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K Y L I E

Minhas unhas roídas, marcas da ansiedade que se espalhava pelo meu corpo. As pernas balançavam sem parar, um ritmo frenético que mostrava a inquietação que me consumia. Era como se cada fibra do meu ser estivesse tomada pelo medo, um desespero profundo que corroía minha alma. Jamais imaginei que a vida me levaria a esse ponto, e se alguém me dissesse o contrário, eu simplesmente não acreditaria.

Setenta e duas horas em solo canadense e meu corpo se removia em angustia. Dormir? Comer? Impossível! A única coisa que ocupava minha mente era ela. Encontrá-la, trazê-la de volta para casa, sã e salva.

Três longas semanas se passaram desde que descobrimos que Anastasia  provavelmente estava em uma mansão nas colinas. Desde então, sonho acordada com o nosso reencontro. Da janela do hotel que estávamos ficando, observava a neve cair, formando montes brancos por toda cidade, me lembrava o quanto ela ama neve, mas sem ela nada disso parecia convidativo e as paisagens canadenses, antes tão belas e convidativas, agora pareciam melancólicas, fazendo  o sentimento ruim crescer.

As autoridades já sabiam do que estava acontecendo e, para minha alegria, Rio havia montado equipes especiais para a procura dela. Helicópteros e drones sobrevoavam as Colinas todos os dias, enchendo meu peito de esperança. Dividimos as áreas em setores para facilitar o trabalho das equipes, mas até agora, sem sucesso.

Khloe insistiu em me acompanhar na viagem. Ela disse que era minha irmã e que nunca me deixaria sozinha, principalmente em um momento tão difícil como esse.  Mesmo com a cabeça em mil lugares, no fundo eu sentia uma imensa gratidão por tê-la comigo. Koko era a mais protetora, sempre atenta a cada passo meu, me segurando quando eu tropeçava e me dando palavras de conforto quando eu chorava. Ela era como uma leoa defendendo seu filhote.

— Pedi ao serviço de quarto que preparassem algo para você comer.- Levantei o olhar para minha irmã parada ao lado da cama com uma bandeja em mãos.

— Já disse que não estou com fome.- Ela revirou os olhos, deixando a bandeja sob a cômoda.

— Kylie,  acha que a Anastasia iria querer te ver assim? Você virou praticamente uma morta viva. - Me sentei na cama abraçando meus joelhos.— Tem que estar bem, porque ela vai precisar dos seus cuidados

— Eu só...- Olhei para cima tentando não chorar.— Me sinto morta por dentro. Nada faz sentido e passo todos os meus dias me perguntando o  porquê tudo isso estar acontecendo.

Minha irmã se arrastou para o meu lado naquela gigante cama, se aconchegando ao meu lado e oferecendo seu colo para que eu pudesse desabafar. Estava drenada e podia arriscar dizer que estava perto de enlouquecer. A culpa me corroía de maneira avassaladora, sentia que eu podia ter evitado o desenrolar da historia se tivesse mais atenta aos sinais. Samuel é um  homem louco e perigoso e ele é capaz de tudo para não vê-la feliz.

A tristeza se tornou minha sombra, me acompanhando a cada passo. Aprendi a viver com essa dor que me consumia, um acúmulo de saudade e lembranças desde que ela se foi. Chorava mais do que ria, mas ainda era pouco para expressar a dor que meu coração guardava. Me sentia sozinha, como se uma parte de mim tivesse morrido. A cada dia, era como se o ar faltasse, me sufocando aos poucos. A saudade me devorava, me impedindo de ver o mundo com as mesmas cores. Cada lembrança era um soco no estomago, um lembrete do vazio que ela deixou. Meus sonhos se tornaram pesadelos, povoados por fantasmas do passado que me atormentavam. A alegria desapareceu, marcando presença apenas me memorias distantes.

— Não posso te dar uma resposta para sua pergunta.- Ela fez uma pausa pousando sua mão por cima da minha. — Mas eu posso te garantir que estamos mais próximas do que nunca de acha-la e você precisa estar forte e saudável para cuidar da sua namorada, que vai precisar de todo o apoio possível nesse momento. Anastasia passou por coisas horríveis e estará muito sensível.

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora