Capítulo 64

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📍Condomínio Jardim Marapendi, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Jade

Eu desliguei o celular e permaneci imóvel por alguns segundos, me apoiei na bancada da pia e tudo que eu ouvia era a Anna cantarolando no vaso enquanto mexia as pernas. Sorri fraco e repeti para mim mesma que precisava ser forte e superar meu trauma de sangue para me limpar.

Anna: Mamain, a Nanna plecisa de bainho!


Ela se levantou e correu para o chuveiro, eu sorri fraco e achei a oportunidade perfeita para tomar coragem e me limpar desse sangue. Enquanto a água caía e a Anna estava distraída procurando algo no chão, eu me limpava, mas eu quase tive uma síncope quando vi a Anna com uma "coisa" nas mãos.

Anna: Oia, mamain! Isso é um bixinho, tadinho!


Anna olhava curiosa para aquela "coisa" nas mãos dela e eu estava em estado de choque! Quer dizer, "coisa" não, preciso me retificar, simplesmente era um bebezinho minúsculo e perfeito. Tão pequeno, mas já tinha mãozinhas, perninhas e até dedos! Sua cabeça era gigante, diante do seu corpinho ali formado eu me senti impotente por tê-lo deixado escapar. Queria que ele ou ela tivesse sentido aqui de fora o amor que eu tinha para lhe dar, mas essa não foi a vontade de Deus. A Anna, involuntariamente, fazia carinho na cabeça do bebê, talvez ela não tivesse ideia que aquele pedacinho de amor era o seu irmão, mas eu sabia que Deus quis me mostrar essa cena para que eu nunca esquecesse, existe amor em meio ao calvário. Com os olhos cheios d'água pedi para a Anna soltar o bebezinho no chão e ela, graças a Deus, não me fez perguntas.


Anna: Taum, fofinho! Ownt!


Eu sorri e coloquei o bebê fora do alcance dela, eu pensei em muitos "fins" para aquele corpinho indefeso, mas jogá-lo fora pelo vaso sanitário me pareceu cruel. Me ajoelhei diante dele e agradeci a Deus, pedi consolo e forças para que um dia eu o veja pessoalmente.


"Deus, que a tua vontade sempre prevaleça na minha vida, pois eu tenho a consciência que ela é boa, perfeita e agradável. Eu queria tê-lo conhecido, mas eu quero que o Senhor me fortaleça para conhecê-lo no Céu, no nosso reencontro, amém! Cuida da nossa família, consola o coração do meu marido, talvez ele não entenda o teu querer como eu, quebranta o coraçãozinho da Maya e cura a Anna, amém!"


A paz agradável do Céu tomou conta de mim, eu já sabia o que iria fazer com o meu bebezinho e enterrá-lo me pareceu a maneira mais digna para o seu corpinho, afinal, a sua alma já estava com Deus. Depois da Anna ter pego o bebê com as mãos, eu dei um banho na minha pequena dos pés a cabeça, e também tomei um banho dos pés a cabeça, passei álcool e desinfectei o máximo que pude, preparei a mochilinha dela, afinal, não saberia se eu passaria esse dia no hospital ou não, mas eu acho que sim. Quando eu terminei de organizar as mamadeiras da Anna com água morna e os potes de leite em pó, escutei os gritos do Paulo André lá debaixo. A Anna se assustou e eu tratei de tranquilizar o meu marido.

Anna: Mamain, o papá Aulo tá blavo?


Eu sorri fraco.


Jade: Não, meu amor! Ele deve tá procurando a gente e não viu, por isso se assustou...



Saí do quarto e apareci na escada, ele ia subindo cada degrau ansioso e com os olhos marejados, ao me ver, as lágrimas escorreram. Eu também chorei. Ali nos abraçamos forte. Ele sempre foi meu lar e a única pessoa que me decifrava no olhar.


Jade: Eu sinto muito...


Foi a única coisa que eu disse antes dele me apertar ainda mais contra o seu peito.




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