Capitulo 2🐈‍⬛🐈 Jungkook Ogawa

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O Hide & Art está cheio esta noite, porque é sábado. Durante a semana, o fluxo é bom, mas nos sábados e domingos é quando realmente lota. Sempre fico um pouco nervoso antes de me apresentar, não importa quantas vezes eu faça isso.

Meu cabelo está escovado com gel para trás e a máscara que uso é vermelha, que combina com o tom da jaqueta de couro que uso.

Geralmente, não uso muito roupas informais em jantares de família, nem que revelem as tatuagens em meu braço, mas aqui, posso ousar mais. Posso ser eu mesmo. Até porque minha identidade sempre vai ser um segredo. O conceito é que os artistas sejam anônimos.

Dylan se aproxima pela esquerda, com sua própria máscara que imita penas de um pavão. Ele acabou de se apresentar, fez uma escultura de barro ao vivo, e agora é minha vez.

— Parece que hoje tem alguém querendo comprar as artes. — Não consigo ver seu rosto, mas parece curioso.

— O Kai disse que não estamos vendendo nada, mas o rapaz insistiu tanto, que o fez ceder.

Meu queixo quase despenca.
Sério? Para que Kai, o organizador e fundador do Hide & Art, tenha aceitado uma oferta, deve ter sido por conta de muito dinheiro. Ele sempre deixou claro que nossos trabalhos não estavam à venda, que seria apenas uma exposição. Mas, pelo visto, alguém o fez mudar de ideia. Não sei como me sentiria com alguém levando um dos meus quadros.

— Ele só vai vender se concordarmos, é claro — Dylan acrescenta, provavelmente notando a incerteza nos meus olhos. — Agora, é sua vez, Jk.

Jk é o pseudônimo que escolhi para assinar meus quadros. Eu me sinto mais à vontade sendo Jk do que Jungkook para pintar as telas. Além disso, é mais seguro.
É algo que eu nunca arriscaria perder e, se minha mãe descobrisse, com certeza me proibiria de frequentar o ambiente.

Sinto a habitual ansiedade começar a varrer meu corpo. Subo no pequeno palco. Minha tela já está posicionada. A conversa baixa no ambiente some conforme me sento na cadeira. Nunca olho para as pessoas lá embaixo. Sempre que estou pintando, tudo ao meu redor desaparece. Somos apenas eu e meus quadros. Com as primeiras pinceladas de tinta, começo a dar vida à tela. O tempo passa rápido aqui em cima. Cada artista tem cinquenta minutos para criar algo, e eu finalizo meu quadro da melhor forma que consigo.

A fênix de asas abertas foi pintada de um jeito brusco. Para finalizar, com um isqueiro, queimo as bordas da tela, dando a impressão de que o pássaro ganhou vida e incendiou tudo. Uma salva de palmas explode ao meu redor, e desperto do torpor em que me envolvi nos últimos momentos. Algo me incomoda, no entanto. Sinto um olhar perfurar minha nuca, uma sensação incômoda de que alguém tem um alvo em mim.

Olho para as pessoas aglomeradas no estúdio e tento sorrir em  agradecimento, mas meus lábios murcham assim que fito o azul ártico que congela meu corpo inteiro. É como se a pequena multidão tivesse desaparecido. Somos apenas eu e Taehyung aqui.

Seu corpo está encostado contra uma pilastra, e o terno azul marinho parece impecável. A cor esvai do meu rosto. O olhar presunçoso no rosto dele diz: eu sei todos os seus segredos.

Mas talvez isso seja impressão minha.

Não tem como ele saber quem eu sou. Me viro e deixo o palco com pressa, me escondendo no corredor de acesso. Dylan ainda está aqui atrás desde que comecei a pintar.

— Parece que viu um fantasma — ele diz, em meio a uma risadinha. Tenho vontade de respondê-lo que estou sendo assombrado, mas não por um fantasma.

E sim por um milionário que parece não ter alma nem coração.

— Ainda não me acostumei em ser o centro das atenções — falo qualquer coisa, dando um riso mecânico para acompanhá-lo.

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