Capítulo 31: A evolução

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LIA

Sentamos a mesa, com dona Beatriz na cabeceira e eu de frente para Oliver, e aproveito os momentos em que ele está compenetrado em sua salada para observá-lo, tão lindo que parece de mentira.

— Oliver, sua esposa pediu que atrasassem o jantar para esperar por você. — Dona Beatriz me entrega e fito meu prato, desconcertada.

Sinto que apesar de avançarmos com a nossa relação, Oliver ainda é muito temeroso com as minhas demonstrações de afeto, e isso me deixa receosa.

— É que eu sei que ele gosta de jantar com a senhora. — Explico-me, sem conseguir olhar para ele.

— Obrigado pela atitude, foi muito gentil da sua parte, Lia Na próxima vez não precisa esperar, não quero que mudem a rotina por mim. — A resposta dele é meio seca, mas apenas ignoro.

— Está certo. — Respondo, e logo dou atenção a carne que preciso cortar em meu prato.

Sinto uma vibração sutil no ar desde que Oliver voltou da fábrica. Seus passos parecem mais pesados, sua expressão mais concentrada do que o habitual. Decido dar-lhe espaço, supondo que talvez ele precise processar algo por conta própria.

Durante o jantar, Dona Beatriz indaga sobre a visita à fábrica, e Oliver, com sua característica eloquência, começa a compartilhar sua experiência com os funcionários e com o conhecimento do espaço.

Enquanto ele fala, seus lábios desenham palavras com elegância, seus olhos azuis irradiam intensidade e suas palavras envolvem a mim e a sua avó ao redor da mesa.

Tento disfarçar minha atenção focando no prato, mas é difícil desviar o olhar dele, e relembro os momentos quentes que já compartilhamos e imagino o que ainda estar por vir.

Após auxiliar Dona Beatriz a se acomodar para a noite, dou algumas ordens a sua nova cuidadora, e sigo para a suíte que compartilhamos, encontrando-a vazia. Um frio momentâneo percorre minha espinha com a incerteza de que ele talvez não deseje mais nossa rotina de dormir juntos. Mesmo assim, opto por seguir respeitando seu espaço.

Decido tomar um banho prolongado, permitindo que a água quente relaxe meus músculos tensos, e deixo escapar de meus lábios uma das músicas favoritas de dona Beatriz, um hábito acalentador que acalma meus pensamentos mais inquietos:

Se acaso me quiseres

Sou dessas mulheres que só dizem sim

Por uma coisa à toa, uma noitada boa

Um cinema, um botequim

E se tiveres renda

Aceito uma prenda, qualquer coisa assim

Como uma pedra falsa, um sonho de valsa

Ou um corte de cetim(...)

Quando o shampoo termina de escorrer dos cabelos, abro os olhos e vejo Oliver de pé na porta, observando-me.

Um impulso nervoso faz com que uma das minhas mãos se mova involuntariamente para os seios, enquanto a outra tenta esconder a leve saliência na minha barriga que me incomoda tanto. Ele franze o cenho, uma expressão que sei que não é de desaprovação, mas sim de confusão.

Oliver sempre insiste para que eu não esconda meu corpo dele, até mesmo as partes que eu menos gosto. Apesar disso, a insegurança com minha própria imagem persiste.

— Continue cantando. — A ordem me pega desprevenida, quebrando o silêncio que se estabelece.

A surpresa me toma de assalto, enquanto ele começa a se desfazer do seu terno, ainda me observando atentamente.

Contrato sem voltaOnde histórias criam vida. Descubra agora