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S T A S S I E

Kylie e eu estávamos refugiadas no luxuoso hotel, a tempestade repentina que assolou Veneza nos prendendo lá dentro e desfazendo nossos planos meticulosamente elaborados. Mas o hotel, com sua cobertura imponente que lembrava um castelo e a vista espetacular da cidade, era um refúgio e tanto.

Em busca de um respiro e um pouco de exploração, descemos para o famoso restaurante do hotel. Sentadas a uma mesa privilegiada junto à janela, observávamos a chuva torrencial cair sobre a cidade, transformando Veneza em um quadro vivo e melancólico.

— Mesmo com a tempestade lá fora, a vista aqui dentro é de tirar o fôlego. — Comentei, traçando círculos nervosos na mesa com as pontas dos dedos.

— Ah, é? — Kylie arqueou uma sobrancelha, o canto dos lábios curvando-se num sorriso divertido.

— E o que tem de tão especial aqui dentro, Stass?

— Você. — Minha voz saiu num sussurro, o calor subindo pelas minhas bochechas. — É você, amor. Não consigo tirar os olhos de você.

Ela se inclinou sobre a mesa, o olhar fixo no meu.

— É mesmo? — Sua voz era um murmúrio rouco, enviando arrepios pela minha espinha. — E o que te faz dizer isso?

— Tudo em você. Seus olhos... — Engoli em seco, o coração martelando no peito. — Toda vez que olho para eles, minhas pupilas dilatam, como se quisessem te absorver por completo.

Ela soltou uma risada suave, estendendo a mão para acariciar meu rosto.

— Stass... — Seu toque era eletrizante, me fazendo prender a respiração. — Você me faz tão feliz.

— Você também me faz feliz, Kylie. — Minha voz falhou, as palavras parecendo pequenas demais para expressar a intensidade dos meus sentimentos.

Ela se aproximou ainda mais, seus lábios roçando nos meus num beijo suave.

— Eu te amo, Stass.

— Eu também te amo, Kylies. — Deixem as palavras deslizarem por meus lábios.

O tilintar suave da louça quebrou o feitiço do momento. A garçonete, com seus cabelos cor de fogo, pousou nossos pratos na mesa, um sorriso caloroso iluminando seu rosto.

— Aqui está, querida! — Sua voz era mel, mas a palavra "querida" atingiu-me como um dardo envenenado.

O mundo pareceu inclinar-se. O sorriso de Kylie congelou, seus olhos castanhos me olhando com preocupação. Meus dedos se crisparam em torno do guardanapo, o tecido áspero contra a pele úmida.

O restaurante, antes. aconchegante, transformou-se numa arena sufocante. Senti todos os olhares sobre mim, curiosos, julgadores.

Um gosto metálico invadiu minha boca. O sangue da minha mordida no lábio era um lembrete amargo da minha fragilidade. Tentei respirar fundo, mas o ar parecia rarefeito. O peso daquela palavra, "querida", me esmagava.

O calor reconfortante da mão de Kylie em meu rosto me trouxe de volta ao presente. Seus olhos, antes cheios de amor,agora refletiam uma preocupação profunda.

— Stassie? — Sua voz era um sussurro suave, mas carregado de ansiedade. — O que foi? Você está pálida.

Tentei responder, mas as palavras se perderam em minha garganta. A imagem de Amélia, seu rosto contorcido em fúria,invadiu minha mente.

"Diga algo!" Sua voz ecoava em meus ouvidos, me acusando, me julgando.

Senti o pânico crescendo dentro de mim. O restaurante desapareceu, substituído pela sala de estar da casa de Samuel.

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora