Este trabalho a respeito da natureza instintiva das mulheres está emandamento há quase duas décadas. Durante esse período, muitas pessoas entraramna minha vida, muitas testemunhas capazes e estimulantes. Na minha tradiçãocultural, quando chega a hora dos agradecimentos, eles geralmente duram muitosdias. É por isso que a maioria das nossas reuniões, desde os velórios até oscasamentos, precisa durar pelo menos três dias, pois o primeiro dia deve ser passadoa rir e a chorar; o segundo, a brigar e gritar; e o terceiro, a fazer as pazes, seguindo-semuita cantoria e muita dança. Por isso, um brinde a todas as pessoas da minha vidaque ainda estão cantando e dançando:Bogie, meu marido e amante, que ajudou com a revisão e que aprendeu a usaro gravador para poder me ajudar a transcrever o original... inúmeras vezes. Tiaja, queveio sem ser chamada e tratou das questões administrativas, fez minhas compras, fezcom que eu risse, convencendo-me ainda mais de que uma filha adulta é tambémuma irmã. Yancey Stockwell e Mary Kouri, que gostaram do que escrevo desde oinício. Craig M., por seu eterno amor e apoio. Jean Carlson, minha velha e irritadiçacompanheira, que me lembrou de me levantar e girar três vezes. O falecido JanVanderburgh, que deixou um último presente. Betsy Wolcott, tão generosa com seuapoio psicológico à alegria dos outros. Nancy Pilzner Dougherty, por dizer o queseria possível no futuro. Kate Furler, do Oregon, e Mona Angniq McElderry, deKotzebue, Alasca, pela criação de histórias noite adentro há vinte anos. ArwindVasavada, analista junguiano e mestre na minha família psíquica. Steve Sanfield, portambém gostar da mulher da ópera de lá do Sul cujos pés não ficavam bonitos empatins de gelo. Opalanga Pugh, irmã curandeira e companheira de viagem. FranLees, Staci Wertz Hobbit e Joan Jacobs, por serem irmãs escritoras talentosas eperspicazes. Joann Hildebrand, Connie Brown, Bob Brown, Tom Manning doCritter Control, Eleanor Alden, presidente da Sociedade Junguiana em Denver, eAnne Cole, amazona das Montanhas Rochosas, por seu amor e apoio todos essesanos. As primeiras mulheres selváticas de La Foret — vocês estavam lá desde oinício. Minhas analisandas que, ao longo dos anos, revelaram tanta profundidade eamplidão, além de me mostrarem os mais sutis tons da sombra e as inúmerasqualidades da luz. Meus parentes, minhas famílias, minha tribo, meus mestres,tanto os vivos quanto os presentes em espírito, por deixarem pegadas.Meus irmãos e irmãs griots, cantadoras, cuentistas, me-semondók,contadores de histórias, pesquisadores do folclore, tradutores, por sua amizade eimensa generosidade: Nagyhovi Maier, estudioso do cigano magiar. Roberto Macha,intérprete do maia. La Pat: Patrícia Dubrava Kuening, poeta e tradutora. Os homense mulheres dos foros dos americanos nativos, da ficção científica, dos judeus, doscristãos, dos muçulmanos e dos pagãos sobre CIS (estado inibitório central), porfornecerem fatos obscuros e interessantes. Maria de los Angeles Zenaida Gonzalezde Salazar, simpática estudiosa dos povos náuatle e asteca. Opalanga Pugh, griot eespecialista nos folclores africano e afro-americano. Nagynéni Liz Horniak, MaryPinkola, Joseph Pinkola e Roelf Sluman, especialistas em cultura húngara. MakotoNomura, especialista em cultura japonesa. Cherie Karo Schwartz, contadorainternacional de histórias, pesquisadora de folclore, especialmente da cultura judaica.J. J. Jerome, por ser um ousado contador de histórias. Leif Smith e Patricia J.Wagner, de Pattern Research, por sua disponibilidade e por sua firmeza. ArmintaNeal, ex-coordenadora de exposições do Museu de História Natural de Denver, pelagenerosidade em pesquisar nos seus arquivos. La Chupatinta: Pedra Abacadaba,346escritora de cartas da aldeia Uvallama. Tiaja Karenina Kaplinski, mensageiraintercultural. Reina Pennington, companheira de viagem, do Alasca, por suasbênçãos. Todos os contadores de histórias da minha vida, que me deram histórias depresente, que as trocaram comigo, que as semearam, que as deixaram como legado defamília ou espiritual, e que receberam minhas histórias como retribuição, cuidandodelas como se fossem seus próprios filhos; e eu, da mesma forma.Tami Simon, produtora de áudio, artista e fonte de inspiração que arde comluz intensa, por me perguntar o que eu sabia. Devon Christensen, mestre do detalhe eguardião do leme. Para todos eles e sua equipe em Sounds True: Patti Pol-man,Marci Marchand, Morgan Bays, Denise Barnes, Beth Quist, JoePezzillo, DavidEisenberg, Jay Trolinger, Joseph Gerlach, Steven Van Zandt, Farrell Lowe, MarkGustafson, Marilyn T. e o alter-ego de todos, The Duck, por tomarem conta de tudo epelo seu tremendo apoio para que eu pudesse dedicar meu tempo a esta obra escrita.Nancy Mirabella, por traduzir místicos de origem latino-americana e pormencionar para mim o Rocky Mountain Women's Institute. Rocky MountainWomen's Institute, por me conceder em 1990-1991 acesso ao quadro de associados,ajuda de custos e, especialmente, pelo apoio de Cheryl Bezio-Gorham e dos meuscolegas artistas de lá: Patti Leota Genack, pintora; Vicky Finch, fotógrafa; KarenZidwick, escritora; Hannah Kahn, coreógrafa; Carole McKelvey, escritora; DeeFarnsworth, pintora.Women's Alliance e a mestra-tecelã Charlotte Kelly, por me levarem a ensinarnas Sierra Madres na semana em que Mulheres que correm com os lobos chegou aomercado. Foi uma bênção conhecer um grupo tão forte de artistas, curandeiras eativistas. Elas me cercaram naquela semana como naves-mães acompanhando umbarquinho debutante até o mar aberto. Ruth Zaporah, artista performática e rapperprofissional; Vivienne Verdon-Roe, cineasta ativista; Fran Peavey, comedianteativista; Ying Lee Kelley, revolucionária e vice-presidente da Rainbow Coalition;Naomi Newman, judia, contadora de histórias; Rhiannon, cantora de jazz econtadora; Coileen Kelley, artista budista; Adele Getty, autora e baterista; KyosFeatherdancing, especialista em rituais dos americanos nativos; Rachel Bagby,cantora e ativista afro-americana; Jalaja Bonheim, dançarina encantadora; NormaCordell, professora e contadora, americana nativa; Jynowyn, fabricante de tamborese música; Deena Metzger, autora e mulher de coragem; Hiah Park, dançarinacoreana; Barbara Borden, baterista; Kay Tift, classificadora de fios; Margaret Pavel,encordoadora do tear; Gail Benevenuta, "a voz"; Rosemary Le Page, uma das tecelãsde correias; Pat Enochs, artista da nutrição, y M'hijas, mes lobacitas, vocês filhotassabem quem são. E por último, a mulher que grita, que não vamos mencionar.Jean Shinoda Bolen, por ser uma nítida e resoluta madre del alma, por darmuitos exemplos e por me dar Valerie. Valerie Andrews, autora e nômade, por medar seu tempo e me dar Ned. Ned Leavitt, ser humano, meu agente, hábil nointercâmbio entre os mundos. Ginny Faber, minha produtora na Ballantine, que,durante o parto deste livro, deu à luz uma obra perfeita, um pequeno bebê selvagem,Susannah.Aqueles dentre os meus talentosos colegas junguianos do IRSJA e IAAP, quegostam dos poetas e da poesia e os protegem. Meus colegas do C. G. Jung Center ofColorado, e analistas-em-formação, atuais e passados, bem como os candidatospsicanalíticos do IRSJA, pelo seu entusiasmo por aprender e avançar cheios depaixão na direção dos seus verdadeiros objetivos.Molly Moyer, da Tattered Cover, que não parava de derramar palavras deestímulo nos meus ouvidos, e as três grandes mães de livrarias de Denver, queestocam em suas lojas todos os livros interculturais que eu um dia poderia desejar:347Kasha Songer, The Book Garden; Clara Víllarosa, The Hue-Man ExperienceBookstore; Joyce Meskis, The Tàttered Cover. Minhas três filhas adultas, Tiaja,Christine e Melissa, cujas vidas de mulher me fornecem inspiração. Lee Lawson,artista talentosa e amiga espiritual, que percebeu a conversa que roubava a alma e achamou do que realmente era. Normandí Eilis, poeta e autora por me lembrar do efno inefável. Jean Yancey, simplesmente por estar viva no meu tempo. Os autoresMark Graham e Stephen White, Hannah Green, o pessoal da Open Door Bookstore,os membros do Poets ofthe Open Range e os poetas do Naropa Instituto, pelo apoio epor gostarem das palavras que têm significado. Irmãos e irmãs poetas, que medeixam criar através do seu coração.Mike Wesley, grande especialista em Macintosh na CW Electronics, porrecuperar o original inteiro "perdido" no disco rígido, e Lonnie Wright, chefe daassistência técnica que trouxe meu SE30 de volta da terra dos mortos em mais deuma ocasião. Autores e mestres de computação do Litforum do mundo inteiro,Japão, México, França, Estados Unidos, Grã-Bretanha, por estarem ligados mesmo àmeia-noite para conversar comigo sobre as mulheres e os lobos.Meus mestres: A todos os bibliotecários, guardiães dos depósitos de riquezasrepletos dos suspiros, tristezas, esperanças e alegrias de toda a humanidade, minha,profunda gratidão; vocês sempre ajudaram, sempre foram sábios, não importa quãoobscuro fosse meu pedido. Manisha Roy, que me manteve enlevada com seuconhecimento das mulheres bengalis. Bill Harless, Glen Carison, JeffRaff, DonWilliams, Lyn Cowan, José Arguelles, pelo apoio desde o início. Georgia 0'Keefe, quenão riu, quando eu tinha dezenove anos e lhe disse que era poeta. Dorothy Day, quedisse que as origens no povo eram importantes. Como colocou um escritor, às "loucasde negro", as freiras que também eram visionárias: Irmãs da Santa Cruz,especialmente, irmã John Michela, irmã Mary Edith, irmãFran-cisLoyola, irmãJohn Joseph, irmã Mary Madelena, irmã Maria Isobela y irmã Maria Concéption.Bettina Steínke, que me ensinou a ver a linha branca que se forma na parte mais altado veludo. O editor de "The Sixties", que me mandou dez palavras que mesustentaram durante vinte anos. Aos meus professores junguianos e de psicologia,dos quais há muitos, mas especialmente e por exemplo, Toni Wolff, Harry Wilmer,James Hillman e Carl Gustav Jung, cuja obra uso como trampolim tanto paramergulhar nela como para me afastar dela. Senti imensa atração pela obra de Jungpor ele ter vivido e abraçado a vida de artista. Ele esculpiu, escreveu, leu os livros,entrou nos túmulos, remou nos rios. Uma vida de artista.Ao Conselho do Colorado para as Artes e Humanidades, Programa do ArtistaResidente, e Jovens Platéias, especialmente os artistas-administradores DanielSalawr, Patty Ortiz e Maryo Ewellpor sua energia e entusiasmo. Marílyn Auer,redatora e editora-assistente, e Tom Auer, redator e editor-chefe de The BloomsburyReview, pelo carinho e loucura, pela delicadeza e cultura. Aqueles que publicaramprimeiro meus trabalhos, dando-me transfusões de ânimo para eu prosseguir comesta obra: TomDeMers, JoeRichey, Anne Ríchey, Joan Silva, David Choriton,António Martinez, Ivan Suvanjieff, Allison St. Claire, Andrei Codrescu, José Armijo,Saltillo Armillo, James Taylor III e Patrícia Calhoun, a mulher selvagem de GilpinCounty. Àqueles poetas que foram testemunhas: DanaPattillo, Charlie Mehrhoff, EdWard e as três Marias, Maria Estevez, Maria Ignacio, Maria Reyes MarquezA todos os gnomos, duendes, cogumelos e abóboras do Reivers, um dos meuscafés preferidos para escrever. Especialmente os meninos da casa da arvore, poissem sua constante ajuda e opiniões inabaláveis este livro não poderia ter sido escrito.Às pequenas cidadezinhas do Colorado e do Wyoming onde vivo, meus vizinhos,amigos e prestadores de serviços que me trouxeram histórias de todos os cantos da348terra. Lois e Charlie Kubin, mãe e pai do meu marido, que lhe deram um amor tãobom e tão profundo que ele ficou repleto dele, derramando-o sobre mim e sobrenossa família.E finalmente, àquele carvalho "das mensagens" no bosque onde eu, quandocriança, costumava escrever. Ao cheiro da terra boa, ao som da água livre, aosespíritos da natureza, que correm todos para a estrada para ver quem vai passando.A todas as mulheres que vieram antes de mim e que tornaram o caminho um poucomais claro, um pouco mais fácil. E com infinita ternura, a La Loba.349A EDUCAÇÃO DE UMA JOVEM LOBA: UMABIBLIOGRAFIAEsta bibliografia1contém algumas das obras mais acessíveis a respeito dasmulheres e da psique. Eu muitas vezes as recomendo às minhas alunas eanalisandas.2 Muitos desses títulos hoje clássicos, incluindo-se obras de Angelou, deBeauvoir, Brooks, de Castillejo, Cather, Chesler, Friedan, Harding, Jong, Jung, HongKingston, Morgan, Neruda, Neumann e Qoyawayma, bem como antologias, eram oque eu lia para minhas alunas como "alimento para a alma" nos cursos de Psicologiadas Mulheres, no início da década de 1970. Era uma época em que a expressão"estudos das mulheres" não era nada comum, e em que muitas pessoas seperguntavam por que motivo haveria necessidade de algo desse tipo.Desde então, muitos trabalhos sobre as mulheres foram publicados por váriaseditoras. Há vinte e cinco anos, algumas dessas obras teriam sido relegadas aomimeógrafo para sua circulação ou ao que costumávamos chamar de "editorasefêmeras", admiráveis empresas, geralmente sem recursos e com falta de pessoal, queviviam apenas o tempo suficiente para dar à luz um punhado de obras importantes,antes de definhar e morrer tão rápido quanto haviam começado. No entanto, mesmocom o terreno editorial conquistado nessas últimas décadas, o estudo da vida,psíquica ou de outra natureza, da mulher ainda é muito recente e está longe de sercompleto. Apesar de haver uma quantidade muito maior de trabalhos atentos ehonestos sobre a vida da mulher sendo publicados no mundo inteiro e sobre umgrande número de temas que anteriormente eram proibidos, ainda falta muito mais,tanto em termos do direito e do dever de falar como autoridade a respeito de simesma e da própria cultura, quanto em termos do acesso ao prelo e aos canais dedistribuição.Uma bibliografia não deveria ser uma lista enfadonha. Ela não tem a intençãode ensinar a uma pessoa como pensar, mas procura fornecer a cada uma temasinteressantes em que pensar, tentando mostrar-lhe o maior número possível deideias, portanto de opções e oportunidades. Uma boa bibliografia aspira a oferecerimagens panorâmicas do passado e do presente que sugerem visões claras para ofuturo. Esta bibliografia em especial dá ênfase às escritoras, mas inclui os dois sexos.Estes livros são, em geral, excelentes, veementes e originais; muitos sãointerculturais; todos, pluridimensionais. Eles estão recheados de dados, opiniões einspiração. Alguns refletem uma época que já passou, ou um lugar que não a Américado Norte, e deveriam ser lidos de acordo com seu contexto. Para fins de comparação,acrescentei duas ou três obras que, na minha opinião, são espantosas. Você asreconhecerá quando as ler, embora suas indicações talvez fossem diferentes dasminhas.Os escritores aqui especificados são variados. A maioria é de especialistas,precursores; alguns são iconoclastas, proscritos, estudiosos ciganos, independentes,acadêmicos ou convencionais. Muitos poetas estão aqui representados, pois eles sãoos visionários e os historiadores da vida psíquica. Em muitos casos, suas observaçõese insights são tão penetrantes que suplantam as hipóteses da psicologia académicatanto em precisão quanto em profundidade. Em todo caso, a maioria dos autores é delas compañeras o los compañeros, simpatizantes e contemplativos que chegaram àssuas conclusões através da vida profunda que levaram e da sua meticulosa descriçãodela.3 Embora haja muitos, muitos outros tão brilhantes quanto eles, segue-se umagaleria de duzentos.350Alegria, Claribel. Woman of the River. Pittsburgh: University of Pittsbuigh Press,1989.____. Louisa in Realityland. Nova York: Curbstone Press, 1989.____ . Guerrilla Poems of El Salvador. Nova York: Curbstone Press, 1989.Allen, Paula Gunn. 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Nova York: Routledge, Chapman and Hall, 1988.NOTASÀs vezes, notas como essas são chamadas de los cuentitos, pequenas histórias.Elas são rebentos do texto maior e devem compor sozinhas uma obra de arte isolada.A intenção é a de que sejam lidas de uma vez, sem voltar ao texto principal, se assimse desejar. Sugiro que "vocês as leiam das duas formas.INTRODUÇÃOCantando sobre os ossos1 A linguagem dos contos e da poesia é a irmã vigorosa da linguagem dos sonhos. A partir daanálise de muitos sonhos (tanto contemporâneos quanto antigos obtidos de relatos escritos) ao longode anos, bem como de textos sagrados e da obra de místicos como Catarina de Siena, Francisco deAssis, Rumi e Eckhart, e da obra de muitos poetas como Dickinson, Miliay, Whitman, entre outros,parece haver dentro da psique uma função que cria arte e poesia e que brota quando a pessoaespontânea ou propositadamente ousa se aproximar do núcleo instintivo da psique.Esse local na psique, onde se reúnem os sonhos, as histórias, a poesia e a arte, constitui omisterioso habitat da natureza selvagem ou instintiva. Na poesia e nos sonhos contemporâneos, bemcomo nos contos folclóricos mais antigos e nos escritos dos místicos, todo o ambiente desse núcleo écompreendido como um ser de vida autônoma. Na maioria das vezes, ele é representado na poesia, napintura, na dança e nos sonhos como um dos grandes elementos, como por exemplo o oceano, aabóbada celeste, a terra preta ou como um poder personalizado, como a Rainha dos Céus, A CorçaBranca, A Amiga, A Amada, O Amante ou O Parceiro.A partir desse núcleo, idéias e questões de importância numinosa assomam à pessoa, quevivência a sensação de "estar plena de algo diferente do eu". Da mesma forma, muitos artistas levamsuas próprias idéias e questões nascidas do ego até a borda do núcleo, deixando-as cair ali dentro, coma justificada impressão de que elas voltarão infundidas de algo novo ou impregnadas do notávelsentido da vida psíquica desse núcleo. Seja como for, isso provoca um repentino e profundo despertar,uma mudança ou uma formulação dos sentidos, da disposição ou do coração do ser humano. Quando apessoa acaba de ser informada, sua disposição muda. Quando a disposição muda, o coração muda. Épor isso que as imagens e a linguagem que sobem do núcleo são tão importantes. Combinadas, elastêm o poder de transformar qualquer coisa em outra, de uma foïma que seria difícil e tortuosa seapenas contasse com a ajuda da vontade. Nesse sentido, o Self central, o Self instintual, tanto curaquanto dá início à vida.2 O eixo ego/Self é uma expressão cunhada por Edward Ferdinand Edinger (Ego andArchetype [Nova York: Penguin, 1971]) para descrever a visão de Jung do ego e do Self aluando numrelacionamento complementar, cada um—o impulsionador e o impulsionado — precisando do outropara funcionar. (C. G. Jung. Collected Works, vol. 11, 2 ed. [Princeton: Princeton University Press,1972], § 39).3 . Veja Posfácio, As histórias como bálsamos medicinais.4 El duende é literalmente a força ou o vento elemental por trás da vida criativa e dos atos deuma pessoa, compreendendo o seu jeito de caminhar, o som da sua voz, até mesmo a sua forma delevantar o dedo miudinho. É um termo usado no flamenco, e é também empregado para descrever acapacidade de "pensar" em imagens poéticas. Entre contadores de histórias de tradição latino-americana, ele é considerado como a capacidade que uma pessoa tem de se sentir plena de um espíritomaior do que o seu próprio. Quer você seja artista, quer seja observador, ouvinte ou leitor, quando elduende está presente, você o vê, o ouve, o lê, o sente por baixo da dança, da música, das palavras, dáarte. Você sabe que ele está ali. Quando el duende não está presente, você também sabe.3575 Vasalisa é uma versão anglicizada do nome russo Wassilissa. No continente europeu, o w épronunciado como um v.6 Um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento de um estudo amplo a respeitoda psicologia das mulheres está no fato de as mulheres observarem e descreverem o que acontece nasua própria vida. As filiações étnicas da mulher, sua raça, sua prática religiosa, seus valores são todosparte de um todo e devem todos ser levados em consideração, pois juntos eles constituem seu sentidode alma.CAPÍTULO 1O Uivo: A ressurreição da Mulher Selvagem1 E. coli. Abreviatura parcial de Escherichia coli, um bacilo que provoca a gastrenterite e queprovém do consumo de água contaminada.2 Rômulo e Remo, os gêmeos dos mitos do povo navajo — sendo esses apenas alguns dosnumerosos gêmeos famosos na mitologia.3 O antigo México.4 O poema "Luminous Animal" do poeta de blues Tony Moffeit, do seu livro Luminous Animal(Cherry Valley, Nova York: Cherry Valley Editions, 1989).5 Numa versão talmúdica dessa história intitulada "Os quatro que entraram no Paraíso", osquatro rabinos entram no Pardes, Paraíso, para estudar os mistérios celestes e três deles enlouquecemde uma forma ou de outra quando põem os olhos na Shekhinah — a antiga divindade feminina.6 The Transcendent Function de C. G. Jung, Collected Works, vol. 8, 2 ed. (Princeton:Princeton University Press, 1972) pp. 67 -91.7 Há também quem chame esse ser antiqüíssimo de "mulher fora do tempo".CAPÍTULO 2A tocaia ao intruso: o princípio da iniciação1 O predador natural aparece nos contos de fadas na pele de ladrão, noivo animal, estuprador,assassino e às vezes de uma mulher perversa de diversas naturezas. As imagens dos sonhos dasmulheres seguem estritamente o modelo de distribuição do predador natural nos contos de fadas comprotagonistas femininas. Relacionamentos prejudiciais, figuras de autoridade abusiva e prescriçõesculturais negativas influenciam as imagens dos sonhos e do folclore tanto quanto o próprio modeloarquetípico inato, ou até mais do que ele, sendo esse modelo descrito por Jung como nós arquetípicosinerentes à psique de cada pessoa. O conto pertence, portanto, à categoria de "encontro com a força davida e da morte", não à de "encontro com a bruxa".2 Existem versões publicadas nas coleções de Jakob e Wilhelm Grimm, Charles Perrault,Henri Pourrat e outros. Existem também versões orais correntes em toda a Ásia e América Central.3 No folclore, na mitologia e nos sonhos, o predador natural quase sempre tem seu própriopredador ou perseguidor. É o combate entre esses dois que afinal produz a mudança ou o equilíbrio.Quando isso não ocorre, ou quando não surge nenhum antagonista apreciável, o relato costuma serchamado de história de terror. A ausência de uma força positiva que se oponha com sucesso aopredador negativo faz surgir um medo extremo no coração dos seres humanos.Da mesma forma, no dia-a-dia, há uma quantidade de ladrões-de-luz e assassinos-da-consciência soltos por aí. Geralmente, uma pessoa predatória apropria-se indevidamente da seivacriadora da mulher, tomando-a para seu próprio uso ou prazer, deixando-a pálida e sem saber o queocorreu, enquanto o predador de certo modo vai ficando mais corado e animado. O predador desejaque a mulher não preste atenção aos seus próprios instintos para que ela não perceba o sifão que estápreso à sua mente, sua imaginação, seu coração, sua sexualidade, ao que seja.O modelo de renúncia à nossa vida essencial pode ter começado na infância, estimulado porquem se encarregava da criança e queria que o talento e a beleza da criança suplementassem o vazio ea fome dessa mesma pessoa. Ter uma formação dessas dá enorme poder ao predador natural e nosprepara para ser uma presa para os outros. Enquanto seus instintos não voltarem a funcionar correta-mente, a mulher criada dessa forma é extremamente vulnerável a ser dominada pelas necessidadespsíquicas tácitas e devastadoras dos outros. Geralmente, a mulher com os instintos em ordem sabe queo predador está se insinuando por perto quando ela se descobre num relacionamento ou numasituação que faz com que sua vida se limite, em vez de se ampliar.4 Bruno Bettelheim, Uses of Enchantment: Meaning and Importance of Fairytales (NovaYork: Knopf, 1976).3585 Von Franz, por exemplo, diz que o Barba-azul "é um assassino, e nada mais..." Marie Louisevon Franz, Interpretation of Fairytales (Dálias: Spring Publications, 1970), p. 125.6 Ao meu entender, Jung estava especulando sobre a hipótese de que o criador e a criaturaestariam ambos em evolução, com a consciência de um influenciando a do outro. É notável a ideia deque o ser humano possa influenciar a força por trás do arquétipo.7 O telefone defeituoso é um dos vinte temas de sonhos mais comuns entre os seres humanos.No sonho típico, o telefone não funciona, ou quem sonha não consegue descobrir como ele funciona.Os fios do telefone podem ter sido cortados, os números do teclado estão avariados, a linha estáocupada, o número do telefone de emergência foi esquecido ou não está funcionando direito. Essestipos de situação nos sonhos têm uma qualidade muito semelhante à das mensagens equivocadas oureescritas nas cartas, como no conto folclórico "A donzela sem mãos", no qual o demónio troca umamensagem de felicitações por uma de cunho perverso.8 Para proteger a identidade das pessoas envolvidas, foram alterados o nome e a localização dogrupo.9 Para proteger a identidade das pessoas envolvidas, foram alterados o nome e a localizaçãodo grupo.10 Para proteger a identidade das pessoas envolvidas, foram alterados o nome e a localizaçãodo grupo.11 Para proteger a identidade das pessoas envolvidas, foram alterados o nome e a localizaçãodo grupo.CAPÍTULO 3Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação1 As histórias de Vasalisa e Perséfone têm muitas equivalências.2 Os vários começos e finais dos contos constituem um estudo para toda uma vida. SteveSanfield, um excelente contador de histórias de origem judaica, autor, poeta e primeiro contador dehistórias residente nos Estados Unidos na década de 1970, transmitiu-me gentilmente o ofício decolecionar finais e começos como uma forma de arte em si.3 O termo "mãe suficientemente boa" observei pela primeira vez na obra de Donald Winnicott.É uma imagem elegante, uma dessas expressões que dizem páginas em apenas três simples palavras.4 Na psicologia junguiana, seria possível afirmar que a estrutura da mãe na psique seriaformada em camadas, as arquetípicas, as pessoais e as culturais. É a soma dessas camadas queconstitui a adequação ou sua falta na estrutura internalizada da mãe. Como observador na psicologiaevolutiva, a elaboração de uma mãe interna adequada parece realizar-se em estágios, sendo que cadaestágio subseqüente se baseia no domínio do estágio anterior. A violência contra a criança podedesfazer ou destronar a imagem da mãe na psique, dividindo as camadas em polaridades que seantagonizam em vez de cooperar entre si. Isso pode não só desautorizar estágios anteriores dodesenvolvimento, mas também desestabilizar os seguintes, fazendo com que eles se construam demodo fragmentado ou excêntrico.É possível sanar essas lacunas do desenvolvimento que desequilibram a formação daconfiança, da força e da auto-sustentação, pois essa matriz parece ser formada não como uma paredede tijolos (que cairia se muitos dos tijolos de baixo fossem removidos), mas tecida como uma rede. Épor isso que tantas mulheres (e homens) conseguem funcionar até muito bem mesmo com muitosburacos ou lacunas no sistema de sustentação. É que elas têm a tendência a favorecer os aspectos docomplexo materno nos quais haja menos danos à rede psíquica. A procura de orientação prudente ebenéfica pode ajudar a remendar essa rede, não importa quantos anos a pessoa tenha convivido com odano.5 Os contos de fadas utilizam os símbolos da madrasta, do padrasto, da família emprestada,dos irmãos emprestados, tanto para o lado negativo quanto para o positivo. Em virtude do alto índicede divórcio e novas uniões nos Estados Unidos, existe certa suscetibilidade quanto ao uso dessesímbolo no seu aspecto negativo. No entanto, há muitas histórias a respeito de famílias emprestadas ede famílias de adoção positivas e simpáticas nos contos de fadas, sendo que uma das mais conhecidas éa do casal de velhos gentis na floresta que encontram por acaso uma criança abandonada, e a do pai deadoção que acolhe uma criança de algum modo incapacitada e cuida dela até que ela recupere a saúdeou que ajuda a criança a encontrar um poder extraordinário.6 Isso não quer dizer que não devamos ser carinhosas quando justificado e de livre eespontânea vontade. O tipo de gentileza de que falamos aqui é servil e quase chega à bajulação. É uma359atitude decorrente de querer algo desesperadamente e de se sentir impotente. É como a criança quetem medo de cães dizer "cachorro bonzinho, cachorro bonzinho".Há uma outra forma ainda mais maligna de amabilidade na qual a mulher usa de artimanhaspara agradar os outros. Na sua opinião ela precisa instigar os outros de um modo agradável para obtero que ela acredita que não obteria de outra forma. É um jeito maléfico de ser gentil. Ele coloca amulher numa posição de sorrir forçado e de se curvar, no esforço de fazer com que o outro se sintabem para que ele seja bom para ela, que a apóie, que a aprove, que lhe faça favores, que não a traia, eassim por diante. Ela está concordando em não ser ela mesma; perde sua forma e assume a que ooutro parece desejar mais. Embora essa possa ser uma tática de camuflagem numa situação extremasobre a qual a mulher não tenha nenhum controle, se a mulher por sua própria vontade encontramotivos para estar numa situação dessas a maior parte do tempo, ela está se enganando a respeito dealgo muito sério e renunciou à sua principal fonte de poder: a de falar abertamente em sua própriadefesa.7 Mana é uma palavra empregada na Melanésia que Jung colheu em estudos antropológicosperto do início do século. Ele considerava que o termo descrevia a qualidade mágica que cerca certaspessoas, talismãs, elementos da natureza como o mar e a montanha, árvores, plantas, rochas, lugares eacontecimentos, e que deles emana. Independentemente dos antropólogos que estudaram essefenômeno, os integrantes das tribos vivenciam essa energia como algo pragmático e místico ao mesmotempo. Ela tanto anima quanto comove. Além disso, a partir dos relatos de místicos de todos ostempos que documentaram seus altos e baixos com o chamado mana, concluímos que a associaçãocom a natureza essencial que produz esse efeito é muito parecida com a sensação de estar apaixonado.Sem ela, sentimo-nos desamparadas; de início, ela pode exigir muito tempo e incubação, porém maistarde pode-se chegar a um relacionamento rico e profundo com ela.8 Os homunculi são as pequenas criaturas, como por exemplo as fadinhas, os elfos e outros"seres minúsculos". Embora haja quem diga que o homúnculo é subumano, aqueles que se encontramna sua tradição consideram que sejam supra-humanos: criativos e sabiamente brincalhões ao seupróprio modo.9 Alguns rebaixam a psique animal ou tentam se isolar para não demonstrarem nada decomovente ou animal. Parte do problema está na percepção de que os animais não são profundos nemcheios de alma. Em algum ponto no tempo, talvez no futuro não muito distante, podemos ficarassombrados com o fato de esse antropocentrismo um dia ter lançado raízes, da mesma forma queagora muitos se sentem perplexos com o fato de a discriminação contra o ser humano baseada na corda sua pele ter um dia tido um valor aceitável.10 Ele continuará a ser represado naquelas que vierem depois dela se ela não parar pararecuperá-lo agora.11 Nas oficinas, as mulheres às vezes fazem bonecas de gravetos e às vezes de feijões, maçãs,trigo, milho, pano e papel de arroz. Algumas desenham nesses materiais com tintas; algumas costuramas bonecas e outras as colam. No final, há dezenas e mais dezenas de bonecas expostas em fileiras,muitas feitas do mesmo material, mas todas tão diferentes e exclusivas quanto as mulheres que asconfeccionaram.1 2 Um dos problemas mais cruciais das teorias mais antigas acerca da psicologia das mulheresé o de serem limitados os panoramas da vida feminina. Não se imaginava que ela pudesse ser tudo oque é. A psicologia clássica centrava seu estudo em mulheres fracassadas, mais do que em mulherestentando se libertar. A natureza instintual exige uma psicologia que observe as mulheres que seesforçam bem como aquelas que estão começando a desenferrujar, após séculos de submissão.1 3 Essa intuição de que estamos falando não é a mesma função tipológica delineada por Jung:sentimento, pensamento, intuição e sensação. Na psique feminina (e na masculina), a intuição é maisdo que tipologia. Ela pertence à psique instintiva, da alma, e parece ser inata, passando por umprocesso de amadurecimento e tendo uma capacidade para perceber, conceituar e simbolizar. Ela éuma função pertinente a todas as mulheres, independente da tipologia.14 Na maioria dos casos, parece ser melhor ir quando se é chamada (ou empurrada), quandose tem alguma impressão de ser capaz de ter agilidade e elasticidade, do que hesitar, resistir,contemporizar, até que as forças psíquicas venham agarrá-la e arrastá-la, ferida e sangrando, por todoo processo de qualquer jeito. Às vezes, não se tem a opção de manter o equilíbrio; mas, quando elaexiste, consome menos energia aceitá-la.15 Mãe Noite, uma das deusas da vida-morte-vida das tribos eslavas.16 Por toda a América Central, la máscara tem a conotação de que a pessoa aprendeu a uniãocom o espírito retratado tanto na máscara quanto nos trajes espirituais que está usando. Essaidentificação com o espírito através das roupas e do adereço do rosto desapareceu quase360completamente na sociedade ocidental. No entanto, fiar e tecer são meios de se convidar um espíritoou de ser animada por ele. Há sérios indícios de que a arte de fiar e de tecer teriam sido outrorapráticas religiosas empregadas para ensinar os ciclos da vida, da morte e para além delas.17 É bom ter muitas personas, colecioná-las, costurar algumas, recolhê-las à medida queavançamos na vida. Quando vamos envelhecendo cada vez mais, com uma coleção dessas à nossadisposição, descobrimos que podemos ser qualquer coisa, a qualquer hora que desejemos.18 Para funcionar organicamente, basta simplificar, aproximar-se mais das sensações e dossentimentos, em vez de intelectualizar. Às vezes ajuda, como costumava dizer um colega meu falecido,pensar em termos que seriam compreendidos por uma criança inteligente de dez anos de idade.19 Coincidentemente, essas também são as mesmas qualidades para o sucesso da vida daalma, bem como para o sucesso na vida econômica e nos negócios.20 Jung era da opinião de que a pessoa poderia conseguir entrar em contato com a fonte maisantiga através dos sonhos noturnos. (C. G. Jung Speaking, organização de William McGuire e R. F. C.Huli [Princeton: Princeton University Press, 1977].)21 Na realidade, é um fenômeno dos estados hipnagógico e hipnopômpico que se situam emalgum ponto entre o sono e o despertar. Está bem documentado nos laboratórios de pesquisa do sonoque uma pergunta apresentada no início do estágio de "crepúsculo" do sono parece passar pelos'arquivos'' do cérebro durante estágios mais avançados do sono, trazendo à mente uma resposta diretaao despertar.22 Havia uma velha que morava numa cabana no bosque perto de onde eu cresci. Ela diziacomer uma colher de chá de estrume todo dia. Dizia que espantava as tristezas.23 Em toda a tradição escrita e oral dos contos de fadas, há muitas contradições a esserespeito. Alguns contos dizem que ser sábio quando se é jovem irá fazer com que se viva muito tempo.Outros advertem para o fato de não ser tão bom ser velho enquanto se é jovem. Em comparação,alguns deles são provérbios que podem ser interpretados de modo diferente dependendo da cultura edo período do qual derivam. Outros, porém, ao meu ver, parecem ser uma espécie de koan em vez deuma instrução. Em outras palavras, essas expressões destinam-se a ser contempladas em vez deinterpretadas literalmente, numa contemplação que poderia acabar provocando um satori, ou súbitacompreensão.24 Essa alquimia pode ter derivado de observações muito mais antigas do que os escritosmetafísicos. Diversas velhas contadoras de histórias tanto da Europa Oriental quanto do México medisseram que o simbolismo do branco, vermelho e negro se origina do ciclo reprodutivo e menstrualdas mulheres. Como todas as mulheres que já menstruaram sabem, o negro representa o revestimentoque se solta do útero sem gravidez. O vermelho simboliza tanto a retenção do sangue no útero durantea gravidez quanto o "sinal", a mancha de sangue que anuncia o início do trabalho de parto e, portanto,a chegada da nova vida. O branco é o leite materno que brota para alimentar o novo rebento. Esse éconsiderado um ciclo completo de intensa transformação. O que me faz cogitar se a alquimia não seriatodo um conjunto de símbolos e atos que teriam alguma proximidade com os ciclos da menstruação,da gravidez, do parto e do aleitamento. Parece também ser provável existir um arquétipo da gravidezque não deve ser interpretado literalmente e que ele afetaria ou instigaria ambos os sexos, que depoisprecisam descobrir um meio para simbolizá-lo de modo significativo para si mesmos.25 Venho há muitos anos estudando a cor vermelha na mitologia e nos contos de fadas: o fiovermelho, os sapatos vermelhos, a capa vermelha e assim por diante. Creio que muitos fragmentos damitologia e dos contos de fadas são derivados das antigas "deusas vermelhas", que eram divindadesregentes de todo o espectro da transformação feminina — todos os acontecimentos "vermelhos" — asexualidade, o parto e o erótico, e que originalmente faziam parte do arquétipo das três irmãs donascimento, morte e ressurreição, além de fazer parte do mito do sol nascente e poente em todo omundo.26 A adoração dos ancestrais, um termo da antropologia clássica, seria chamada maisexatamente de "afinidade com os ancestrais", um relacionamento permanente com aqueles quevieram antes.27 Muitos ossos de mulher foram encontrados em Çatal Hüyük, uma cidade neolítica emescavação na Anatólia.28 Existem outras variantes dessa história bem como outros episódios e, em alguns casos,epílogos ou anticlímax anexados ao final da história central.29 Vemos essa forma extremamente simbolizada da pelve em tigelas e ícones de locais dalugoslávia e dos Bálcãs Orientais que Gimbutas estima serem de 5000-6000 antes de Cristo. MarijaGimbutas, The Goddesses and Gods of Old Europe: Myths and Cult Images (Berkeley: University ofCalifornia Press, 1974. Edição atualizada, 1982).36130 A imagem do pontinho também aparece nos sonhos, muitas vezes como aquilo que setransforma em outra coisa. Alguns de meus colegas médicos aventam a hipótese de que ele poderiasimbolizar o embrião ou o ovo no seu estado mais primitivo. Os contadores de histórias referem-sefreqüentemente ao pontinho como ovos.31 É possível que o espírito e a consciência de um indivíduo possuam uma "impressão" comose fosse de gênero, e que essa masculinidade ou feminilidade de espírito, independente do sexo físico,seja inata.CAPÍTULO 4O parceiro: A união com o outro1 Esse final de história é tradicional no oeste da África. Ele me foi ensinado pela griot afro-americana Opalanga Pugh.2Há uma canção infantil na Jamaica que pode ser uma remanescente dessa história: "Só parater certeza de que o sim/ é um sim definitivo/ eu lhe pergunto de novo/ e de novo, de novo, de novo."3 O cão age, numa comunidade de cães, de um modo um tanto diferente do que faria comoanimal de estimação de uma família de seres humanos.4 Robert Bly, comunicação pessoal, 1990.CAPÍTULO 5A caçada: Quando o coração é um caçador solitário1 Isso não quer dizer que o relacionamento chega ao fim, mas que certos aspectos dorelacionamento soltam o pêlo, perdem a casca, desaparecem sem deixar traço, sem deixar seu novoendereço, e de repente voltam a aparecer com uma textura, uma cor e uma forma diferentes.2 Durante uma das minhas visitas à região florestal do México, senti dor de dente, e umboticario me encaminhou a uma mulher que era conhecida por aliviar esse tipo de dor. Enquanto elaaplicava seus medicamentos, falou-me de Txati, a grande mulher-espírito. Ficou claro pela suadescrição que Txati é uma deusa da vida-morte-vida, mas eu ainda não encontrei nenhuma referênciaa ela na literatura acadêmica. Entre outras coisas, la curandera disse que Txati é uma grandecurandeira que é tanto o seio quanto a cova. Txati leva consigo uma tigela de cobre: virada para umlado, ela contém alimentos e os derrama, virada para o outro, ela se torna o recipiente para a alma dosrecém-falecidos. Txati é a guardiã do parto, da relação sexual e da morte. Acredita-se que, nos casos deaborto natural, de aborto provocado, de morte de uma pessoa, ela recebe o corpo nessa tigela, onde ofaz girar até que ele fique cada vez menor, até que ele fique tão pequeno quanto a ínfima ponta doespinho dos nopales, frutos do cacto. É então que ela o deposita no útero de uma mulher e espera paraver o que vai acontecer depois.3 Existem muitas versões da história de Sedna. Ela é uma poderosa divindade que vive debaixod'água e cujas boas graças são procuradas por curandeiras que lhe pedem para restaurar a saúde e avida daqueles que estão doentes ou moribundos.4 Sem dúvida, a procura de "um tempo" pode ser uma necessidade legítima de solidão, mas elatalvez seja a "mentirinha" mais disseminada nos relacionamentos atuais. Em vez de conversar sobre oproblema, as pessoas preferem "d ar um tempo". É uma versão adulta de "o cachorro comeu meutrabalho de casa" ou "minha avó morreu..." pela quinta vez.5 Bem como o que ainda-não-é belo.6 Do inesquecível poema "Integrity". Adrienne Rich, The Fact of a Doorframe, Poems Selectedand New, 1 950-1984. Nova York: W. W. Norton, 1984.CAPÍTULO 6A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção1 Embora alguns analistas junguianos considerem que Andersen era "neurótico" e que,portanto, sua obra não é útil para estudo, para mim sua obra é muito importante, em especial ashistórias que ele escolheu para ilustrar, independente do seu estilo de ilustração, pois elas retratam osofrimento de criancinhas — o sofrimento do Self da alma. Esse retalhar, fatiar e cortar da alma juvenilnão é uma questão típica da época e do lugar em que Andersen viveu. Ela continua a ser uma questãocrítica e universal da alma. Embora a questão da violência contra a alma e o espírito de crianças,adultos ou dos idosos tenha sido reduzida pela intelectualização'romântica, considero que Andersen a362encarou de frente. A psicologia clássica, em geral, atribui uma data anterior à compreensão por parteda sociedade da amplitude e profundidade da violência contra as crianças em todas as classes eculturas.2 O narrador rústico costuma ser aquele que não foi sufocado pelas camadas de cinismo, quepossui um bom senso razoável bem como um sentido do mundo das trevas. De acordo com essadefinição, uma pessoa instruída, criada no asfalto de uma metrópole, poderia ser rústica. A palavraaplica-se mais ao estado mental do que ao habitat físico de uma pessoa. Quando eu era criança, ouvi oPatinho feio das três Katies, todas elas rústicas.3 Esse é um dos principais motivos pêlos quais um adulto resolve fazer análise: para classificare organizar os complexos e fato-res paternos, culturais, históricos, e arquetípicos para que, como emLa Llorona, o rio possa ficar tão limpo quanto possível.4 Sísifo, Ciclope e Caliban; essas três figuras masculinas são conhecidas por sua resistência,sua capacidade de ser feroz e sua insensibilidade. Nas culturas em que as mulheres não têm permissãode se desenvolver em todas as direções, na grande maioria das vezes elas são inibidas nodesenvolvimento dessas qualidades ditas masculinas. Quando existe um aviltamento psíquico ecultural do desenvolvimento masculino nas mulheres, elas são impedidas de ter acesso ao cálice, aoestetoscópio, ao pincel, ao controle financeiro, aos cargos políticos e assim por diante.5 Veja as obras de Alice Miller: Drama of the Gifted Child, For Your Own Good, Thou ShaltNot Be Aware (na bibliografia).6 Exemplos de atos que isolam a mulher do seu jeito de trabalhar e de viver não precisam serdramáticos para provar a alegação. Entre os mais recentes figuram leis que dificultam à mulher (ou aohomem) ter uma ocupação rentável em casa, ficando ao mesmo tempo perto do mundo dos negócios,do lar e dos filhos7 Ainda existe muita escravidão no mundo. Às vezes, ela não recebe esse nome, mas sempreque uma pessoa não tem a liberdade de "ir embora" e sofre punições se "fugir", isso é escravidão.Existe também a escravidão declarada. Uma pessoa que voltou recentemente de uma ilha do Caribeme contou que num dos hotéis de luxo de lá um príncipe do Oriente Médio chegou com uma comitivaque incluía algumas escravas. Todo o pessoal do hotel corria de um lado para o outro no esforço deimpedir que elas por acaso cruzassem o caminho de um conhecido funcionário negro do governonorte-americano que também estava hospedado no hotel.8 Essas incluíam mães-crianças de até doze anos de idade, adolescentes e mulheres maisvelhas, aquelas grávidas de uma noite de amor, de uma noite de prazer ou de uma noite de amor eprazer, bem como as vítimas de incesto-estupro, todas se viram desamparadas e foram duramenteatacadas porque sua cultura mantinha a atitude de prejudicar tanto a criança quanto a mãe com adifamação e o ostracismo.9Há uma série de escritores que publicaram obras com esse tema. Veja as obras de Robert Bly,Guy Corneau, Douglas Gillette, Sam Kem, John Lee, Robert L. Moore e assim por diante.10 É um dos mitos mais tolos a respeito da velhice o de que a mulher fica tão completa que nãoprecisa de nada e passa a ser uma fonte de tudo para todos. Não, ela continua como uma árvore queprecisa de água e de ar, não importa a idade que tenha. A mulher velha é igual à árvore; não há nelaum final, nenhuma súbita sensação de plenitude, mas sim uma grandiosidade de raízes e ramos e, comos cuidados adequados, muitas flores.11 A mim transmitida por minha amiga Faldiz, uma mulher de origem ibérica.1 2 Os junguianos usam essa palavra para designar o tolo inocente nos contos de fadas quequase sempre se sai bem no final da história.1 3 De Jan Vanderburgh, comunicação pessoal.14 Existe uma tendência na psicologia junguiana que muitas vezes prejudica o diagnóstico deuma grave perturbação: a de que introversão é um estado normal não importa o grau da mortalquietude da pessoa. Na realidade, um silêncio fatal que às vezes pode passar por introversãofreqüentemente oculta um trauma profundo. Quando a mulher é "tímida", profundamente"introvertida" ou dolorosamente "recatada", é importante examinar bem para saber se a atitude é inataou se resulta de antigas feridas.15 Carolina Delgado, uma artista e assistente social junguiana de Houston, usa ofrendas dotipo bandejas de areia como um instrumento projetivo para delinear o estado psíquico do indivíduo.16 A lista de mulheres "diferentes" é muito longa. Pense em qualquer figura de destaque dosúltimos séculos, e é muito provável que ela tenha começado à margem, que tenha se originado de umsubgrupo ou de fora da maioria "normal".363CAPÍTULO 7O corpo jubiloso: A carne selvagem1 As mulheres da tribo tehuana estão sempre dando tapinhas e tocando não só seus bebês enão só seus homens, não só suas avós e seus avôs, não só a comida, as roupas, os animais de estimaçãoda família, mas também a si mesmas. É uma cultura que valoriza o contato físico e que parece fazerflorescer as pessoas.Do mesmo modo, ao observar os lobos brincando, vê-se que eles batem uns nosoutros numa espécie de dança agitada. É esse vínculo através da pele que transmite uma mensagemcomo, "eu faço parte, você faz parte".2 Aparentemente, a partir de observação informal entre vários grupos de aborígines distintos,verificou-se que, embora haja aqueles que prefiram se isolar da tribo — talvez vivendo com o grupoapenas parte do tempo e não seguindo necessariamente os valores do núcleo tribal o tempo todo, osgrupos centrais abordam homens e mulheres com respeito, independente do tamanho, da forma e daidade. Pode ocorrer de eles caçoarem uns dos outros por um motivo qualquer, mas a intenção não éperversa nem rejeitadora. Essa abordagem ao corpo, ao sexo e à idade parece fazer parte de uma visãomais ampla e de um amor pela diversidade da natureza.3 Algumas pessoas alegam que um interesse pela vida à moda antiga ou com certos valores"aborígines, velhos ou ancestrais" tem um fundo sentimental: um desejo piegas de volta ao passado,uma fantasia ilusória e irracional. Alega-se que as mulheres no passado levavam uma vida difícil, queas doenças eram generalizadas e assim por diante. É verdade que as mulheres no mundo do passadocomo no mundo do presente tinham/têm de trabalhar muito, muitas vezes sob condições deexploração, eram/são maltratadas, as doenças eram/são generalizadas. Tudo isso é verdade e valetambém para os homens.No entanto, nos grupos autóctones e entre meus antepassados, tanto de origem latina quantode origem húngara, que são decididamente de natureza tribal, criadores de clãs, construtores detotens, fiandeiros, tecelões, gente que planta, que costura, que cria, sou da opinião de que não importaquão árdua seja a vida ou quão difícil ela se torne, os antigos valores — mesmo se tivermos de escavarpara encontrá-los ou se tivermos de reaprendê-los — dão apoio à alma e à psique o tempo todo. Muitosdos chamados "estilos antigos" são uma forma de alimento que nunca se deteriora e que na realidadeaumenta quanto mais o utilizamos.Embora exista uma abordagem sagrada e uma profana para tudo, creio haver poucosentimentalismo e, sim, uma nítida sensatez na admiração e imitação de certos "valores antigos". Emmuitos casos, atacar o legado de valores antigos e profundos é, mais uma vez, tentar isolar a mulher daherança de suas linhagens matriarcais. Traz paz à alma aproveitar o conhecimento do passado, o poderdo presente e as idéias do futuro simultaneamente.4 Se houvesse um "espírito malévolo" no corpo da mulher, ele teria sido princ ipalmenteintrojetado por uma cultura muito confusa quanto ao corpo natural. Apesar de ser verdade que umamulher pode ser o pior inimigo de si mesma, a criança não nasce com ódio pelo próprio corpo mas,sim, como podemos ver ao observar um bebê, com uma a legria extrema pela descoberta e uso dopróprio corpo.5 Ou, falando nisso, o do pai.6 Há anos, vem sendo escrita e divulgada uma enorme quantidade de material a respeito dotamanho e da configuração do corpo humano, especialmente o das mulheres. Com poucas exceções, amaioria dessas obras provém de autores que parecem sentir piedade ou repulsa por diversasconfigurações. É importante ouvir também as mulheres que sejam mentalmente sãs independente dotipo físico mas, especialmente, aquelas que sejam saudáveis e de bom tamanho. Embora não estejadentro do âmbito deste livro, "a mulher que grita de dentro" parece ser principalmente uma profundaproje-ção e introjeção da cultura. Isso precisa ser examinado meticulosamente e interpretado à luz depatologias e preconceitos culturais mais profundos que envolvem muitas ideias ligadas ao tamanho,como por exemplo a sexualidade hipertrofiada na cultura, a fome da alma, as estruturas e castashierárquicas no formato do corpo e assim por diante. Seria bom como que levar a cultura ao divã doanalista.7 De uma perspectiva arquetípica, é possível que parte da obsessão com a escultura do corpofísico irrompa quando o mundo da pessoa, ou o mundo como um todo, pareça estar tão fora decontrole que as pessoas procurem controlar o território ínfimo dos seus próprios corpos.8 Aceita no sentido de ter paridade, bem como no da cessação do escárnio.9 Martin Freud, Glory Reflected- Sigmund Freud, Man and Father (Nova York: VanguardPress, 1958).36410 Nas histórias de tapetes mágicos, há muitas descrições diferentes do tapete: era vermelhoou azul, era velho ou novo, era persa, indiano ou de Istambul, era de propriedade de uma velhinha quesó o tirava de casa... e assim por diante.11 O tapete mágico é uma imagem arquetípica central nas histórias fantásticas do OrienteMédio. Uma delas intitula-se "O tapete do príncipe Housain", semelhante à "História do príncipeAhmed", e se encontra na coleção d'As mil e uma noites.1 2 Existem substâncias naturais no corpo, algumas bem estudadas como a serotonina, queparecem provocar uma sensação de euforia. Essas substâncias são ativadas pela oração, meditação,contemplação, insight, uso da intuição, transe, dança, certas atividades físicas, pelo canto e por outrosestados profundos de concentração da alma.1 3 Em pesquisas interculturais, fico impressionada com grupos que são expulsos da maioriadominante e que, mesmo assim, mantêm e reforçam sua integridade. É fascinante ver que, repetidasvezes, o grupo que foi privado dos seus direitos e que manteve sua integridade acaba frequentementesendo admirado e procurado pela própria corrente dominante que o exilou.14 Um dos muitos meios de perder o contato consiste em não mais saber onde estãoenterrados nossos parentes e antepassados.15 Pseudônimo, para proteção da sua privacidade.16 Ntozake Shange, for colored girls who have considered suicide when the rainbow is enuf(Nova York: Macmilian, 1976).CAPÍTULO 8A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas1 Da raiz latina sen, que significa velho, vêm as seguintes palavras: senhora, senhor, senado esenil.2 Existem culturas internas assim como culturas externas. Elas têm um comportamentonotavelmente semelhante.3 Barry Holston Lopez define esse comportamento na sua obra Of Wolves and Men como"embriaguez de carne" (Nova York: Scribner's, 1978).4 Podem "cair em excessos" tanto os que foram criados nas ruas quanto os nascidos em berçode ouro. Falsos amigos, afetações, entorpecimento para a dor, comportamento protecionista,embaçamento da própria luz, tudo isso pode atacar uma pessoa independente de sua formação.5 Da abadessa Hildegard of Bingham, também conhecida como Santa Hildegard. Ref: MS2Weisbaden, Hessische Lantesbibliothek.6 A técnica do "nada de biscoito enquanto você não fizer o trabalho de casa" é chamada deprincípio Primack ou "lei da vovó" no curso de Psicologia 101. Mesmo a psicologia clássica parecereconhecer que uma lei dessa natureza pertence ao campo de ação do ancião.7 Joplin não estava fazendo uma afirmação de cunho político ao não usar maquiagem. Como ade muitas adolescentes, sua pele era cheia de erupções, e no período do segundo grau ela seconsiderava mais uma colega dos rapazes do que uma namorada em potencial.Na década de 1960 nos Estados Unidos, muitas mulheres de recente militância evitavam usarmaquiagem com objetivos políticos: no fundo elas estavam dizendo que não desejavam se apresentarcomo figuras deleitáveis a serem consumidas pêlos homens. Em comparação, em muitas culturasaborígines, indivíduos de ambos os sexos usam pintura no corpo e no rosto tanto para repelir quantopara atrair. Essencialmente, para as mulheres, enfeitar-se é um comportamento criativo do feminino, eo fato de optarmos por um ou a forma pela qual o realizamos constituem uma linguagem pessoal sejacomo for, transmitindo o que a mulher deseja.8. Para uma bela biografia de Janis Joplin, que viveu uma versão moderna de Os sapatinhosvermelhos, veja Myra Friedman, Buried Alive: The Biography of Janis Joplin (Nova York: Morrow,1973). (Enterrada viva: a biografia de Janis Joplin). Uma versão atualizada deverá ser publicada embreve.9 Isso, sem ignorar a etiologia orgânica e em alguns casos as deteriorações iatrogênicas.10 As versões atuais que temos de Os sapatinhos vermelhos talvez demonstre com maiorclareza do que mil páginas de pesquisa histórica como a matéria original desses ritos foi deformada ecorrompida. No entanto, as versões remanescentes, através de fragmentos, têm um valor inestimávelpois às vezes as camadas mais recentes e brutais de um conto de fadas nos dizem exatamente o queprecisamos saber para sobreviver e vicejar numa cultura e/ou num ambiente psíquico que imita oprocesso destrutivo revelado no próprio conto. Nesse sentido, temos a estranha sorte de dispor de um365conto fragmentado que assinala nitidamente as armadilhas psíquicas à nossa espera no aqui e noagora.11 . Os ritos das mulheres aborígines antigas e contemporâneas são freqüentemente chamadosde ritos da "puberdade" ou da "fertilidade". No entanto, essas expressões derivam de um ponto devista masculino na antropologia, na arqueologia e na etnologia pelo menos desde meados do séculoXIX. São expressões que infelizmente desvirtuam e fragmentam o processo da vida das mulheres emvez de representar a realidade verdadeira.Em sentido metafórico, a mulher passa pela abertura dos ossos da sua pelve muitas vezes,tanto para cima quanto para baixo, de modos diversos e cada vez adquirindo novos conhecimentos.Esse processo continua pela vida inteira da mulher. Ele não começa com a menstruação para terminarna menopausa... a chamada fase da "fertilidade". Com maior exatidão, todos os ritos da "fertilidade"deveriam ser chamados de ritos de passagem; cada um com seu próprio nome de acordo com seuespecífico poder de transformação, não só do que poderia ser obtido abertamente mas também do quepoderia ser alcançado internamente. O ritual de bênção do povo na-vajo chamado de "O caminho dabeleza" é um bom exemplo de linguagem e designação que definem a fundo a questão.1 2 Mourning Unlived Lives — A Psychological Study of Child-bearing Loss de autoria daanalista junguiana Judith A. Savage é um excelente livro e um dos poucos do seu género a tratar dessaquestão de enorme importância para as mulheres (Wilmette, Ulinois: Chi-ron Books, 1989).1 3 Os ritos, como por exemplo a hatha ioga e a ioga tântrica, a dança e outras atividades queorganizam nosso relacionamento com nosso corpo são imensamente revigorantes.14 Em alguns folclores, diz-se que o diabo não se sente confortável na forma humana, que elenão se ajusta bem, o que faz com que ande mancando. Nos termos do conto de fadas, também, amenina nos Sapatinhos vermelhos vem a ter os pés amputados sendo, portanto, forçada a mancar jáque ela, de certo modo, "dançou com o demônio", tendo absorvido seu jeito manco de andar, ou seja,sua vida subumana entorpecedora e voltada para os excessos.15 Nos tempos pós-cristãos, as antigas ferramentas do sapateiro tornaram-se sinônimos dasferramentas de tortura do diabo: raspadeira, torquês, alicate, pinças, martelo, sovela e assim pordiante. Nos tempos pagãos, os sapateiros compartilhavam da responsabilidade espiritual de aplacar osanimais que forneciam o couro para os sapatos, as solas, os forros e os revestimentos. Já no início doséculo XVI, afirmava-se em toda a Europa não-pagã que "os falsos profetas eram feitos de latoeiros esapateiros".16 Estudos sobre a trivialização da violência e o aprendizado da impotência foram realizadospelo psicólogo experimental Martin Seligman, Ph.D., e outros.17 Na década de 1970 em seu livro histórico sobre as mulheres vítimas de violência (TheBattered Woman [Nova York: Harper & Row, 1980]), Lenore E. Walker aplicou esse princípio aomistério dos motivos pêlos quais as mulheres ficavam com parceiros que as maltratavam abertamente.18 Ou àqueles à nossa volta que são jovens ou indefesos.O movimento das mulheres, a N.O.W. e outras organizações, algumas de orientação ecológica,outras voltadas para a educação e para os direitos eram/são dirigidas, desenvolvidas e ampliadas, alémde ter seu quadro de associados composto por inúmeras mulheres que correram enormes riscos paradar um passo à frente, protestar e, talvez com importância ainda maior, continuar a plenos pulmões.Na área dos direitos há muitas vozes, tanto femininas quanto masculinas.19 O movimento das mulheres, a N.O.W. e outras organizações, algumas de orientaçãoecológica, outras voltadas para a educação e para os direitos eram/são dirigidas, desenvolvidas eampliadas, além de ter seu quadro de associados composto por inúmeras mulheres que correramenormes riscos para dar um passo à frente, protestar e, talvez com importância ainda maior, continuara plenos pulmões. Na área dos direitos há muitas vozes, tanto femininas quanto masculinas.20 Essa manutenção da mulher "na linha" por parte de outras mulheres da mesma idade emais velhas diminui as controvérsias e reforça a segurança para as mulheres que precisam viver sobcondições hostis. No entanto, em outras circunstâncias, essa atitude lança as mulheres em situações detotal traição umas às outras, em termos psicológicos, isolando-as, portanto, de mais uma tradiçãomatrilinear — a de contar com as mais velhas que defenderão as mais novas, que irão interferir, julgar,reunir-se em conselhos com quem quer que seja a fim de garantir uma sociedade equilibrada e direitospara todos.Em outras culturas nas quais cada sexo é compreendido ou bem como irmã ou bem comoirmão, os parâmetros hierárquicos impostos pela idade e pelo poder são amenizados por umrelacionamento de cuidado para com cada pessoa e de responsabilidade por ela.Para a mulher que foi traída na infância, persiste uma expectativa de ser traída pelo amante,pelo empregador e pela cultura. Suas primeiras experiências com a traição muitas vezes provêm de um366incidente, um único ou muitos, originado da sua própria linhagem feminina ou familiar. É mais ummilagre da psique que uma mulher semelhante ainda possa confiar tanto apesar de ter sido tão traída.As traições ocorrem quando aqueles que detêm o poder vêem o problema e a ele fecham osolhos. As traições Ocorrem quando as pessoas não cumprem promessas, recuam depois de secomprometer a ajudar, a proteger, a defender, a dar apoio, afastando-se de atos de coragem epreferindo agir com indiferença ou como se estivessem ocupadas com outro assunto.21 A dependência é qualquer coisa que esgota a vida, dando a "impressão" de que a tornamelhor.22 A carência, a brabeza ou a dependência não são em si a causa da psicose, mas, sim, umaforma primária da agressão à força da psique de tal modo que um complexo oportunista possa emhipótese dominar a psique enfraquecida. É por isso que é importante recuperar o instinto prejudicadopara que a pessoa não fique em condição vulnerável ou degenerativa.23 Charles Simic, Selected Poems (Nova York: Braziller, 1985).24 OS ELEMENTOS DO CATIVEIROPegue uma criatura original.Domestique-a cedo, de preferência antes da fala ou da locomoção.Socialize-a ao máximo.Deixe que sinta uma fome profunda pela sua natureza selvagem.Isole-a dos sofrimentos e liberdades dos outros, para que ela não possa comparar sua vida anada.Ensine-lhe apenas um ponto de vista.Permita que ela seja carente (ou fria, ou indiferente) e deixe que todos percebam, mas queninguém lhe diga.Permita que ela se isole do seu corpo físico, eliminando, portanto, seu relacionamento comessa criatura. Solte-a num ambiente em que ela possa obter em excesso coisas que antes lhe eramnegadas, coisas que sejam tanto interessantes quanto perigosas.Dê-lhe amigos que também sejam carentes e que a estimulem ao desregramento.Permita que seus instintos fragilizados relacionados à prudência e à proteção continuemassim.Em conseqüência dos seus exageros (alimentação insuficiente, alimentação excessiva, drogas,sono insuficiente, sono excessivo, etc.), permita que a morte se insinue bem perto dela.Permita que ela se esforce por uma restauração da persona de "boa menina" e que tenhasucesso, mas só de vez em quando.Depois, finalmente, permita que ela se envolva freneticamente com excessos promotores dedependência em termos psicológicos ou fisiológicos, que causem entorpecimento por si mesmos oupelo seu abuso (álcool, sexo, raiva, submissão, poder, etc .).Agora ela está no cativeiro. Inverta o processo, e ela se libertará. Restaure seus instintos, e elase fortalecerá.CAPÍTULO 9A volta ao lar: O retorno ao próprio Self1 O tema dessa história, a descoberta do amor e do lar e o encontro com a natureza da morte, éuma dentre muitas v ariantes encontradas em todo o mundo. (Além disso, o recurso de narração de terde quebrar as palavras congeladas dos lábios do narrador, descongelando-as diante do fogo para ver oque foi dito, é conhecido em todos os países frios do mundo.)2 Diz-se também entre os mesmos observadores que a alma não encarna no corpo, ou dá à luzo espírito, até que ela se certifique de que o corpo que irá habitar está realmente progredindo. É porisso que muitas vezes não se dá o nome à criança antes que se tenham passado sete dias donascimento, duas fases da lua ou mesmo mais tempo, comprovando-se, portanto, que a carne estásuficientemente forte para receber a alma, que por sua vez dá à luz o espírito. Além disso, as mesmaspessoas defendem a idéia sensata de que, por isso, não se deve jamais bater numa criança, pois aviolência espanta o espírito do seu corpo, e é muito longo e árduo o processo para recuperá-lo edevolvê-lo ao seu lar de direito.3 O processo iniciático — a palavra iniciação provém do latim initiare, que significa começar,apresentar, instituir. Uma iniciando é aquela que está começando um novo caminho, que se dispôs aser apresentada e instruída. Uma iniciadora é aquela que se dedica ao profundo trabalho de transmitir367o que sabe acerca do caminho, que mostra o modo de agir e orienta a inicianda para que ela supere osdesafios e com isso aumente seu poder.4 Em iniciações malfeitas, às vezes a iniciadora procura apenas os pontos fracos da inicianda eignora os outros 70% da iniciação, ou se esquece deles: o fortalecimento do talento e dons da mulher.Com freqüência, a iniciadora cria dificuldades sem fornecer apoio, inventa perigos e depois descansa.Essa é uma transferência de um estilo fragmentado de iniciação masculina; um estilo que acredita quea v ergonha e a humilhação fortaleçam a pessoa. Ela apresenta a dificuldade, mas não o apoio. Ou dágrande atenção a questões de procedimento, mas as necessidades críticas da vida dos sentimentos e daalma são tratadas num plano secundário. Dos pontos de vista da alma e do espírito, uma iniciaçãocruel ou desumana jamais reforça a fraternidade ou o sentido de vínculo. Isso foge à compreensão.Na falta de iniciadoras competentes, ou com iniciadoras que sugerem e apoiam procedimentosabusivos, a mulher procura a auto-iniciação. Trata-se de uma iniciativa admirável e uma realizaçãodeslumbrante se ela chegar a atingir três-quartos do proposto. É extremamente elogiável já que eladeve prestar grande atenção à psique selvagem para saber o que vem em seguida, e depois, e depois, eacompanhá-la sem a certeza advinda de saber que foi assim que se fez, tendo produzido o efeitodesejado milhares de vezes antes.5 Existe um perfeccionismo negativo e um perfeccionismo positivo. O negativofreqüentemente gira em tomo do medo de ser considerada incapaz. O positivo é mais parecido com aatitude de se esforçar ao máximo, de ficar com algo produtivo para aprender a fazer bem. Exemplos deperfeccionismo positivo consistem em aprender