Caminho em passos silenciosos até a janela de meu quarto, abro as cortinas e espremo os olhos quando os raios de sol atingem minha face, demoro para me acostumar com a claridade, mas quando consigo tenho a visão completa do meu grandioso jardim, as vezes me questiono por quê raios tenho um jardim tão grande em minha casa, quase nunca vou lá.
Afrouxo minha gravata e respiro fundo quando a brisa da tarde passa pelo meu quarto e bagunça alguns fios de cabelo que estavam jogados em minha testa, o frescor daquele vento me deixa relaxado, e as preocupações que antes não saiam de minha mente se vão por um breve momento, abro os olhos novamente e me deparo com Luísa correndo até o ponto do jardim que dava pra vê-lo com uma cesta em mãos com rosas, que eram tantas que algumas caiam da cesta e eram esquecidas naquele gramado.
Ela cantarolava enquanto colhia e podava alguma das flores do jardim, era incrível como ela estava despreocupada, sua inocência e bondade me deixam com inveja, Como ela não tem noção do perigo que estavamos correndo? Estamos em uma guerra e eu serei convocado para lutar nela
Não sei se a verei novamente depois de hoje, não sei se verei meu pai e minha amada irmã, Ela realmente não tem noção da minha situação, ou têm, mas não deixa de viver seu dia como se fosse o último.Observo quando ela para de cantar e se agacha no gramado para acariciar um filhote de gato branco de olhos bicolores que tanto era apaixonada, lembro-me quando ela me implorou para que deixasse ele frequentar a mansão, hesitei no começo, mas não aguentei sua insistência e deixei que o felino ficasse, ele não iria me devorar.. então não há motivos para não deixa-lo ficar.
Mas logo a lembrança das guerra voltam a minha mente, fecho as cortinas e a escuridão toma conta de meu quarto novamente, me sento na beira de minha cama frustrado e tateio o criado mudo para achar minha carteira de cigarro, tentei, na verdade por quê logo em seguida a porta de meu quarto é aberta e a iluminação insuportável atinge meu quarto, arregalo um pouco meus olhos e Maxy entra em meu quarto, sua testa franzida os lábios reprimidos e seus olhos esverdeados cheios D'água me deixam preocupado.
— Não te educaram e bater na porta antes de entrar? — A repreendo, mas sou surpreendido por um abraço afetuoso que há tempos não recebia.
— Não.. não vá.. porfavor, não vá! — Diz em um tom choroso ainda agarrada em meu pescoço.
— O quê houve tomatinho? — Me afasto o suficiente para encarar seus olhos marejados que cortam meu coração.
— Não vá para a guerra.. eu te imploro. — Diz em meio a soluços.
— Eu não tenho escolha. — Pego sua mão e a beijo. — Ainda nem fui e você está aos prantos? Por que não aproveita o tempo que eu estou aqui hm?
A tento acalmar, mesmo não conseguindo acalmar meus próprios pensamentos.
— Eu te amo. — Ela volta a me abraçar, um abraço de tirar o fôlego eu diria. — Porfavor, volte vivo.
— Eu também te amo. — Acaricio as madeixas encaracoladas e ruivas. — Eu prometo.. — Enxugo suas lágrimas com o meu polegar e acaricio suas bochechas. — Vamos descer lá pra baixo?
— Vo-você sair do seu quarto por livre e es-espontânea vontade? — Gagueja.
— Quer ou não quer?
— Você raptou meu irmão! — Consigo fazê-la rir, isso me deixa menos preocupado.
— Vamos, antes que eu perca a vontade. — Pego sua mão e a guio, descemos a escadas e encontramos Sara sentada em uma poltrona com a perna de Luísa em seu colo, ergo as sombrancelhas confuso, mas quando me aproximo noto que ela estava fazendo curativos na perna da criança.
— Sempre que eu te vejo ou está machucada ou está ajoelhada diante de mim. — Franzo minha testa quando ela revira os olhos discretamente. — Sara, ensine modos para essa garota, ou então, ela nunca se tornará uma lady.
— Mas senhor..
— Você quer ou não quer se tornar uma lady? — Me abaixo um pouco para encarar seus olhos esverdeados.
