos ao escutar uma mulher vestida de branco como uma enfermeira perguntando o motivo de eu estar tão transtornado assim, o tal médico que me deu a fatídica notícia respondeu que a menor de nome ANNA LUÍSA morreu aos cinco anos de pneumonia. Mas que loucura é essa? A minha Anna não tem nome composto, tem apenas dois anos e não tava com pneumonia. Meu sorriso voltou aos lábios, acho que uma grande confusão se formou ali. Quando disserem que a pressa é inimiga da perfeição se lembrem desse episódio. O primeiro médico, aquele que me deu a notícia da entubação, caminhou em minha direção com um sorriso no rosto.
Médico Plantonista 1: Trago duas notícias! Uma boa e outra não tão boa assim! Vou começar pela excelente, ok?
Eu não queria escutar nada. Estava tão nervoso que ouvir apenas que a Anna estava viva me bastava.
PA: Doutor, pelo amor de Deus, ela tá viva? A minha filha tá viva? Ela chegou aqui desmaiada nos meus braços e toda roxinha! Ela tem dois anos! Tá enfrentando um câncer, de manhã ela tava bem e eu não sei o que aconteceu, foi do nada...ELA CHAMA ANNA PICON FROES!
O médico gesticulou com as mãos na intenção que eu me acalmasse e eu respirei fundo.
Médico Plantonista 1: A paciente Anna Picon Froes está viva! Lógico que está! Inclusive, ela teve um estado de melhora e já consegue manifestar a respiração! Se o quadro progredir desse jeito, vamos retirar o tubo logo logo! Mas eu não vim falar apenas sobre isso! Eu vi no cadastro da Anna fornecido pelos dados do documento pessoal dela que é uma paciente oncológica e o melhor oncologista pediatra do país está de plantão aqui, justamente hoje! O destino foi realmente muito bondoso com vocês! Ele tá te esperando e quer te dar uma notícia, você me acompanha?
Eu tava igual um robô, fazendo as coisas totalmente no automático, ouvir que a Anna estava viva e que faltava pouco para tirar o tubo dela me tirou um enorme peso das costas. Enquanto eu caminhava pelos corredores até um pedido de desculpas para Deus eu senti o desejo de fazer.
"Deus, muito obrigada por cuidar da nossa Anninha tão bem! Ela é tua e não nossa! Cura essa menina! Dá essa alegria a mãe dela que já sofreu muito, por favor! E me perdoa por tudo aí! Eu fiz uma grande confusão, mas o Senhor é especialista em colocar as coisas no lugar..."
Eu respirei aliviado, o oncologista pediatra me esperava numa sala reservada e, por obra de Deus, ele já conhecia a Anna, afinal, já havia atendido a nossa menina lá no Rio de Janeiro. Ele me cumprimentou e pediu para eu sentar, o que ele me disse não me agradou num primeiro momento, mas eu não tinha dúvidas que o final dessa história geraria um grande testemunho.
Pediatra Oncologista: A Anna reagiu bem a primeira parte do tratamento, mas o que eu temia aconteceu: o organismo dela, por ser ainda muito frágil, não está sabendo lidar e começou a rejeitar algumas drogas presentes no coquetel da quimioterapia, como resultado, ela vem passando mal no dia-a-dia como aconteceu agora! O que aconteceu hoje não pode se repetir, talvez numa próxima seja fatal! E tudo que menos queremos é lidar com isso! Resumindo, o transplante para a Anna, hoje, não é uma alternativa, mas representa a única via completa de cura eficaz! Eu sei que o senhor é o companheiro da mãe da Anna e sempre a acompanha nas consultas, por isso estou comunicando o senhor que quando a senhora Jade Picon Froes autorizar, colocaremos a Anna na fila do transplante de medula óssea.
Eu tinha uma carreta de dúvidas sobre isso.
PA: Qualquer pessoa pode doar? E se ela for para o SUS não vai demorar muito, doutor?
Pediatra Oncologista: Qualquer pessoa que esteja completamente saudável e sem doenças crônicas pode ser um doador de medula óssea. A fila do SUS funciona por grau de precisão, no caso da Anna, é grave! Ela precisa de uma medula óssea o quanto antes!
Ele me respondeu mais algumas dúvidas e eu vi uma mensagem da Maya no WhatsApp que dizia que a Jade ainda dormia, eu olhei no relógio de pulso e eram oito da manhã, fiquei feliz pelo sono dela, enquanto ela dorme eu matava dois leões e arrumava uma confusão que não era minha, talvez eu nunca conte a cama de gato que eu fiz, ou talvez eu relate essa loucura quando a Anna estiver curada, falar que eu "matei" a Anna ao trocar seu nome deixaria a Jade impressionada e eu não acho isso, nem de longe, uma boa ideia. No final da conversa, o médico me deu um panfleto informativo sobre a campanha de doação de medula óssea e se eu pudesse ser doador, já estava nessa fila hoje mesmo, de pensar que, geneticamente, eu e a Anna devemos ter compatibilidade zero me deixava triste...
📍quem será o doador de Anna? Como vc resolveria essa história?
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Ambição
FanfictionA terceira e última fanfic da trilogia: Talvez não seja nessa vida ainda e Circo Místico.