a fazer algo melhor, a escrever melhor, a falar, pintar,comer, relaxar melhor e assim por diante. Um outro tipo de perfeccionismo positivo reside em fazercertas coisas com regularidade a fim de reconhecer um sonho.7 "Vestir o sutiã de lata" é uma expressão do repertório de Yancey Ellis Stockwell, umaterapeuta vibrante e excelente contadora de histórias. Ela trabalha no Colorado, mas tem suas origensno leste do Texas, e isso já diz tudo.8 Com o patrocínio da Women's Alliance, de Berkeley, Califórnia, e de muitas curandeiras detalento, sendo uma delas a dedicada médica da prisão, dra. Tracy Thompson, além da vigorosaterapeuta-contadora de histórias Kathy Park, M.S.W.9 "Woman Who Lives Under the Lake", de C. P. Estes, Row-ing Songs For the Nighí SeaJourney; Contemporary Chants (Edição particular, 1989).Seus quadros-em-palavras e expressões literais acabaram se infiltrando nos grupos étnicos deorigem hispânica e do leste europeu naquela parte do país.10 Não é necessário que se trate dos filhinhos. Pode ser qualquer coisa. "Minhas plantas. Meucachorro. Meu trabalho da escola. Meu parceiro. Minhas petúnias." Trata-se apenas de um pretexto.No fundo, a mulher está tremendo, ansiosa, para sair, mas também está tremendo para ficar.11 O complexo de "ser tudo para todos" ataca a competência da mulher e a incita a agir comose fosse realmente a "grande curandeira". Só que, para um ser humano desempenhar o papel de umarquétipo é muito parecido com tentar ser Deus. É uma iniciativa impossível de se realizar, e o esforçodedicado a essa tentativa é muito exaustivo e destrutivo para a psique.Embora um arquétipo possa suportar as projeções de homens e mulheres, os seres humanosnão conseguem suportar ser tratados como se fossem um arquétipo e, portanto, invulneráveis einesgotáveis. Quando se pede ou se espera que a mulher represente o incansável arquétipo da grandecurandeira, podemos vê-la caindo cada vez mais em papéis opressivos e negativamenteperfeccionistas. Quando se é convidada a entrar nos limites luxuosos dos mantos arquetípicos dequalquer ideal, é melhor voltar os olhos para o infinito, abanar a cabeça e continuar caminhando devolta ao lar.1 2 Adrienne Rich, de The Fact of a Doorframe (Nova York: Norton, 1984), p. 162.1 3 Em outros contos, como por exemplo "A bela adormecida", a jovem desperta, não porquerecebe o beijo do príncipe, mas porque está na hora... a maldição de cem anos está encerrada, e chegoua hora de acordar. A floresta de espinheiros em volta da torre desaparece, não porque o herói sejasuperior, mas porque a maldição terminou e chegou a hora. Os contos de fadas nos ensinam repetida-mente. Quando chegou a hora, chegou a hora.14 Na psicologia junguiana clássica, essa criança seria chamada de psicopômpica, ou seja, umaspecto da anima ou animus, assim chamado em honra a Hermes Psicopompo, que conduzia as almasaté o outro mundo. Em outras culturas, o mensageiro psíquico é chamado de juju, bruja, anqagok,tzadik. Essas palavras são usadas tanto como nomes próprios quanto às vezes como adjetivos paradescrever a qualidade mágica de um objeto ou pessoa.15 Na história, o cheiro da pele de foca faz com que a criança sinta o pleno impacto doprofundo amor da sua mãe. Algo no formato da sua alma passa soprando por ele, sem machucá-lo,368mas deixando-o desperto. No entanto, entre algumas famílias do povo inuit dos nossos tempos,quando um ser amado morre, as peles da pessoa falecida, seus gorros, suas perneiras e outros artigospessoais são usados pêlos que ainda estão vivos. A família e os amigos assim trajados consideram queessa é uma forma de transmissão de alma a alma, necessária à própria vida. Acredita-se que umpoderoso vestígio da alma está impregnado na roupa, nas peles e nas ferramentas da pessoa morta.16 Mary Uukulat foi minha fonte e me passou originalmente essa história antiga e conhecida.17 Ibid.18 Oxford English Dictionary.19 As mulheres costumam reservar tempo suficiente para atender às crises de saúde física —especialmente da saúde dos outros — mas deixam de criar tempo para a manutenção do seu própriorelacionamento com sua própria alma. Elas têm a tendência de não reconhecer a alma como omagneto ou gerador central da sua animação e energia. Muitas mulheres tratam seu relacionamentocom a alma como se ela fosse um instrumento não muito importante. Como qualquer instrumento devalor, ela precisa de abrigo, de limpeza, de lubrificação, de consertos. Se isso não ocorre, como umautomóvel, o relacionamento emperra, provoca uma desaceleração na vida diária da mulher, faz comque ela gaste uma energia enorme nas tarefas mais simples e acaba enguiçando à beira do colapsolonge da cidade ou de um telefone. E então, a volta para casa implica uma longa caminhada.20 Trecho mencionado por Robert Bly em entrevista publicada em Bloomsbury Review(janeiro de 1990), "The Wild Man in the Black Coat Tuirns: A Conversation" de Clarissa PinkolaEstes, Ph.D. Ally Press considera essa entrevista "animada". Nela é discutido o relacionamento entreos arquétipos do homem selvagem e da mulher selvagem.CAPÍTULO 10As águas claras: O sustento da vida criativa1 O campo dos sonhos, filme baseado no romance Shoeless Joe de W. P. Kinsella.2 O problema do bloqueio na vida criativa geralmente tem diversas causas: complexosnegativos internos, falta de apoio do mundo externo e, às vezes, também a sabotagem direta.No que diz respeito à capacidade externa de destruição de novas iniciativas e idéias, maiornúmero de investigações criativas é interrompido e considerado não-conclusivo pela manipulação domodelo da "exclusão" (ou isso ou aquilo) do que por qualquer outro motivo que eu consiga imaginar. Oque veio antes? O ovo ou a galinha? Essa pergunta costuma encerrar o exame de alguma coisa, bemcomo a determinação dos seus muitos valores. Ela põe um fim à pesquisa de como algo estáestruturado e quais são seus possíveis usos. Muitas vezes é mais útil empregar o modelo cooperativo ecomparativo da "adição" (isso e mais aquilo). Alguma coisa é isso e também aquilo e mais aquilo. Elapode ser usada/não usada dessa forma, dessa outra e mais dessa outra.3 La Liorona, Lá lho-rô-na, com a ênfase no ro, o erre ligeiramente vibrante.4 A história de La Llorona é contada desde o início dos tempos. A mesma história é repetidacom pequenas variações, principalmente nos trajes que usava. "Ela estava vestida como umaprostituta, e um dos rapazes lhe deu carona perto do rio em El Paso. Cara, o susto que ele levou!" "Elaestava usando uma longa camisola branca." "Ela estava usando um vestido de noiva com um longo véucobrindo-lhe o rosto."Da mesma forma, muitos pais de origem latina usam La Llorona como uma babá mística. Amaioria das crianças fica tão apavorada com as histórias de que ela rouba crianças para pôr no lugardas suas, que os pequenos habitantes de cidades à margem de rios sabem que devem se afastar da águadepois do anoitecer e voltar para casa na hora.Alguns estudiosos dessas histórias afirmam que elas têm cunho moral destinado a induzir pelomedo as pessoas a se comportarem. Conhecendo bem o sangue apaixonado dos povos que originaramtais histórias, o impacto que elas causam em mim é o de histórias revolucionárias, histórias destinadasa despertar a consciência para a criação de uma nova ordem. Alguns narradores chamam históriascomo La Liorona de Los Cuentos de Revolución, Contos da Revolução.Histórias de lutas, de natureza psíquica ou não, são uma tradição muito antiga, anterior àconquista do México. Alguns dos velhos cuentistas, contadores de histórias do México, afirmam que oschamados códices astecas não são registros de guerras, como imaginado por muitos estudiosos, mas,sim, relatos ilustrados das grandes batalhas morais enfrentadas por todos os homens e mulheres.Muitos especialistas da escola tradicional consideravam que isso fosse impossível pois tinham certezade que as c ivilizações autóctones não dispunham da possibilidade de pensamento simbólico e abstraio.Para eles, os membros das antigas culturas eram como crianças para as quais tudo tinha significado369literal. No entanto, podemos concluir a partir do estudo da poesia náuatíe e maia daquela época, que ouso da metáfora era generalizado e que havia uma brilhante capacidade para o pensamento e odiscurso abstratos.5 Como por exemplo na Green National Convention no divisor continental de águas nasMontanhas Rochosas, em 1991.6 A mim mencionado por Marik Pappandreas Androupolous, contadora de histórias deCorinto, e a ela transmitido por Andrea Zarkokolis, também de Corinto.7 Marcel Pagnol, Jean de Florette e Manon of the Springs, tradução de W. E. van Heyningen(San Francisco: North Point Press, 1988). Os dois foram transformados em filme por Claude Berri(Orion Classic Releases, 1987).A primeira obra trata de malfeitores que tapam uma nascente a fim de impedir que um jovemcasal realize seu sonho de viver livres afastados da civilização, plantando os alimentos para seu própriosustento, cercados da fauna, das árvores e das flores. Subseqüentemente, a jovem família começa apassar fome porque nenhuma água chega mais às suas terras. Os malfeitores esperam comprar apropriedade por uma ninharia, assim que se espalhar sua reputação de terra árida. O marido morrecedo, a mulher envelhece precocemente e a filha cresce sem nenhuma herança.No segundo livro, a filha cresce, descobre a trama, vinga sua família e, parada dentro da lamaaté os joelhos, com as mãos sangrando, solta o concreto. A fonte volta a jorrar, derramando-se pelaterra, levantando nuvens de poeira à sua frente e deixando evidente o antigo ato dos malfeitores.8 O "medo do fracasso" é uma dessas frases feitas que não descrevem de fato o que a mulherrealmente teme. Um medo isolado costuma ter três partes: uma parte que é um resíduo do passado(sendo este, com freqüência, um motivo de vergonha), uma outra que é uma incerteza quanto aopresente e a terceira, que é o medo de resultados fracos e de conseqüências negativas no futuro.No que diz respeito à vida criativa, um dos medos mais comuns não está exatamente no medodo fracasso mas, sim, no medo de se pôr à prova. O raciocínio é mais ou menos o seguinte... se eufracassar, posso me levantar e começar tudo de novo; há uma infinidade de chances adiante de mim.Mas, e se eu conseguir, mas numa faixa medíocre? E se, não importa o quanto eu me esforce, euconseguir, sim, mas não no nível que eu desejava? Essa é a questão mais perturbadora para quem cria.E há muitas, muitas outras. É por isso que a vida criativa é em si mesma um caminho longo ecomplicado. No entanto, nem mesmo toda essa complexidade deveria nos afastar dela, pois a vidacriativa fica logo acima do coração da natureza selvagem. Apesar dos nossos piores medos, existe umsustento profundo proveniente da natureza instintiva.9 Houve um tempo em que as Harpias eram deusas da tempestade. Elas eram divindades davida e da morte. Infelizmente, elas foram impedidas de ser progenitoras dessas duas funções,tomando-se unilaterais. Como vimos na interpretação da natureza da vida-morte-vida, qualquer forçaque governa o nascimento também governa a morte. Na Grécia, no entanto, a cultura que veio a serdominada pêlos pensamentos e ideais de uns poucos havia dado tanta ênfase ao aspecto fatal dasHarpias como demoníacas aves da morte que suas funções naturais de incubar, de dar à luz e desustentar haviam sido eliminadas. Já na época em que Orestes escreveu sua peça na qual as Harpiassão mortas ou perseguidas até uma caverna no fim do mundo, a natureza revitalizante dessas criaturasestava completamente enterrada.10 Essa é uma versão pós-orestiana. Por sinal, nem todas as camadas negativas são patriarcais,assim como nem tudo que é patriarcal é negativo. Existe mesmo algum valor nas antigas camadaspatriarcais negativas sobrepostas a mitos que anteriormente retratavam um feminino forte e saudável,pois elas não só nos mostram como a cultura conquistadora solapa a sabedoria anterior e revelamcomo uma mulher subjugada ou com seus instintos feridos era forçada a se considerar naquela época eaté hoje em dia, como também nos dizem de que modo ela poderia se curar.Um conjunto de imposições destrutivas aplicadas às mulheres (ou aos homens) deixa atrás desi uma espécie de radiografia arquetípica do que está sendo deformado no desenvolvimento da mulherquando ela é criada numa cultura que não considera o feminino aceitável. Portanto, não precisamostentar adivinhar. Está tudo registrado nas camadas sobrepostas aos mitos e aos contos de fadas.11 Muitos símbolos têm atribuições tanto masculinas quanto femininas. Em geral, éimportante que as pessoas decidam por si mesmas quais irão usar como lupa para melhor examinar asquestões da alma e da psique. Faz pouco sentido debater, como alguns poderiam estar acostumados afazer, se o símbolo de alguma coisa é masculino ou feminino, pois no final das contas essessinalizadores parecem ser apenas modos criativos de examinar uma questão, e o próprio símbolo narealidade inclui outras forças que, em virtude do ponto de vista arquimediano, não podemosvislumbrar. O uso da atribuição masculina ou feminina continua sendo importante, pois cada umfunciona como uma lente diferente através da qual se pode aprender muito. É por isso que observamos370os símbolos para começar, para ver o que podemos aprender, como pode ser aplicado e,especialmente, que tipo de feridas ele poderia aliviar.1 2 Jennette Jones e Mary Ann Mattoon, "Is The Animus Obsolete?" da antologia The GoddessReawakening, organização de Shirley Nichols (Wheaton, Illinois: Quest Books, 1989). O capítulodetalha o pensamento corrente a respeito do animus por vários analistas/autores até 1987.1 3 É comum entre as grandes deusas o fato de ter um filho do seu próprio corpo. Mais tarde, ofilho torna-se seu amante/consorte/marido. Embora haja quem leve esse fato ao pé da letra,considerando tratar-se de uma descrição de incesto, ele não deve ser interpretado dessa forma mas,sim, como um meio de descrever como a alma dá à luz um potencial masculino que, à medida que sedesenvolve, passa a ser uma espécie de sabedoria e força e a combinar com seus outros poderes demuitas maneiras.14 E às vezes também o impulso daquele braço.15 Em essência, se nos isolarmos da idéia da natureza masculina, corremos o risco de perderuma das mais fortes polaridades para se pensar e compreender o mistério das naturezas duais dosseres humanos em todos os níveis. No entanto, se uma mulher engasga com a simples idéia de que omasculino faz parte do feminino, sugiro que ela chame essa natureza intermediária do nome quequiser, para que não deixe de imaginar e compreender como as polaridades funcionam juntas.16 Oxford English Dictionary.17 Eu descreveria essa natureza como natureza masculina poderosa e empreendedora, que emmuitas culturas é arrasada nos homens reais por trabalhos sem sentido e que não acrescentam valor àalma. Pode ocorrer também de uma cultura atrair os homens para o trabalho escravo, mantendo-os aliaté que pouco reste deles.18 . A partir das minhas pesquisas, há também alguns indícios de que a história seja umavariante de antigos contos do solstício que tratam do ano velho/ano novo, nos quais o que está exaustomorre para renascer novamente numa forma vibrante.19 Essa versão foi recebida com amor de Kata, que sobreviveu a um campo de trabalhosforçados na Rússia durante quatro anos na década de 1940.20 A transformação pelo fogo, sobre o fogo ou dentro dele é um tema universal. Um episódiorelacionado aos Três cabelos de ouro encontra-se na mitologia grega, quando Deméter, a GrandeDeusa Mãe, segura um bebê mortal dentro do fogo todas as noites para torná-lo imortal. Sua mãe,Metaneira, dá um grito quando se depara com isso, interrompendo com o grito a prática. Deméter nãodemonstra emoção ao abandonar o processo pelo fogo... "Pior para ele", diz ela a Metaneira. "Agoraserá apenas um mortal."CAPÍTULO 11O cio: A recuperação de uma sexualidade sagrada1 As coisas que estimulam a felicidade e o prazer sempre são também "portas dos fundos"pelas quais podemos ser exploradas ou manipuladas.2 . Os contos do Tio Tüong-pa ou Trungpa são histórias apimentadas de trapaceiros comsuposta origem no Tibete. Existem contos semelhantes entre todos os povos.3 Çatal Hüyük tem um ícone "do meio das pernas" bem alto numa parede. A imagem é a deuma mulher com as pernas bem abertas, com sua "boca inferior" à mostra, possivelmente comooráculo. A simples idéia de uma figura dessas faz com que muitas mulheres dêem risinhos decumplicidade.4 Charles Boer, The Homeric Hymns (Dallas: Spring Publications, 1987). Essa é uma traduçãode real talento.5 As histórias dos coiotes são por tradição contadas no inverno.CAPÍTULO 12A demarcação do território: Os limites da raiva e do perdão3711 Seja na família, seja no meio cultural mais próximo.2 Danos infantis ao instinto, ao ego e ao espírito derivam de a criança ser rejeitada comaspereza, de não se prestar atenção nela, de não contemplá-la, se não com insight, ao menos com umnível razoável de serenidade. Em muitas mulheres ocorrem grandes danos frente à possibilidade de teruma expectativa razoável de que as promessas serão cumpridas, de que a pessoa será tratada comdignidade, de que ela terá alimento quando sentir fome, de que terá liberdade para falar, pensar, sentire criar.3 Sob certos aspectos, as velhas emoções são mais como um conjunto de cordas de pianodentro da psique. Um estrondo na superfície pode provocar uma forte vibração dessas cordas namente. Pode-se fazer com que elas emitam sons sem que as toquemos. Acontecimentos queapresentam um tom, palavras, características visuais semelhantes aos do episódio original fazem apessoa "lutar" para impedir que as velhas emoções venham à tona.Na psicologia junguiana, essa explosão de forte caráter emocional é chamada de constelaçãode um complexo. Diferentemente de Freud, que classificou essa conduta de neurótica, Jungconsiderou-a na realidade uma reação coerente, semelhante à reação de animais que foram acuados,torturados, assustados ou feridos anteriormente. O animal costuma reagir a cheiros, movimentos,instrumentos e sons que se assemelhem àqueles do dano original. Os seres humanos seguem o mesmomodelo de reconhecimento e reação.Muitas pessoas controlam o material de antigos complexos afastando-se de pessoas ouacontecimentos que os despertem. Às vezes é uma atitude racional e útil, às vezes não. Desse modo,um homem pode evitar todas as mulheres que tenham cabelos ruivos como os do pai que o espancava.Uma mulher pode desviar-se de toda discussão acalorada porque isso mexe muito com ela. Noentanto, procuramos reforçar nossa capacidade de permanecer em todos os tipos de situaçãoindependente dos complexos porque esse poder de resistência nos dá uma voz no mundo. E ele quenos permite mudar as coisas à nossa volta. Se somente reagirmos aos nossos complexos, iremos nosesconder num buraco pelo resto da nossa vida. Se pudermos obter deles alguma tolerância, utilizá-loscomo nossos aliados, canalizando, por exemplo, a raiva antiga para dar agressividade às nossasafirmações, então seremos capazes de formar e de reformar muitas coisas.4 Existem de fato distúrbios cerebrais nos quais a fúria descontrolada é uma característicaproeminente, e tais distúrbios devem ser tratados com medicação, não com psicoterapia. Aqui, porém,estamos falando de raiva induzida pela lembrança de algum tipo de tortura psicológica passada. Eupoderia acrescentar que nas famílias em que haja uma criança "mais sensível", os outros filhos podemnão se sentir torturados, mesmo que tenham sido tratados da mesma forma.Os filhos têm necessidades diferentes, diferentes "espessuras de pele, capacidades diferentespara perceber a dor". Aquele que tiver o menor número de "receptores", por assim dizer, sentiráconscientemente um menor efeito da violência. A criança com o máximo de sensores iráconscientemente sentir tudo e talvez chegue a sentir com intensidade os males feitos aos outrostambém. Não se trata de uma questão de verdade ou falta de verdade; trata-se de ter a capacidade parareceber as transmissões que cercam a pessoa.Nesse tema da criação dos filhos, é um conselho muito bom a velha máxima de que cadacriança deveria ser criada, não "pelo livro", mas de acordo com o que se aprende com a observação dotalento, da personalidade e das suscetibilidades dessa criança. No mundo da natureza, muito emboraos dois sejam lindos, um esguio filodendro pode sobreviver sem água por um tempo aparentementeinterminável, mas um salgueiro que é muito maior e mais robusto não consegue o mesmo. Existe essavariação natural também nos seres humanos.Acrescente-se também que, quando um adulto sente ou exprime sua raiva, não se deveriainterpretar erradamente que esse é um sinal inequívoco de assuntos mal resolvidos na sua infância. Hámuita necessidade e ocasião para a raiva clara e legítima, especialmente quando apelos anteriores pelaconsciência foram feitos em tons desde suaves até moderados sem que fossem ouvidos. A raiva é opróximo passo na hierarquia de chamar a atenção.No entanto, os complexos negativos podem transformar uma raiva normal numa fúriaespumante e destrutiva. O catalisador é quase sempre ínfimo, mas a reação por ele produzida dá aimpressão de ele ser de enorme importância. Sob muitos aspectos, as dissonâncias da infância, asviolências sofridas nessa época podem influenciar de modo positivo as causas que abraçamos na idadeadulta. Muitos líderes de grandes "famílias" ou tribos políticas, acadêmicas ou de outras naturezasexercem essa liderança num estilo que é muito melhor e mais benéfico do que aquele no qual elesmesmos foram criados.5 De narradores de tradição japonesa, ouvi uma variação na qual o urso é estrangulado poruma força do mal de tal modo que nenhuma vida nova possa prevalecer entre as pessoas que372idolatravam o animal. O corpo do urso é enterrado em meio a muita dor e luto. No entanto, aslágrimas de uma mulher caem sobre a cova trazendo o urso de volta à vida.6 A liberação da velha raiva calcificada, pedacinho a pedacinho ou camada a camada, é umaempreitada essencial para as mulheres. É melhor tentar levar essa bomba para um campo aberto a fimde detoná-la sem que atinja pessoas inocentes. Vale a pena tentar acioná-la de um modo que seja útil eque não prejudique ninguém. Muitas vezes, a insistência em ouvir ou ver uma pessoa ou projeto éfonte de irritação ainda maior. É bom que nos afastemos do estímulo, qualquer que ele seja. Existemmuitos meios de se fazer isso — mudar de recinto, mudar o local de encontro, mudar de assunto,mudar de paisagem. Isso é de enorme ajuda.A velha recomendação no sentido de contar devagar até dez tem poderosas razões que aembasam. Se tivermos condição de interromper, mesmo que temporariamente, o fluxo de adrenalina ede outras substâncias químicas de "agressividade" que são derramadas no nosso sistema durante odespertar da raiva, podemos deter o processo em que somos forçadas a voltar aos sentimentos ereações vinculados a traumas sofridos anteriormente. Se não criarmos essa trégua, as substânciasquímicas continuarão a se espalhar por um período mais longo, levando-nos literalmente acomportamentos cada vez mais hostis, quer nossa motivação seja sincera, quer não.7 Existe uma versão dessa antiga história que é contada pelo grande narrador sufi Indries Shahem Wisdom of the Idiots (Londres: Octagon Press, 1970).8 A decisão de agir assim depende de diversos fatores, estando entre eles a conscientização dapessoa ou do aspecto que provocou o dano, da sua capacidade de causar danos ainda maiores e dassuas intenções futuras, bem como do equilíbrio de forças — se as duas estão em pé de igualdade ou sehá uma distribuição desigual das forças — tudo isso precisa ser avaliado.9 Descanso é um termo usado também para designar o local de descanso, como um cemitério.10 Quando houve incesto, abuso sexual ou alguma outra violência profunda, podem sernecessários muitos anos para que se complete o ciclo através do perdão. Em alguns casos, por algumtempo, pode-se derivar mais força da recusa ao perdão, e isso também é aceitável. O que não éaceitável é uma raiva obsessiva do acontecido que dura pelo resto da vida. Esse excesso de irritação émuito prejudicial para a alma e a psique, assim como para o corpo físico. Por isso, ela precisa passarpor uma purificação. Há muitas abordagens diferentes para tal. Deve-se consultar um terapeuta queseja uma pessoa forte e especializada nessas questões. A pergunta a fazer quando se encontra esse tipode profissional é qual é sua experiência com trabalho para reduzir a raiva e fortalecer o espírito.11 . Forego, do Oxford English Dictionary: do inglês antigo for gán ou forgáen, passar poralgo, ir embora.1 2 Forebear, do Oxford English Dictionary: do alto alemão médio verbern, suportar, terpaciência.1 3 Forget, do Oxford English Dictionary: do teutônico antigo getan, segurar ou apreender;com o prefixo for, significa não segurar ou não apreender.14 Forgive, do Oxford English Dictionary: do inglês antigo, forziefan, dar ou ceder, desistir,deixar de guardar ressentimento.15 Uma definição algo diferente desse tipo de perdão é encontrada no Oxford EnglishDictionary: 1865 J. Grote, Moral Ideas, viii (1876), 114 "Active forgiveness — the returning of good forevil".16 Não são só as pessoas que têm ritmos diferentes para perdoar; também o tipo de ofensaafeia o tempo necessário para o perdão. Perdoar um mal-entendido é diferente de perdoar um assassi-nato, um incesto, uma violência, um tratamento injusto, uma traição, um roubo. Dependendo da suanatureza, maus-tratos isolados podem às vezes ser perdoados com maior facilidade do que maus-tratos repetidos.17 Como também o corpo tem memória, ele também deve receber atenção. A ideia é não tentarcorrer mais do que a raiva, mas esgotá-la, decompô-la e reelaborar a libido que é, assim, liberada deum modo totalmente diferente do que antes. Esse alívio físico precisa ser acompanhado decompreensão psíquica.CAPÍTULO 13Marcas de combate: A participação no clã das cicatrizes1 Concordo com Jung que afirmava que, quando alguém cometeu uma injustiça, não poderácurar-se dela a não ser que diga a verdade absoluta a esse respeito, encarando-a de frente.2 Li pela primeira vez acerca dessa estruturação do texto comum baseada na falha trágica naobra de Eric Berne e de Claude Steiner.3733 O WAE, ou seja, Jung's Word Association Experiment (Ex perimento Junguiano deAssociação de Palavras) também concluiu ser esse fato verdadeiro.4 Por vezes, fotografias e histórias de pais, irmãos, maridos, tios e avós saem acompanhando(e às vezes as dos filhos e das filhas também), mas o trabalho principal é com as linhagensantepassadas do sexo feminino.5 Ela sofre sozinha como bode expiatório, como devoradora de pecados, sem ter o poder e asvantagens de nenhum dos dois, ou seja, a gratidão, a honra e a renovação por parte da comunidade.6 Mary Culhane and The Dead Man: essa é uma das histórias do repertório de TheFblktellers®, duas mulheres imensamente talentosas e picarescas da Carolina do Norte chamadasBarbara Freeman e Connie Regan-Blake.7 Paul C. Rosenblatt, Ph.D., Bitter, Bitter Tears: Nineteenth-Century Diarists and Twentieth-Century Grief Theories. (Mineápo-lis: University of Minnesota Press, 1983). Judith Savage me fez essaindicação.CAPÍTULO 14La Selva Subterrânea:A iniciação na floresta subterrânea1 A idéia de Jung da mística da participação estava baseada em opiniões antropológicas dofinal do século XIX e início do século XX, período no qual muitos dos que estudavam as tribos sesentiam totalmente separados delas, em vez de compreender o comportamento das tribos comoinserido numa continuidade humana que poderia ocorrer em qualquer lugar e com qualquer um.2 Esse argumento não pretende de forma alguma defender a idéia de que o mal perpetradocontra um indivíduo seja aceitável por acabar fortalecendo a vítima.3 Para mais informações acerca de traumas concretos causados pelo pai, veja Ellen Bass eLouise Thomton com Jude Brister, organizadoras, INever ToldAnyone: Writings by WomenSurvivors of ChilaAbuse (Nova Y ork: Harper & Row, 1983). Ver também Barry Cohen; Esther Giller;W. Lynn, organizadores. Múltiplo Personality Disorder from the Inside Out (Baltimore: Sidran Press,1991). Ver também Linda Leonard, The Wounded Woman (Boulder, Colorado: Shambhala, 1983).4 A maior parte dos casos de perda abrupta da inocência parece vir do mundo fora da família.Trata-se de um processo gradual pelo qual quase todo mundo passa e que culmina num dolorosodespertar para a idéia de que nem tudo é seguro ou belo no mundo. A inocência não se destina a serceifada ao acaso por pai ou mãe. Ela chega na sua própria hora. Espera-se que os pais estejam dispo-níveis para orientar e ajudar se possível, mas principalmente para recolher os pedaços e pôr sua filhade pé de novo.5 O símbolo do moleiro aparece nos contos tanto sob uma ótica positiva quanto sob umanegativa. Às vezes ele é sovina, outras vezes generoso, como nas histórias em que o moleiro deixa grãospara os elfos6 Despertar aos poucos — ou seja, derrubar nossas defesas lentamente ao longo de umdeterminado período — é menos doloroso do que ver nossa fortaleza penetrada de uma vez. Noentanto, com intuito reparador ou terapêutico, embora o que acontece mais rápido doa mais aprincípio, o trabalho pode começar e dar frutos mais de imediato. Mesmo assim, cada um a seu tempoe a seu próprio modo.7 Em outros contos, os três representam a culminação de uma luta intensa, e os três podem serinterpretados como o próprio sacrifício que culmina numa nova vida.8 . Lao-Tsé, antigo poeta e filósofo. Veja Tão Te Ching (Londres:The Buddhist Society, 1948). A obra foi publicada em muitas traduções por muitas editoras.9 Essas podem ser diferentes para pessoas diferentes. Algumas têm uma aparência muitoativa, como a dança; outras são muito ati-vas em outros termos, como por exemplo a dança da oração,a dança do intelecto, a dança do poema.10 C. P. Estes, Warming the Stone Child: Myths and Stories of the Abandoned andUnmothered Child, gravação. (Boulder, Colorado: Sounds True, 1989).11 É digno de nota que as mulheres e os homens em séria transição psíquica com freqüênciasentem menor interesse pelas coisas do mundo objetivo por estarem sonhando, pensando eorganizando num nível tão profundo que os apetrechos do mundo objetivo simplesmentedesmoronaram. Aparentemente a alma não está muito interessada em penteados ou outras questõessemelhantes a não ser que elas tragam alguma força espiritual.374No entanto, isso deve ser considerado diferente de uma síndrome prodrômica na qual oscuidados pessoais diários reduzem-se a zero e ocorre uma perturbação óbvia e séria no funcionamentomental.1 2 É muito estranho para num que a Ku Klux Klan, na tentativa de depreciar, chame aspessoas não-brancas de "gente de lama". O antigo emprego do termo "l ama" é altamente positivoprovavelmente sendo, na realidade, a expressão exata para representar a natureza instintivaprofundamente sábia e poderosa. Foi a partir da lama (e de outras substâncias terrosas) que os sereshumanos e o mundo foram criados de acordo com a maioria das histórias da criação.1 3 O machado e os lábios abertos da vulva têm todos uma forma semelhante.14 Quanto ao duplo machado da deusa, trata-se de um símbolo antigo, também utilizadoatualmente por vários grupos de mulheres como símbolo da volta ao poder da feminilidade. Alémdisso, entre os membros do meu grupo de treinamento e pesquisa, Las Mujeres, há muita especulaçãode todas as fontes acerca de as asas de borboletas dos lábios da vulva e o machado de dois gumesserem símbolos semelhantes provenientes de tempos antigos nos quais a forma da borboleta de asasabertas era considerada a forma da alma.15 O que é místico é o conhecimento do rotineiro a partir das duas perspectivas. O misticismopragmático procura toda verdade, não apenas uma, e depois avalia a posição a tomar e o modo de agir.16 Há um sentido nos contos antigos de que esse é também um estado de conhecimento esentimento transmitido de todos os pais aos filhos independente do sexo.17 Como vimos, as lágrimas têm várias finalidades. Elas servem tanto para a proteção quantopara a criação.18 A cultura das mulheres foi de fato soterrada, e nós temos apenas vestígios do que seencontra ali embaixo. As mulheres precisam ter o direito de pesquisar sem ser interrompidas antesmesmo de estabelecer o local da escavação. A idéia é levar uma vida plena, de acordo com nossospróprios mitos instintivos.19 Há um imenso poder nos números. Muitos estudiosos, desde Pitágoras até os cabalistas,procuraram compreender o mistério da matemática. As pêras numeradas provavelmente tragam umsignificado do misticismo e talvez também da escala tonal.20 Sob muitos aspectos, a donzela sem mãos, a moça dos cabelos de ouro e a menina dosfósforos enfrentam, todas, situações idênticas e de certo modo típicas do proscrito. A história dadonzela sem mãos é de longe a que abrange o ciclo psicológico mais completo.21 Você pode se perguntar quantos selfs há na psique. Há muitos, com um deles geralmentesendo extremamente dominante. Você se lembra da imagem acerca dos pueblos no Novo México? Elessempre têm três partes: a parte antiga, desmoronada, a parte onde as pessoas moram e a parte aindaem construção. É assim que funciona. (Do mesmo modo, na teoria junguiana, o Self com letramaiúscula significa a ampla força da alma. O self com letra minúscula representa a pessoa maisdelimitável, mais personalizada, que nós somos.)22 Alguns dos registros "escritos" mais extensos dos ritos antigos são os dos gregos antigos.Embora a maioria das culturas antigas tivesse registros de uma natureza qualquer, as conquistasdestruíram a maior parte deles se não sua totalidade. (Para subverter uma cultura, é necessárioeliminar a classe sagrada: os artistas, os escritores e todas as suas obras, os sacerdotes e sacerdotisas,os oradores, os contadores de histórias, os cantores, os dançarinos... todos os que tiverem a capacidadede comover as almas e os espíritos das pessoas). No entanto, os esqueletos de muitas culturas destruí-das ainda persistem na arca da história pelos séculos afora chegando até os nossos próprios tempos.23 Isabel está velha e grávida de João. Essa é uma passagem intensamente mística na qual seumarido é emudecido e tudo o mais.24 Esses estágios são às vezes atingidos de acordo não tanto com a idade cronológica quantocom as necessidades da psique e do espírito.25 Robert L. Moore e Douglas Gillette, King, Warrior, Magician, Lover (San Francisco:Harper, 1990).26 Os símbolos do jardineiro, do rei, do mago, entre outros, pertencem a todos. Eles não sãoespecíficos de um dos sexos, mas são às vezes interpretados e aplicados de modo diferente por um sexoou pelo outro.27 A primeira pessoa de quem ouvi a expressão "criação da alma" foi James Hillman, elepróprio como um dispositivo incendiário disparador de idéias.28 . A velha das deusas tríplices dos gregos.29 Na Teogonia de Hesíodo (411-52), diz-se que Perséfone e a velha Hécate preferem acompanhia uma da outra acima de tudo.37530 Jean Shinoda Bolen, em sua lúcida obra sobre a menopausa, observa que a mulher maisvelha prende a energia do sangue menstrual dentro do próprio corpo e gera sabedoria interna em vezde filhos externos. Veja sua gravação, The Wise Woman Archetype: Menopause as Initiation.(Boulder, Colorado: Sounds True, 1991).31 Ele foi um chefe da Inquisição na Espanha, um homem de uma crueldade patológica sempar, o assassino em série autorizado pelo seu tempo.32 Do: Eclo xvii, 5 (scrb/clas lit).33 Por exemplo, alguns homens de hoje perderam o sentido do fluxo e refluxo dos ciclossexuais, como seria natural. Alguns não sentem nada; outros ficam presos à hipersexualidade.34 Em algumas versões dessa história, o véu é chamado de lenço, e não é o pneuma, arespiração, que afasta o véu, mas, sim, o menino que brinca de tirar o véu do rosto do pai e de alicolocá-lo de volta.PÓSFACIO1 As seguintes obras gravadas de Clarissa Pinkola Estes, Ph.D., podem ser obtidas através deSounds True Catalog, 735 Wainut Street, Boulder, Colorado 80302 (1 -800-333-9185) The JungianStorytellèr Series: The Wild Woman Archetype: Myths and Stories About the Instinctive Nature ofWomen; Warming the Stone Child: Myths and Stories About Abandonment and the UnmotheredChild; The Ra-diant Coat: Myths and Stories on the Crossing Between Life and Death; In theHo useoftheRiddIeMother: Common Archetypal Mo-tifs in Women's Dreams; The Boy Who Married anEagie: Myths and Stories About Mate Individuatíon; The Creative Pire: Myths and Stories About theCycles of Creativity.2 Existem muitos pontos de vista acerca de como, quando, onde e a quem contar histórias;acerca do intercâmbio, da descoberta e do desenvolvimento das nossas próprias histórias; acerca dosque se apropriam delas, e assim por diante. Em geral, creio ser de extrema coerência psicológica queum contador se mantenha fiel à sua própria alma quanto à escolha de quem irá receber as histórias ede que modo, pois ele próprio é o instrumento e, portanto, o ser que merece a proteção maisponderada. Para várias tentativas de examinar todas essas questões, veja "Ethics and Storyteiling:Transcript from First Annual Congress on Storyteiling", The National Storyteiling Journal (outono de1987); "Ethics and the Professional Storytellèr" de Amy Shuman, The National Storyteiling Journal(verão, 1986);"A Response to the Ethics Question" de Findiey Stewart, The National Storyteiling Journal(verão de 1987).A EDUCAÇÃO DE UMA JOVEM LOBA: UMA BIBLIOGRAFIA1Esta bibliografia foi elaborada como uma visão panorâmica do desenvolvimento da naturezainstintual. Uso variantes desta bibliografia central para outras questões relacionadas às mulheres.Alguns dos materiais aqui incluídos aparecem repetidamente nas bibliografias de outras obras,geralmente de obras escritas por mulheres sobre questões de mulheres. Essas obras frequentementecitadas tornaram-se uma espécie de "bibliomantra", e em geral representam escolhas feitas pormulheres já falecidas, mas cujas obras sobrevivem mesmo assim.2 Embora eu não seja contrária a levar em consideração as observações ou teorias de qualquer dossexos, ou de qualquer escola, não vale a pena perder muito tempo lendo algumas obras, pois elas sãopré-digeridas. Isso significa que delas foi tirado o âmago, restando apenas a casca, o que lembrabastante um carrossel sem os cavalos, sem a música, sem a cerca, sem os cavaleiros. Ele ainda gira semparar, mas não tem vida.Já os trabalhos resumidos são uma outra história. Eles representam uma repetição de algo que seouviu, que se leu ou que se soube, mas sem as perguntas: Isso é verdade? Será que é útil? Será queainda se aplica? Será que esse é o único ponto de vista? Existe uma quantidade imensa de obras dessanatureza. Elas me lembram a transmissão por herança da velha mina de prata da família. Algumasminas estão esgotadas e não vale a pena mante-las. Algumas são minas mortas pois nunca produziramminério em quantidade suficiente para justificar sua exploração para começo de conversa. Parte doresgate da natureza selvagem, como vimos, consiste em reconstituir nossa capacidade discriminativa.Isso deve se aplicar não só ao que já está nas nossas mentes, mas também ao que nelas introduzimos.3763 Geralmente procedo da seguinte forma. Peço aos alunos que escolham três livros dessa lista e que osconsiderem como um quebra-cabeças ou um enigma. Em seguida, a qualquer livro escolhidoacrescento textos de Kant, Kierkegaard, Mencken, entre outros. Como os textos se harmonizam? Emque um pode servir ao outro? Comparem, vejam o que acontece. Algumas combinações são explosivas.Algumas criam rizomas.
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Mulheres que Correm com os Lobos
Non-FictionMulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem é um livro da analista junguiana, autora e poetisa Clarissa Pinkola Estés VOU DEIXAR ELE COMPLETO ATÉ O FINAL DO MÊS;