— Todas querem, meu senhor.
— Então é bom aprender a se portar que nem uma ainda cedo, vamos Maxy. — Puxo minha irmã pelo pulso até a área de fora da mansão, nos sentamos nas cadeiras de balanço e admiramos a vista do jardim.
— Não precisava ser rude com a pobre menina! — Diz bebendo uma xícara de chá.
— Não fui rude, apenas honesto.
— Ela é uma criança!
— Uma criança que tem que ser disciplinada!
— Eu tenho pena dos seus fulturos filhos. — Ela nega com a cabeça.
— Vamos parar de discutir por causa daquela garota e focar em nós? O quê acha?
— Só concordo por quê é seu último dia aqui..
— Diz como se eu fosse morrer. — Nego com a cabeça. — Você me subestima muito Maxy.
— Estou preocupada com meu único irmão. — ela acaricia minha mão que estava em cima da mesa. — Fique bem.
— Obrigado, tomatinho. — Solto uma risada nasal quando ela me encara envergonhada
— Pa-pare de me chamar assim. — Ela cruza os braços e desvia o olhar do meu, suas bochechas ganham um tom rosado a cada vez que rio de sua reação.
— Irei parar se não você irá explodir. — Digo sorrindo quando ela volta o olhar para mim.
— É bom mesmo! — Ela morde o cookie que Sara fez para nós com tanta força que fico receoso imaginando ela me morder com a mesma força.
Até que o lanche da tarde foi agradável, andamos a cavalo e percorremos a fazenda do nosso avô que não íamos lá há quase 10 anos, foi divertido, confesso.
Como nada são rosas chegou a hora de eu ir, o carro estacionou perto da estação de trem que nela havia outros homens que haviam convocados e suas famílias que choravam de saudades antecipadas.
Saio do carro, pego minhas malas e a ponho no meu lugar dentro do trem, volto a sair dele para me despedir da minha família, Maxy. Meu pai mandou uma carta que estava ocupado demais para se despedir, mas avisou que ficaria com saudades, bem.. é o que ele diz, mas não acredito muito nisso.
— Não chore, vai machucar seus olhos. — Caminho com um sorriso nada genuíno em meu rosto e abraço Maxy, escorando meu pescoço no topo de sua cabeça. — Fique bem viu?
— Eu e papai iremos ficar com saudades. — Ela segura meu uniforme com força.
— Sei que sentirão, sou grato por isso. — Beijo o topo de sua cabeça. — Prometo que voltarei.
— Promessas têm que ser cumpridas.
— E eu irei cumprir, não precisa se preocupar. — Desvio meu olhar dela para Sara, que por mais que fosse reservada estava chorando, e enxugando suas lágrimas com um lenço. — Também irei ficar com saudades de você, Sara.
— O senhor está mais sentimental que o normal, está tudo bem?
— Está sim.. vem aqui. — A puxo para um abraço rápido, que logo foi interrompido pelo barulho alto do trem. — Desculpe.. eu preciso ir.
— Volte em segurança irmão. — Maxy me olhava me afastar aos poucos enquanto apertava sua mão na altura do peito.
Estou prestes a subir no trem quando minha cintura é envolvida por pequenos bracinhos, que são fortes o suficiente para me fazerem parar de andar.
— Luísa? — Arregalos os olhos.
— Tenha uma boa viagem senhor Otto! — Exclama com uma voz suave.
— Obrigado... Criança, mas eu realmente preciso ir. — Ela se afasta e eu caminho para dentro do trem, pela janela a vejo acenar enquanto o trem ia embora, depois disso, não vejo mais nada pois entramos em um túnel.
Ela realmente achava que eu iria viajar e nada a mais, confesso que isso é adorável, deito minha cabeça no banco do trem e tento controlar minha respiração, céus.. estou apavorado antes mesmo de chegar lá.
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Reflexo da alma° | Luotto
FanfictionJá ouviu aquele ditado " Os olhos são a janela da alma"? Pois bem, essa história terá perspectivas diferentes, tanto do ponto de vista dos protagonista quanto de você! querido leitor. Espero que gostem da história.