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S T A S S I E

Abri meus olhos com um pouco de dificuldade, sentindo meu corpo todo doer. Cada músculo parecia protestar, me fazendo soltar um grunhido baixo. Olhei para baixo, vendo Kylie aninhada contra mim, seu rosto sereno e relaxado. Seus braços estavam envoltos em minha cintura, seu corpo macio pressionado contra o meu. Apesar da dor, um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Ela estava tão linda assim.

Seus cabelos escuros estavam espalhados pelo travesseiro, alguns fios caindo sobre seu rosto. Seus lábios estavam levemente entreabertos, e sua respiração era lenta e regular. Seus cílios longos descansavam em suas bochechas, projetando sombras suaves em sua pele clara. Seus seios subiam e desciam em um ritmo tranquilo, acompanhando o compasso de sua respiração.

Eu podia sentir o calor de seu corpo irradiando para o meu, um calor reconfortante que me fazia querer ficar ali para sempre. Meus dedos traçaram levemente as curvas de suas costas, sentindo a maciez de sua pele sob minhas mãos. Ela se mexeu em seu sono, aninhando-se ainda mais em mim. Um suspiro suave escapou de seus lábios, e ela murmurou algo ininteligível.

Meu coração se apertou com uma onda de ternura. Eu sabia que ela estava exausta. Nos últimos dias, ela mal teve tempo para descansar. Ela merecia esse sono tranquilo, essa paz momentânea.

Ergui minha mão livre e afastei alguns fios de cabelo de seu rosto. Seus olhos se abriram lentamente, revelando um mel esverdeado profundo que me fez perder o fôlego. Ela piscou algumas vezes, ainda sonolenta, e um sorriso doce se formou em seus lábios.

— Bom dia. - ela murmurou, sua voz rouca pelo sono.

— Bom dia, meu amor! - respondi, inclinando-me para beijar sua testa. - Dormiu bem?

Ela assentiu, aconchegando-se ainda mais em mim.

— Melhor do que nunca. - ela sussurrou, fechando os olhos novamente.

Eu a abracei mais forte, sentindo uma onda de felicidade me invadir. Eu não trocaria esse momento por nada no mundo.

Olhei ao redor do quarto do hospital, tédio e monótono, buscando em vão algum relógio que indicasse as horas. Meus olhos cansados finalmente encontraram um pequeno visor digital no canto da parede, marcando oito da manhã. Um suspiro escapou de meus lábios.

Kylie voltou a dormir profundamente ao meu lado, seu rosto pálido e sereno contrastando com o ambiente estéril do quarto. A imagem me trouxe uma pontada de tristeza. Eu queria estar em casa, em nossa cama, com ela em meus braços. Mas aqui estávamos, presos nesse lugar frio e impessoal.

Tentei voltar a dormir, mas o sono teimava em me abandonar. Os remédios que me davam para aliviar a dor e me ajudar a descansar já haviam perdido o efeito. Minha mente, agora livre das amarras da medicação, vagava por pensamentos sombrios e incertos sobre o futuro.

Virei a cabeça para o lado, observando o soro pingando lentamente em meu braço. A sensação de impotência me invadiu. Eu queria levantar, me movimentar, fazer alguma coisa para afastar a angústia que me consumia. Mas meu corpo, ainda debilitado, se recusava a cooperar.

— Logo estarei em casa. - repeti para mim mesma, como um mantra. — Logo estarei em casa com Kylie.

Por um momento, fui invadida por um turbilhão de pensamentos e perguntas. Como Kylie me encontrou? O que aconteceu com as outras pessoas que estavam naquela casa? As imagens daquela noite horrível ameaçavam invadir minha mente, mas lutei para afastá-las. Não queria me lembrar, não queria reviver o horror.

No entanto, meu corpo era um lembrete constante do que havia acontecido. As cicatrizes que marcavam minha pele, cada uma delas uma lembrança dolorosa, me acompanhariam para sempre. Eram como inscrições cruéis em minha carne, um lembrete do que sobrevivi.

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora