POV Victória
Eu andava pelas ruas meio ludibriada com toda aquela falta de esperança no intervalo dos grandes prédios. Uma cor boa pra São Paulo é cinza, eu há vejo em todo canto, nos olhos, nas paredes, no céu e nos pés cansados dos catadores de latinha. Me arde o peito ouvir o canto da senhora sentada na calçada completamente invisibilizado pelo mecanismo das ações da massa que parambula para lá e para cá por toda a praça.
Descido sentar um pouco, me sinto frágil percebendo o quão o cotidiano me atordoa às vezes, percebendo que para mim, essa falta de brilho e compaixão nunca vai ser normal, mesmo tendo plena consciência de que isso é a vida e que se pensar muito, acaba como eu, sentada e atrasada. Percebi outra coisa, me autossabotei por medo e agora perdi mais uma oportunidade de emprego e apesar da faculdade ser pública tenho que lembrar que minha casa não e as contas estão vindo.
Hoje estou cansada e só queria uma pausa dessas metas monótonas que não parecem nunca acabar, estabilizar-se financeiramente, casa própria, diplomas, que saco.X: Que cabelo pica, moça.-O rapaz com um mullet esquisito, blusa branca e bermuda preta fala com um sorriso passando a mão no meu cabelo roxo e laranja de uma forma invasiva.
- Obrigada...
X: Pedro.-Ele completa.
- Obrigada, Pedro.
Pedro: Tá chorando porque?-Senta ao meu lado pondo uma perna encima da minha perna e coçando a cabeça confortavelmente como um cachorro folgado com pulgas na orelha.
- Tô assustada.
Pedro: Desculpa, tenho uma tara em deixar as pessoas desconfortáveis.-Tira a perna da minha e se indireita- Fica suave que não vou te fazer nada não.
- Não é você, Pedro. É o cansaço mesmo, essa atmosfera triste acaba comigo, esses rostos frustrados que sobem uma escada rolante que desce. Parece que não tem fim-Ele parou, olhou ao redor e fez uma careta.
Pedro: Talvez se a moça parasse com a maconha, resolvesse o bagulho.
- Sério que tu não vê? Olha pra frente. Observa as feições das pessoas. Estão tristes, todos tristes.
Pedro: Você quer que andem fazendo quadradinho de 8 invertido e gargalhando?-Dou um sorriso-Você sente essa vontade?
- As vezes sim.
Pedro: Você me refutou. Não esperei por essa resposta, mas pelo cabelo devia, né?.-Pausa- Eu também sinto, ás vezes.
- Você tem uma carinha de autista mesmo.-Ele dá duas piscadinhas e abre outro sorrisinho.
Pedro: Não sou autisma, moça.
- Então é streamer ou tiktoker mesmo.
Pedro: Não, não. Sou coveiro, tiktoker é seu preconceito, tá?-Rio com arrependimento de dar trela pra doido assim, de graça. Percebo mais três piscadas em meio a um sorrisinho contido.
- Se você supostamente não é autista, ao menos um tourette cê tem, divo.-Ele gargalha.
Pedro: Por que essa agora de me diagnosticar no bagulho?
- Essas suas piscadinhas... Essa pala toda que cê dá... Normal tu não é.
Pedro: Normal NÓS não somos.-Dá destaque ao "nós".- É, eu não sei do porquê exatamente, mas desde guri essa porra pisca. Deve ser um tipo de tourette mesmo.
- Tem personalidade.
Pedro: O que?
- O tique.
Pedro: E eu sou o autista, né?
- O destino dirá.
Pedro: Tá certo.-Riu depois de um tempo.-Eu tava te gravando pra fazer palhaçada para a Internet, mas fica de boa que não vou postar não.
- Posta se quiser, uai.
Pedro: Uai...-Ri.-Valeu, mas dispenso. Não fiz palhaçada nenhuma e me sensibilizei com sua miséria, destoa do meu personagem insensível e chato.
- Se isso aí ainda não é personagem, que perigo.
Pedro: Não fode, moça. Tive a humildade de não te fazer mais uma vítima das minhas mitadas.
- Como posso falar "minha pika para suas mitadas" de uma forma mais tolerante?
Pedro: Ficou claro para mim.-Rimos.
- Por mais que isso tenha sido um marketing, obrigada pelo circo.
Pedro: O mundo é meu palco.-Fala de forma dramática.
- Que azar o dele.
Pedro: Merece.
- Meu nome é Belle.
Pedro: Eu não perguntei nada.
- Grosso.
Pedro: Tarada.-De repente ele levanta e sai gargalhando fazendo uma tentativa falha de quadradinho de oito, me fazendo lembrar novamente do início da conversa e sem me dar tempo a reagir ao comentário anterior infeliz.
As pessoas todas olhavam assustadas, algumas tapavam os olhos dos filhos e outros gargalhavam como eu.
Quando já estava longe, fez algo parecido com uma continência, ato que repeti.☆3hrs depois☆
Chegando em casa, vou direto pedir desculpas ao cara que me deu oportunidade na boate e ele compreendeu, me dando mais uma chance.
Ando dançando pelo pequeno AP e coloco um funk de procedência duvidosa pra tocar. Energias recuperadas. Como minha rotinha consiste em: Faculdade das 9hrs ás 13:30, o trampo às 18hrs até 2hrs é perfeito para mim.
Pego minha gata, vulgo Chéreka no colo e começo a me balançar toda estranha depois de responder ao velho no Email.
Às 2hrs decido desligar a TV e ir pra cama e o garoto de hoje a tarde me veio a mente. Nunca vi um coveiro com aquela estética "Adolescente libertinoso", apesar do medo (até porque um cara pegou no meu cabelo, botou a perna no meu colo e começou a me gravar sem a porra de um contexto nenhum), fazia um tempo que não ne entretia daquele tanto. E aquela metessão de louco no meio da praça cheia de gente? Rio só de pensar. Se estivesse mais tranquila, me juntaria a ele.
Abraço a Chérekha e dou um beijo na sua cabecinha.- Preciso parar de pensar nele... Ele não deve estar pensando em mim, né Chérekha? Óbvio que não, até porque, pensando bem, ele é doido, tipo, biruta, ou seja, foi só mais uma das suas pagações de doido! Fui apenas mais uma vítima.
Ou será que...Talvez ele não seja real, apenas uma projeção da minha cabeça para me proteger dos demônios da sobrecarga! Ok, chega. Vou dormir que ganho mais.
☆☆☆☆
o nome da diva é victoria, mas pode fingir q é seu nome ok querida jack!
tchau divos babilonicos
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Uma loucura e meia
Fiksi PenggemarOs olhinhos brilhantes de Victória encontrou os piscantes de Pedro, o resto você descobre lendo...