O patinho feio: a descoberta daquilo a que pertencemos
Às vezes a vida dá errado para a Mulher Selvagem desde o início. Muitas
mulheres tiveram pais que as observavam enquanto eram crianças e se perguntavam
perplexos como esse pequeno alienígena havia conseguido se infiltrar na família.
Outros pais estavam sempre olhando para os céus, ignorando a criança, tratando-a
mal ou dando-lhe aquele olhar enregelante.
Anime-se a mulher que passou por isso. Você já se vingou por ter sido
"impossível" de criar e uma eterna pedra no sapato deles, embora não por culpa sua.
Talvez até mesmo hoje você seja capaz de lhes inspirar um medo abjeto quando
aparece à sua porta. Até que não está mal em termos de vingança inocente.
Certifíque-se agora de perder menos tempo com aquilo que eles não lhe deram
e de dedicar mais tempo à procura das pessoas com quem você se sinta bem. Pode ser
que você não pertença absolutamente à sua família original. Você talvez combine com
eles em termos genéticos, mas quanto ao temperamento você pode pertencer a um
outro grupo. Ou quem sabe você não pertença à sua família apenas superficialmente
enquanto sua alma escapa, corre pela estrada afora e satisfaz sua gula mordiscando
petiscos espirituais em outras plagas?
Hans Christian Andersen1
escreveu dezenas de histórias sobre o arquétipo do
órfão. Ele foi um importante defensor da criança perdida e negligenciada, e dava
imenso apoio à idéia da procura e descoberta do nosso próprio grupo.
Sua história "O patinho feio", publicada pela primeira vez em 1845, trata do
arquétipo do ser incomum e desvalido, uma história perfeita e similar à da Mulher
Selvagem. Durante os dois últimos séculos, "O patinho feio" foi uma das poucas
histórias a incentivar sucessivas gerações de "gente diferente" a agüentar até
encontrar sua turma.
Trata-se de uma história básica em termos psicológicos e espirituais. Uma
história básica é aquela que contém uma verdade tão fundamental para o
desenvolvimento humano que, sem a incorporação desse fato, o avanço se torna
duvidoso e ninguém consegue prosperar sob o aspecto psicológico enquanto não
perceber essa verdade. Segue-se, portanto, uma tradução de "O patinho feio", como
me foi contada originalmente no idioma magiar por falusias mesélök, narradores
rústicos.2
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O patinho feio
Já estava quase na época da colheita. As velhas faziam bonecas verdes com a
palha do milho. Os velhos remendavam cobertores. As moças bordavam flores de um
vermelho vivo nos seus vestidos brancos. Os rapazes cantavam enquanto empilhavam
o feno dourado. As mulheres tricotavam blusões ásperos para o inverno que viria. Os
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Mulheres que Correm com os Lobos
Non-FictionMulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem é um livro da analista junguiana, autora e poetisa Clarissa Pinkola Estés VOU DEIXAR ELE COMPLETO ATÉ O FINAL DO MÊS;