Quando a raposa-do-campo de pelo cinzento saiu de sua casa, teve uma enorme vontade de comer pão com mel. Lembrava-se dos momentos em que comia pão com mel com sua mãe e seu padrasto. Na casa de seu pai, Vicente também comia pão com mel. O pai sempre acordava cedo e ia comprar um pouco de pão para todos comerem. Apesar de não se sentir muito confortável na casa de sua madrasta, gostava da presença de seu irmãozinho.
Caminhou até o mercadinho perto de sua casa, na esquina da quadra, procurou o mel pelas poucas prateleiras que ali havia e acabou não o encontrado. Talvez houvesse no outro mercado maior do bairro.
Teve que voltar para casa para pegar a bicicleta e ir até o mercado maior. Deixou a bicicleta na área para bicicletas. Procurou o mel pelas prateleiras do mercado até encontra-lo bem escondido em uma área inesperada. Comprou-o e voltou para casa na sua bicicleta. A corrente da bicicleta soltou-se pouco antes de voltar para casa, obrigando-o a desmontar. Ficou com preguiça de ter que arruma-la de volta, afinal, já estava bem próximo de casa. Continuou o resto do caminho andando.
Encontrou Romeu, sentado na amurada da casa alugada que ficava em frente da casa de Vicente. Deu um aceno para o grande urso que, assim que o viu, acenou de volta. O urso esticou o pescoço, olhando para a bicicleta de Vicente. Droga, ele notou na corrente!
— Ei! Sua corrente — apontou o urso, levantando-se e indo até a raposa-do-campo.
Vicente parou e esperou até que o urso chegasse. Romeu, em uma rápida análise, informou que seria preciso fazer um ajuste na roda da bicicleta para deixar e corrente firme e esticada. O urso tinha as ferramentas para isso e ofereceu ajuda para a raposa, que não recusou, e ambos foram até a varanda aberta da casa alugada do urso.
A raposa-do-campo esperou até que o urso voltasse com uma caixa de ferramentas.
— Você é bem preparado — comentou Vicente.
— Acabei ficando depois de ter comprado minha moto — falou o urso. — Imagina ter que pagar pra cada vez que dá um problema na moto. Probleminha assim — apontou para a correte caída da bicicleta. — eu mesmo posso resolver.
O urso pegou cuidadosamente a bicicleta da raposa, virou-a e começou a mexer na peças com as chaves. Desmontou-a e remontou-a, mexeu e fez alguns testes até ficar boa. Vicente observou admirado com a habilidade e o cuidado para um macho tão grande.
— Mas a gordinha não vai ficar aqui muito mais tempo — comentou o urso.
Vicente ficou triste em seu interior ouvindo aquilo. A moto era bonita. O que teria sido? O aluguel estava complicado de pagar? As contas ficaram mais altas? Isso não deixaria as coisas mais difíceis depois?
— Eu vou trocar com meu pai por um carro — continuou. — Mesmo que eu more sozinho, eu sou um cara grande e acabo carregando muita coisa — explicou. — Pode não parecer, mas minha gordinha sofre pra carregar — apontou para a moto.
Não era uma moto tão grande, mas também não era magra. Era uma moto comum, mas, olhando com um pouco mais de atenção, Vicente notou que ela era ligeiramente mais robusta para aguentar Romeu. Imaginou que, de tanto ter visto o urso ir e vir, a moto aguentaria seu peso. O urso, apesar de robusto, não era o maior que já viu e estava bem longe de ser obeso. Era gordinho e mesmo assim muito forte. Os braços fortes eram visíveis. Até mesmo as coxas flexionadas na bermuda curta para jogar futebol. Tornou sua visão para a roda da bicicleta antes que sua visão se concentrasse em outra coisa.
— Você gosta de mel? — Romeu apontou para a sacola de compra de Vicente com o mel dentro.
— Gosto de comer pão com mel, mas estava faltando mel — explicou o jovem.
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Leite e Mel
RomanceRomeu é um urso-pardo em busca de uma companhia masculina para poder satisfazer seus desejos e ele utiliza de vários meios para encontrar o que procura. Onde essa busca poderá leva-lo a seguir?