chapter four

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Eu não consigo acreditar nas palavras de ouvi vinte minutos atrás. Estávamos chegando perto do cemitério, e eu não abri minha boca até chegarmos lá.
- Aí, você quer descer mesmo? Sei lá, não seria bom lembrar do seu irmão como ele era e não em um caixão? — as palavras de Giela me fazem uma dúvida, mas eu quero descer, não para ver Maykon, e sim a mãe dele.
- Eu vou, preciso conversar com a minha mãe. Preciso saber o que aconteceu. — Desço do carro e para minha surpresa Giela desce junto. — Onde você vai?
- vou com você. Vamos — Eu sigo até o cemitério, procurando por alguma mulher com cabelos loiros, logo avistando-a d chegando perto.
- Escuta aqui, por que você não foi buscar ele? — cutuco o braço da mulher com um tanto de força.
- Pensei que ele saberia vir sozinho, mas pelo visto não. E você hein? Poderia ter ido buscá-lo.
- Eu tenho uma vida, ok? Não posso fazer tudo em casa, tudo que envolvia Maykon só para você ficar sentada sabe Deus onde, o dia todo! Mas eu não quero brigar aqui, em casa a gente se resolve. — Estou prestes a me virar para o Giela...
- Que casa? Ah, esqueci de avisar, você não mora mais comigo. Com a gente no caso. Me casei — Como é que é? Ela solta aquele sorrisinho esnobe dela. — E ele não te quer mais lá em casa.
- Você só pode estar de brincadeira sua ... — avanço para a mulher á minha frente, mas sinto mãos firmes me envolverem.
- Deixa isso quieto, vamos.
- Você vai me pagar! Pagar à mim, ao papai e ao Maykon. — saio me debatendo contra o Giela. — você tem noção? Olha que vagabunda! E agora, pai, por que você teve que ir? — depois de anos, eu finalmente derrubo litros de água de meus olhos. Me apoio em uma parede e vou descendo ela, me escorregando até sentar no chão. Pego imediatamente da minha bolsa um cigarro. Durante a cena, Giela somente me observa, e depois de três minutos o mesmo se senta ao meu lado.
- Sabe, as vezes coisas assim acontecerem é bom.
- Bom? Ficar sem pai, sem irmão, sem uma mãe descente, sem amigos e sem uma casa em somente um ano é bom? — Giela pega o cigarro da minha mao e fuma.
- Quem sabe lá na frente você agradeça por tudo isso. Eu não tenho sorte, você tem. Eu tenho que morrer, você não. — O que ele queria dizer?
-Ah, qual foi! Ninguém merece morrer, pelo menos não pessoas inocentes.
- Eu não sou inocente, Julia. Eu me drogo, me automutilo, tenho ficha na delegacia. Isso não é ser inocente.
- Não ser inocente é matar alguém. Estuprar alguém. Você não fez nada disso.
- Você também não fez nada disso e parece ser mais infeliz que eu.  — Eu gostava de quando Giela me olhava com seu olhar vazio.
- Eu era muito feliz antes do meu pai morrer. Tinha sonhos, assim como qualquer pessoa, queria tocar em uma banda, ser veterinária. Mas tudo isso mudou, deixei tudo de lado, não tenho mais sentido pra viver. Eu só estou sendo uma parasita.
- Ae, não fala isso não pô! Parasita é quem atrasa os outros e não tem papel nenhum, você tem papel e você ajuda os outros. Só tá numa fase difícil. Giela abre a bolsa dele e tira de lá um alprazolam e sua garrafa de água.
- Por que você toma isso? Tipo, qual é o sentido?
- Pelo mesmo motivo que você tá fumando.
Sofrer bullying é um bagulho complicado, não sei se você estaria falando comigo se eu fosse do jeito que era antes. Eu era um "viadinho".
- Estaria falando com você dá mesma maneira.
- Vem cá, o que que acontece com a sua mãe? Ela te odeia, que rolo é esse?
- Minha mãe era muito carinhosa, mas não foi só eu quem sofri durante a perda do meu pai. Ela mudou, se tornou fria, egoísta e parece que nem tinha dois filhos. E agora preciso ver onde eu vou ficar por um tempo. — rapidamente Giela dá um salto.
— Pode ficar comigo, pode não, você vai!
Eu não ia negar, tava com tempo de chuva.
- Só preciso passar em casa para pegar algumas coisas. Valeu, Giela. Como você pode confiar em alguém que conheceu ontem?
- Quem disse que eu confio em você? — Odeio quando as pessoas não são diretas. — não vai entrar, patinha?

- Senhor, peço desculpas pelo acontecimento daquele dia. — Digo ao senhor do prédio de Giela.
- Tudo bem senhorita, entendo a preocupação de uma namorada, queria que minha esposa tivesse sido assim comigo.
- Ah, não, nós...
- Pois é, senhor Lucas, eu tenho sorte. — Giela passa um braço em minha cintura— Ela é a melhor que alguém poderia ter, agora se nos der licença! — Até entrarmos no elevador, ele continuará com as mãos em minha cintura.
- O que foi isso?
- Pra não pensarem que eu tô levando alguma puta em casa pra cometer estupro com ela.
  Entramos ao apartamento dele, como havíamos deixado antes de sair.
- Vem cá, seu quarto é praticamente do lado do meu. Não é tão grande, mas dá pra você viver. Ah, eu to saindo agora, volto de madrugada, então de você ouvir algum barulho sou eu. Fica bem.

Pelo menos vou poder organizar a vontade e dar um limpa nesse apartamento.
Coloco algumas calças no guarda roupa, junto aos vestidos e blusas de frio e o restante em uma cômoda. Minha guitarra estava na casa do Loren, acho que vou pedir para ele trazer amanhã, nem sei como ele está. Vou para a cozinha á procura de uma vassoura e uma pá e começo o serviço.

Ja eram quase seis da tarde e Giela ainda não havia chegado, decido ir para meu quarto ler um pouco. Abro a gaveta do meu lado e pego um Xanax que havia comprado na farmácia, junto as coisas de Giela, e Loren nem percebeu.
Começo a ler, logo sentindo o remédio fazer efeito, fechando minhas pálpebras.
Gemidos e barulhos ao quarto ao lado me despertam, logo paro para raciocinar e lembro de tudo que aconteceu nas últimas 24 horas. Olho para meu celular e eram três da manhã, tento ignorar os gemidos ao lado e voltar a dormir. Falho. Passei vinte e cinco minutos acordada depois da porta da sala ser fechada com força, pego minha coragem e vou até a sala de estar me assustando com tal cena que estava vendo.
Cocaína espalhada pela mesa, Giela adormecido no sofá sem camisa, exibindo suas tatuagens e seu abdômen. Tenho que parar de reparar nisso. Me ajoelho ao lado da mesa com cautela, pego um saco de lixo e vou jogando cada fileirinha lá dentro. Logo após acabar, olho para Giela encolhido no sofá, vou até meu quarto e pego um cobertor e o cubro. Eram quatro e meia da manhã e eu estava morta de sono, precisava dormir pra ver se esqueço um pouco do meu pai, meu ex, meu irmão, minha mãe, tudo.

𝔪𝔢𝔯𝔡𝔞𝔰 𝔞𝔠𝔬𝔫𝔱𝔢𝔠𝔢𝔪 /Lilgiela33Onde histórias criam vida. Descubra agora