Pablo contou a Romeu que obtiveram um bom material das gravações e quis saber se o urso gostaria de fazer mais um filme.
— Vamos fazer em duas semanas e se você...
— Obrigado! — cortou Romeu, dispensando com um gesto de mão. — Vou dar um tempo!
— Ah, você já ia se esquecendo — Pablo se aproximou e entregou-lhe um pacote embrulhado, que Romeu pegou e abriu-o: era dinheiro. Parou por um momento para contar as notas. Não era um mal pagamento. Era razoável pelo papel que desempenhou.
— Saiu tudo como esperado — continuou Pablo. — O enredo, as posições, as pausas, até mesmo a gozada.
Ouvir aquilo deixou Romeu enrubescido de vergonha. Como aceitou fazer aquilo? Apesar do generoso pagamento, agora ele se perguntava como pudera se submeter a tal coisa?
Beto não demorou muito para aparecer. Com uma camisa azul sem estampas, uma bermuda roxa, seus óculos apoiados pelo focinho fino. A altura de ambos os canídeos era evidente: Beto era muito menor que Pablo, como se fosse um adolescente ainda em fase de crescimento, contudo, seu porte físico e aparência já revelando que era um adulto. Com exceção do ligeiro sobrepeso da raposa, ele se parecia com o seu vizinho raposino.
Carregando sua mochila nas costas, o raposino avisou ao lupino que estava de saída e foi até o urso. Romeu notou que ele esperava que fosse subir de carona na moto. Até poderia leva-lo, contudo, não havia um segundo capacete para que pudesse colocar na cabeça da raposa e, mesmo que houvesse, não seria do mesmo tamanho e ficaria escorregando da cabeça dela.
Urso e raposa andaram até a lanchonete mais próxima na rua, deixando a equipe de gravação para trás. Romeu caminhou direcionando a moto em ponto morto pela beirada da rua como uma bicicleta com a corrente arrebentada.
Assim que chegaram a uma lanchonete, pediram lanches simples apenas para ocuparem a boca enquanto se conheciam: onde moravam, há quanto tempo moravam na cidade, com quem moravam...
— Você morou esses anos todos sozinho? — a raposa ficou surpresa. — Deve ter sido uma vida bem solitária.
E foi, no entanto, Romeu não admitiria isso, afinal, era um macho e ele não tinha que se preocupar com isso — assim pensava, porém, ele pegava-se pensando que seria bom conviver com outro macho e até fantasiava a vida com outro macho para realizar todos os seus desejos.
— Mas foi uma boa vida — falou o urso, mastigando seu lanche. — Posso chegar a hora que eu quiser sem escutar pai e mãe reclamar. Sem ouvir irmão me cobrando dos barulhos que eu faço à noite com minha parceria — os dois deram uma risada.
— Eu moro sozinho também e estou de mudança — informou Beto. Romeu ficou surpreso. Mal conhecia a raposa e ela já estava de saída da cidade. — Eu ainda vou ficar por mais umas duas semanas. Dá pra aproveitar mais um pouquinho. O que você costuma fazer no fim de semana?
O urso ficou pensativo por um momento. O que deveria falar? Que costuma se divertir com outros machos com intenção de realizar atos libidinosos.
A raposa o convidou para passar em sua casa e, animado, Romeu aceitou. Estava animado em conhecer a raposa mais a fundo — e não no sentido sexual, afinal, usou todo o seu leite no filme e, ao menos por hoje, estava querendo fazer algo mais simples.
Ele acompanhou a raposa macho até sua casa, que não estava muito longe dali. Estacionou sua moto em frente ao portão de entrada.
Dentro da casa, algumas caixas onde várias coisas estavam sendo guardadas, outras, por outro lado, estavam sendo deixadas; inclusive, Beto perguntou se Romeu não queria alguns dos móveis. Os que lhe interessaram foram um armário e uma mesa baixa que poderia colocar no meio da sala para colocar o prato de comida depois de comer enquanto assistisse TV.
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Leite e Mel
RomanceRomeu é um urso-pardo em busca de uma companhia masculina para poder satisfazer seus desejos e ele utiliza de vários meios para encontrar o que procura. Onde essa busca poderá leva-lo a seguir?