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S T A S S I E

Na manhã daquele dia, acordei com a estranha agitação de Samuel. Um sorriso largo e artificial tomava conta de seu rosto, me lembrando da expressão perturbadora de um palhaço assassino. Andando de um lado para o outro como um animal em gaiola, ele repetia sem parar que tudo precisava ser impecável para a "grande noite".

— Teremos visitas importantes essa noite, meu bem!- O homem na minha frente acariciou meu rosto com seus dedos ásperos.

— Você não pode me dizer quem virá? - usei minha melhor voz para questioná-lo, mas ele apenas me despistou com respostas vagas e evasivas.

Sua agitação me deixava cada vez mais inquieta, e um presságio sinistro pairava sobre a casa. O que quer que Samuel estivesse planejando, eu sabia que não era nada bom.

Quando ele me mostrou o vestido que eu deveria usar, meu coração afundou. Era um vestido branco, longo e justo, com um corset apertado que me faria sentir como se estivesse em uma gaiola. As luvas longas cobririam meus braços, me impedindo de qualquer movimento livre.

A ideia de usar aquele vestido horrível me deixava nauseada. Era como se ele estivesse me preparando para ser sacrificada, um cordeiro enfeitado para o abate.

— Precisamos começar a te arrumar, querida!

O voz de Amélia me tirou do transe. Era como se ela fosse um robô recitando frases prontas, sem nenhuma emoção genuína. A palavra "querida", em particular, estava começando a me irritar, me dava vontade de me contorcer de ódio. Meus músculos se contraíram com a raiva reprimida. Eu queria gritar, xingar, fazer qualquer coisa para me libertar daquele papel de submissão que ele me impunha. Mas sabia que era inútil. Qualquer rebelião seria silenciada com a mesma frieza e eficiência com que ele me controlava.

— Eu não quero me arrumar, Amélia! — respondi com a voz firme, apesar do medo que me consumia. — Eu quero ir embora.

— Querida...- Revirei meus olhos com impaciência.

— Amélia, para!- Me levantei irritada. — Eu não preciso da sua ajuda.

— Stassie...- passei as mãos pelo rosto frustrada e irritada.

— Não! - minha voz saiu ríspida. — Eu não quero te ouvir!- Ela abaixou o olhar, encarando as próprias mãos.

A mulher me olhou por alguns segundos e se sentou ao meu lado, deixando um suspiro escapar. Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas encarando a vista através do vidro da varanda, o céu em diversas cores indicando o pôr do sol e a chegada da noite. As árvores ao redor tinham suas folhas balançando de um lado ao outro indicando que o vento se fazia presente e consequentemente o frio.

— Se você não colaborar, nós duas sofreremos as consequências!- Ela quebrou o silêncio. — Por favor, colabore!

— Tudo o que eu fiz até agora foi colaborar, Amélia!- meu tom de voz saiu mais rígido do que eu planejei.— Então não me peça para colaborar com promessas falsas de que tudo ficará bem!

Ela voltou seu olhar para mim, as manchas arroxeadas em baixo de seus olhos indicavam o cansaço que a mulher sentia e as possíveis noites mal dormidas, de preocupações que a atormentavam.

— Tem algo que preciso que saiba, Anastasia.- Ela abaixou a cabeça, com as mãos sob o colo, parecia envergonhada. — Você precisa saber para entender porque eu faço o que eu faço

Ela desviou o olhar novamente, parecia envergonhada, como se estivesse escondendo um segredo. O que será que atormentava tanto ela? O que poderia fazer ela ficar tão tensa e parecer sempre estar em estado de alerta?

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora