Capítulo 7 -O corpo jubiloso: A carne selvagem

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Sempre me emociono com o jeito pelo qual os lobos batem nos corpos uns dos

outros quando correm e brincam, os mais velhos a seu modo, os jovens ao deles, os

magros, os gordos, os de pernas longas, os de rabo cortado, os de orelhas caídas, os

de membros quebrados que ficaram tortos ao sarar. Todos têm sua própria

configuração corporal, sua própria força e sua própria beleza. Vivem e brincam de

acordo com o que são, quem são e como são. Eles não tentam ser o que não são.

Bem ao norte, vi uma vez uma velha loba com três pernas. Ela era a única que

conseguia se enfiar numa fenda na qual cresciam vacínios. Outra vez vi um lobo

cinzento armar o bote e saltar com tal velocidade que deixou no ar por um segundo a

imagem de um arco prateado. Lembro-me de uma visão delicada, a de uma jovem

mãe, ainda redonda de corpo, procurando com cuidado o caminho entre o musgo do

lago com a graça de uma bailarina.

No entanto, apesar de sua beleza e sua capacidade de manter a força, às vezes

falam dos lobos nos seguintes termos: "Ah, vocês têm fome demais; seus dentes são

afiados demais; seus apetites são muito interesseiros." À semelhança dos lobos, as

pessoas às vezes encaram as mulheres como se apenas um determinado tipo de

temperamento, de apetite, fosse aceitável. E com enorme freqüência acrescenta-se a

essa atitude a atribuição de correção ou incorreção moral de acordo com a

conformidade da forma, do jeito de andar, da altura e do tamanho da mulher em

relação a um ideal único e exclusivo. Quando as mulheres são relegadas a disposições

de ânimo, a maneirismos e a contornos que se amoldam a um único ideal de beleza e

de comportamento, elas se tornam cativas tanto no corpo quanto na alma, não

gozado mais de liberdade.

Na psique instintiva, o corpo é considerado um sensor, uma rede de

informações, um mensageiro com uma infinidade de sistemas de comunicação —

cardiovascular, respiratório, ósseo, nervoso, vegetativo, bem como o emocional e o

intuitivo. No mundo imaginário, o corpo é um veículo poderoso, um espírito que vive

conosco, uma oração de vida nos seus próprios méritos. Nos contos de fadas, como

encarnado por objetos mágicos que têm capacidades e qualidades sobre-humanas,

considera-se que o corpo tem dois pares de orelhas, um para ouvir os sons do mundo,

o outro para ouvir a alma; dois pares de olhos, um para a visão normal, o outro para a

vidência; dois tipos de força, a dos músculos e a invencível força da alma. A lista de

pares relacionados ao corpo não pára por aí.

Em métodos de trabalho com o corpo como o de Feldenkrais, de Ayurveda e

outros, entende-se, de diversas perspectivas, que o corpo possui seis sentidos, em vez

Mulheres que Correm com os LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora