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S T A S S IE

O coração batia descompassado no meu peito enquanto eu fitava a figura imponente na minha frente. Era ele, meu pai, o homem que eu não via há tanto tempo, parado ali, como se o tempo não tivesse passado. A cena era surreal, quase um sonho, e eu me questionava se aquilo era real.

Meus pés pareciam chumbo, incapazes de se mover. A mente lutando para processar a imagem, para aceitar que era real. Tantas perguntas se amontoavam em minha cabeça, tantas palavras que eu queria dizer, mas tudo o que conseguia fazer era observá-lo, tentando absorver cada detalhe daquele rosto que me era tão familiar e, ao mesmo tempo, tão estranho. Queria entender, desesperadamente, o que estava acontecendo. Perguntas se acumulavam em minha cabeça como nuvens de tempestade, ameaçando explodir a qualquer momento.

Olhei para o homem parado na minha frente, buscando respostas em seu rosto, mas encontrei apenas um olhar impenetrável. Ele parecia hesitante, como se estivesse lutando para encontrar as palavras certas. O silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pelo som da minha própria respiração irregular.

— Pai- Consegui finalmente articular, a voz fraca e trêmula. O que está acontecendo? Por que você está aqui?

Ele desviou o olhar por um momento, como se estivesse juntando seus pensamentos.

— Eu sei que isso deve ser muito difícil para você entender.- ele começou, a voz baixa e hesitante. —Mas eu precisava te ver. Eu precisava te explicar tudo.

Samuel, ao meu lado, apertava meu ombro com uma falsa gentileza, enquanto um sorriso cruel se desenhava em seus lábios.

Que cena comovente.- Ele zombou, com uma voz carregada de sarcasmo. Quase me emocionei com esse drama patético.

Suas palavras cortaram como aço, penetrando em minhas defesas e me fazendo questionar tudo o que eu achava que sabia.

Anastasia.- Ele continuou. Acorda! Esse homem na sua frente nunca se importou com você ou com seu bem-estar. O que você acha que ele está fazendo aqui? Olhe ao redor, você ainda não entendeu?

As lagrimas queimavam meus olhos, mas as engoli com força. Samuel tinha razão, em parte. Meu pai nunca havia demonstrado muito afeto por mim, e após a morte da minha mãe, ele se tornou ainda mais distante, quase ressentido com minha existência. Mas, no fundo do meu coração, uma pequena chama de esperança ainda ardia. Uma voz sussurrava que ele não podia ter mudado tanto assim, que algo o havia trazido de volta a mim.

Olhei para meu pai, buscando algum sinal de redenção em seus olhos, mas encontrei apenas um vazio insondável. Sua expressão era indecifrável, uma máscara que ele sempre usou. Nada havia mudado.

Um calafrio percorreu minha espinha quando ouvi a nova voz ecoando pelo cômodo. Era o pai de Samuel, um homem alto e imponente que observava a cena com seus olhos penetrantes. O ar ficou mais pesado, carregado de uma tensão palpável.

Lembrei-me do que Amélia me havia contado mais cedo sobre sobre ser a real mãe de Samuel. Senti a apreensão tomar conta de mim enquanto eu os observava: o pai de Samuel, com sua expressão severa, e ao seu lado, a suposta mãe, uma mulher elegante vestida em um longo e imponente vestido verde escuro, adornado com um casaco de pelos brancos.

Seus semblantes, ambos sérios e impenetráveis, me causavam um desconforto inexplicável. Havia algo neles, em sua postura e na forma como me encaravam, que me deixava em alerta.

Samuel, ao notar a presença de seus pais, se aproximou deles com um sorriso servil.

Pai, mãe.- disse ele, sua voz carregada de falsa deferência. Que bom que vocês chegaram.

𝐨𝐫𝐠𝐚𝐬𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora