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S T A S S I E

Não tinha ideia de quantos dias eu estava nessa casa, ousava chutar mais de quinze dias por conta do relógio branco na parede do quarto, nem grande e nem pequeno, mas no tamanho perfeito para ser notado. O objeto contava cada segundo do dia, fazendo um barulho irritante que entrava no fundo do meu cérebro, até quando eu estava desacordada, me lembrando que o tempo estava passando.

Ficava a maior parte do tempo no quarto mesmo que com ele me dando liberdade para circular na casa. Ficava na varanda, sentada na cadeira de balanço e observava o dia passar diante dos meus olhos com um amargor na alma e um vazio no coração. Não me sentia viva e nem inteira, desde o momento em que ele voltou a me tocar.

Com o passar dos dias não conseguia mais distinguir o que minha cabeça inventava e o que era real. Delirava diariamente com os medicamentos que me forçavam a tomar, não sabia o que eram e para que serviam, mas me faziam passar horas em profundo sono, no qual eu arriscava dizer que podiam ser piores que a realidade.

O homem tinha um jeito estranho de tentar me manter na linha e me humilhar. Toda manhã eu era acordada pela mulher que deduzi ser a governanta da casa. Eu tinha que estar pronta às oito da manhã, com a roupa escolhida por ele, normalmente roupas que deixavam a mostra os machucados feito por Samuel, como se eu fosse um troféu. Descia para me juntar a ele na mesa para o café da manhã, que mais parecia um banquete com os mais vários pratos, sucos, chás e frutas. Mas o homem me fazia ficar em sua frente, em pé, enquanto o observava comer e saborear pedaço por pedaço. Eu não podia sentar ou fazer qualquer movimento sem sua permissão e muito menos ousar comer algo. Ele me olhava e analisava os machucados no meu corpo, as vezes ria e fazia comentários. Conseguia ver em seus olhos ele dizendo "eu venci", com um sorriso ladino no rosto e os olhos semi errados.

Ele me observava chorar em silêncio e na maioria das vezes levantava para limpar minhas lágrimas, sussurrando para que eu não chorasse, assim não estragaria o "nosso" perfeito café da manhã. Me tratava como uma boneca de porcelana, a qual ele quebrava e colava pedaço por pedaço após me usar. Sentia raiva estar naquela posição de submissa, muitas vezes começava a chorar sem perceber, me sentia impotente e derrotada. Não tinha forças dentro de mim para lutar e as vezes pensava que não queria lutar, assim talvez ele me matasse mais rápido e eu não passaria o resto da vida em dor.

Samuel fazia questão de vir todos os dias ao "meu" quarto, ouvia seus passos pesados de longe andando por essa casa, o homem parecia sempre bravo, irritado e prestes a surtar. Tentava fingir que estava dormindo para evitar que ele me tocasse, mas Samuel não ligava para isso.

A primeira vez que ele me forçou a transar com ele, foi como se eu estivesse voltado a Springdale, como se nada tivesse mudado e nenhum dia se passado. Wilk estava mais agressivo e possessivo, agia feito louco sussurrando que eu era dele e ninguém me tiraria de seus braços. Implorei e rezei, pedindo para que ele não fizesse aquilo. Me debati em seus braços tentando convencê-lo de que aquilo era errado, chorando falei para ele que se quisesse me ter, pelo menos teria que fazer do jeito certo e não me forçando.

Samuel ria todas as vezes que me ouvia pedir por favor, se divertia em me ver contorcer de dor em baixo dele, assistir ao meu sofrimento parecia despertar algo nele, seu sorriso se alargava e seu humor mudava.

Não conseguia mais me olhar no espelho, me ver através daquele pedaço de vidro fazia com que minhas piores lembranças viessem a tona. Ver os hematomas em meu corpo me lembrava de como fui violada e machucada. Mas era isso que Wilk almejava, queria que eu lembrasse que estava no controle e que eu não passava um fantoche.

— Bom dia, querida! - A mulher de cabelos brancos abriu a porta do quarto.

Suspirei virando de barriga para cima na cama e ignorando sua presença. A mulher cujo nome descobri ser Amélia tinha um sorriso acolhedor nos lábios, que realçavam as rugas perto dos seus olhos, mas não deixavam de evidenciar sua beleza.

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora