Capítulo 15: A tensão

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*Lia*

Faltam apenas três dias para o nosso casamento, e a tensão parece aumentar à medida que o grande dia se aproxima. Olho pela janela vendo um carro elegante carregar Oliver que acabou de chegar, acompanhado por seu tio.

Conheço bem as histórias sobre esse filho problemático que dona Beatriz costuma mencionar, e, sinceramente, a última coisa que desejo tão perto do casamento é qualquer fonte de estresse.

Decido me esconder, optando por evitar qualquer possível confronto ou situação desconfortável. No entanto, os ruídos da conversa entre a senhorinha que tanto amo e seu filho ecoam até a cozinha onde eu estou, e preocupada com ela, decido ficar por perto.

Uma sensação de curiosidade começa a me beliscar, e embora eu saiba que estou errada, não consigo resistir à tentativa de espiar.

Com passos silenciosos, vou até a porta, esgueirando-me discretamente para ver o que está acontecendo. Através da fresta da porta, posso ver dona Beatriz e seu filho, Robert, em uma discussão acalorada.

— A senhora tem dedo nisso, mamãe, tenho certeza! — Robert fala com um tom de acusação, e eu me sinto um pouco culpada por estar ouvindo atrás da porta, como uma verdadeira fofoqueira. No entanto, minha curiosidade é maior.

— Querido, o Oliver veio ao Brasil por vontade própria e se apaixonou por Lia, e ela por ele. Eles são adultos — dona Beatriz responde com uma voz tranquila, mas firme.

— Oliver nunca se apaixona, ainda mais por uma faxineira que não tem onde ser enterrada. Não menospreze a minha inteligência, mamãe. — No entanto, a resposta dela não acalma a ira de Robert, que continua falando com amargura.

A tensão no ambiente é afiada, e observo enquanto Robert passa a mão nervosamente pelos poucos fios de cabelo em sua cabeça que há muito mais por trás dessa situação do que eu imagino, e que as relações na família de Oliver são mais complexas e cheias de segredos do que eu jamais poderia ter previsto.

— Qual é o seu temor, meu filho? — Dona Beatriz debocha, sua figura pequena e imponente sentada em sua cadeira de rodas, dando à cena um toque quase teatral.

— Eu sei que a senhora nunca gostou de mim, e tem Oliver como seu queridinho. Temo que possa arquitetar algo para me prejudicar na minha empresa. — Robert expressa sua preocupação de forma direta, mirando sua mãe com um misto de desconfiança e desafio.

Dona Beatriz, de maneira sorrateira, toca seu cordão de pérolas com um gesto quase casual, mas seus olhos brilham com uma sabedoria adquirida ao longo dos anos. Ela sorri com doçura, como quem sabe de segredos que os outros mal arranham a superfície para descobrir.

— Robert, eu sempre te amei, meu filho, apesar das suas crenças. No entanto, conheço cada nuance da sua personalidade. Apesar da criação que lhe dei, você sempre teve uma sede inabalável por poder, uma vontade incansável de atropelar qualquer um que cruze seu caminho em nome da ambição. — Ela semicerra os olhos, fixando-os no filho, que fecha as mãos em punho como se quisesse esconder a ira que cresce dentro dele. — E quanto à empresa, lembre-se: ela é minha! Quando seu pai faleceu, ele me concedeu o poder de decisão. Portanto, se você está ocupando o cargo que ocupa agora, agradeça-me por isso, meu filho.

Robert se retrai, apertando ainda mais os punhos, mas sua mãe não demonstra fraqueza. Com um movimento quase imperceptível, ela ajusta as pérolas no pescoço e ele continua a falar.

— Eu conquistei meu cargo.

— Isso, e permanecerá nele até o momento que eu achar que deve sair. — A firmeza em sua voz é surpreendente, revelando um lado dela que nunca conheci. — Você não tem mais poder do que eu, filho.

Contrato sem voltaOnde histórias criam vida. Descubra agora