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S T A S S I E

O som da voz do meu pai me tirou do mundo de pensamentos que me consumia. "Como foi a escola, querida?", ele perguntou, com um tom falsamente interessado. Levantei a cabeça devagar, encontrando seus olhos azuis que pareciam transbordar de uma falsa preocupação.

— Foi normal! - Respondi com a voz baixa, quase um sussurro.

Minha mãe, sentada à minha frente, me lançou um olhar penetrante, me analisando como se eu fosse um objeto.

— E você e Sammy?  ‐ ela perguntou, a voz carregada de malícia.

Senti meu corpo inteiro se arrepiar. Como se ela, a mulher que nunca me deu o amor e o apoio que precisava, ousasse questionar sobre meu relacionamento com Samuel, como se ela se importasse com o que acontecia na minha vida.

Deixei a colher cair no prato, sem conseguir conter a raiva que subia pela minha garganta.

— Você já sabe a resposta! - quase gritei, empurrando o prato para longe de mim. — Eu não tenho nada para falar sobre Samuel com você!

— Você acha normal falar com seus pais assim, Anastásia? - Meu pai perguntou com decepção na voz.

— Sabe a única coisa que eu não acho normal?- Perguntei,minha voz carregada de ironia. — Que minha própria mãe ignora? - Olhei para eles com desprezo e nojo. — O meu pai praticamente me prostituiu em troca de dinheiro da família Wilk! É só por isso que eu estou com ele, porque eu não o amo e não vou amar na porra dessa vida!

Minha mãe abaixou o olhar, focando no próprio prato. Por um segundo pensei ter visto arrependimento em seu olhar, mas não durou muito.

— Você sabia, mãe!- Meu coração doía de decepção. — Como pode concordar com isso? Eu sou sua filha!

— Anastásia…‐ Ela começou, mas eu sei que ao ouviria mais desculpas esfarrapadas, mais mentiras para me manter calada e submissa.

— Eu não quero ouvir suas mentiras e falso arrependimento, mãe!- Me levantei de supetão.

— Chega, Anastásia!- Pulei de susto quando meu pai bateu na mesa. — Suba para o seu quarto e pare de se comportar como uma criança!

Encarei os dois, reconhecendo em seus olhos a mesma frieza e indiferença que sempre os caracterizaram. Como pude ser tão ingênua em acreditar que um dia seríamos uma família normal?

— Como quiser!- respondi com desprezo. Joguei o guardanapo sobre a mesa e sai da sala de jantar, cada passo me afastando cada vez mais daquela farsa que chamavam de lar.

No meu quarto, me joguei na cama, as lágrimas finalmente escorrendo livremente. Como pude ser tão cega por tanto tempo? Como pude acreditar que meus próprios pais me amavam?

A voz do meu pai me tirou do torpor em que me encontrava. 

— Anastásia? ele disse, com um tom suave que contrastava com a dureza que eu já havia presenciado antes.

— Entra.‐ respondi com a voz ainda fraca pelas lágrimas que eu tentava conter.

Ele se sentou na cama ao meu lado, me encarando com aqueles olhos azuis que um dia me transmitiam segurança e amor. Agora, porém, só me causavam repulsa.9

— Filha, você sabe que o seu relacionamento com Samuel é bom para os negócios da família.- ele começou, a voz calma e paciente. — Faça esse esforço por nós! Você não quer que nossa família fique sem nada, não é mesmo?

O cinismo nas palavras dele me fez revirar os olhos.

— E quanto o papo de Deus quis isso para vocês, nada pode separar?- questionei, a voz carregada de sarcasmo. — Não passa de uma baboseira! Tudo o que você tem em mente é dinheiro, pai!

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora