Capítulo 17 🐈‍⬛🐕 Taehyung Diamond

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Passado..

A casa está envolta em silêncio enquanto completo a terceira série de cem flexões. Meus antebraços tremem com todo o esforço que faço para subir. A exaustão se instala, e minha mente falha primeiro que o corpo. Caio no chão, cerrando os dentes ao ouvir os passos do meu pai ao meu redor. Ele analisa minha desgraça como se eu fosse um animal de circo. Um tipo de espetáculo sádico. Seu suspiro de desaprovação ressoa e encaro seus sapatos diante de mim. É tudo o que consigo enxergar do meu campo de visão, deitado sobre o carpete gelado.

— Recomece — ordena, o tom de voz frio e indiferente. Se ver que estou no meu limite não o comove, duvido muito que minhas palavras irão.

— Não consigo — digo, entre dentes, sem fôlego. — Não é o suficiente? Já não está bom?
Fazer quinhentas flexões seguidas é loucura.

Não dá para chegar a esse marco, no entanto, meu pai não está interessado nos limites do corpo humano, apenas busca uma vingança pessoal contra seus próprios filhos. Não ouso encarar o rosto dele e mantenho a cabeça baixa.

— Não está bom. Você não fez as quinhentas flexões no tempo sugerido, portanto, é medíocre. Travo a mandíbula instantaneamente. Mediocridade é a kriptonita dos Diamond. Não existe e nunca existiu espaço para ser mediano nesta família. Ou você é acima da média, ou é forçado a ser.

— Você tem três minutos para se levantar e completar as flexões — avisa, seus sapatos se distanciando. Observo meu reflexo no espelho à minha frente. Meu cabelo está bagunçado, o suor cobre a testa e camisa, além do rosto ruborizado. Estou no meu limite, contudo, me forço a abrir as palmas contra o chão e tentar, em vão, me erguer. Minha visão fica turva e volto a cair, ofegante. Arrisco olhar para meu pai. Ele sinaliza para que o siga, abrindo a porta. Me ergo, ainda exausto, e obedeço ao comando. Vamos para sala, onde Seokjin está sentado no sofá, visivelmente tenso. Olho com confusão para ele, pois pensei que estivesse sendo punido assim como eu. No entanto, ele não está coberto de suor e não parece estar em nenhum tipo de teste de Hernan.

— Vire a poltrona para a janela e abra as cortinas — meu pai ordena a Seokjin, que me lança um olhar breve e significativo antes de fazer o que ele pede. — Agora sente-se e aprecie o show.

Uma chuva torrencial despenca lá fora e as temperaturas estão baixas. Não faço ideia do motivo para que Hernan tenha pedido a Jin que fique observando a tempestade, no entanto, quando ele abre a porta e me fita, eu compreendo.

— Cem voltas completas ao redor do pátio, sob a chuva, sem pausa. E você não tem permissão para voltar para dentro de casa antes de finalizar o que mandei.

— Não — Seokjin intervém, levantando-se. — O senhor não pode fazer isso. Não é mais uma lição. É desumano.

— Eu dei permissão para que você falasse? Me interrompa outra vez e Brianna se juntará a Taehyung no pátio.

Isso cala Seokjin. Ele se torna imponente, seus ombros se curvam de um jeito patético. Meu corpo inteiro treme. Mas não é cansaço; é raiva. Raiva em sua forma mais pura e genuína, tanta raiva que eu não sei o que fazer com ela. Então, saio para a varanda e encaro o temporal. Foda-se. Começo a dar a primeira volta. A chuva me atinge com força conforme eu corro. O pátio é extenso, não sei o tamanho exato, contudo, é o suficiente para que dê para estacionar dezenas de carros. Olho para a janela. Seokjin é forçado a assistir enquanto Hernan me pune. Sua expressão é de pura agonia. Sei que ele trocaria de lugar comigo se pudesse, mas nosso pai jamais permitiria isso.

Ele quer que meu irmão aprenda a lição. E é usando Brianna e a mim que ele vai conseguir fazer isso. Quando termino, quase não sinto os meus pés e pernas. Me dirijo para o gazebo, próximo ao jardim da propriedade, onde o caseiro guarda materiais de limpeza. Assim que saio da chuva, o choque corre por meu corpo e deslizo contra a parede de madeira até estar sentado no chão, tremendo de frio. Não sei quanto tempo se passa, porém, me assusto quando a porta é aberta, e Jin aparece. Ele usa uma capa de chuva e uma bolsa está transpassada no corpo dele.

— Desculpa por ter demorado, Hernan só dormiu agora. — A expressão do meu irmão mais velho é sombria, acho que nunca o vi assim. Ele aponta para a bolsa. — Tem roupas limpas e secas aí. Vista-se e se prepare, porque iremos fugir. As palavras de Bastian me deixam perplexo.

— Como assim fugir?

— De volta para a Alemanha, com a avó Ana. Eu liguei para ela e avisei que estávamos indo visitá-la. Vou pegar Brianna. — Há uma pausa, enquanto a chuva preenche o silêncio entre nós, ressoando como tambor no gazebo. — Escuta, vamos ter que ser rápidos. Vou buscar um dos carros e quero que você seja ágil.
Quando Hernan souber o que fizemos, vai mandar guardas atrás de nós. Ele não vai facilitar.

Apenas aceno com a cabeça, sentindo meu estômago gelar com a ansiedade. Isso não é uma ideia boa. É impulsivo e sem planejamento, contudo, não podemos mais ficar sob as garras de nosso pai. Fico com pena de deixar nossa mãe, mas então lembro que ela preferiu visitar sua amiga em Hollywood do que ficar com seus filhos. Ela sempre foge quando a tensão estoura. Acho que só eu percebo isso com clareza. Seokjin diz que ela deve passar muito tempo fora por causa do papai e que não a culpa. Minha irmã mais nova tem esperança de que um dia será acolhida e que ela vai fazer cachos em seus cabelos e colocá-la para dormir como qualquer outra mãe normal.

Não sei como dizer a Bree que talvez isso nunca aconteça. Que talvez nenhum de nós sejamos verdadeiramente amados um dia. Tiro as roupas molhadas, seguindo a instrução de Seokjin, e coloco as roupas que ele separou para mim. Termino de fechar o zíper do agasalho impermeável e minha temperatura começa a estabilizar, assim como os lábios rachados param de tremer. Meu coração bate forte com a tensão toda que sinto. O corpo queima e tenho que sufocar o gemido de dor quando me levanto. Espero pelo sinal. Ouço pneus derrapando na pista molhada e inspeciono através da janela do gazebo no momento em que Seokjin arranca um dos carros da garagem. Abro a porta e corro até alcançar o carro, segurando a bolsa. Sento no banco do passageiro e olho para trás. Brianna está sentada, com o cinto de segurança afivelado. A garotinha agarra seu ursinho como se tudo dependesse disso. Ela não entende o que está acontecendo e, no fundo, é melhor assim.

— Para onde a gente tá indo sem o papai e a mamãe? — pergunta, o lábio inferior tremendo.

— Vamos visitar a vovó Ana. — Tento demonstrar tranquilidade enquanto Seokjin dirige feito louco.

Os seguranças acenam para nós, na tentativa de bloquear nosso caminho enquanto se comunicam através de rádios. Tudo vira uma bagunça, mas conseguimos ultrapassar os portões.

— Ouve música, Bree — Jin diz, tenso. — Taehyung , pega o iPod na bolsa.

Pego o iPod para Brianna e coloco na playlist que ela mesma fez, conectando os fones em suas orelhas, o que é difícil porque tenho que me virar e dar um jeito de alcançá-la no banco de trás. Coloco o cinto e me volto para frente. Paramos em um semáforo.

— Estão nos seguindo? — Olho pelos retrovisores. Não identifico nenhum dos carros de meu pai.

— Ainda não, mas deve ter um rastreador nesse carro — meu irmão mais velho fala.

— Vamos estacionar e migrar para um táxi — sugiro e Seokjin concorda.

Nós estacionamos em uma rua qualquer e descemos, entrando numa cafeteria. Seokjin segura Bree no colo. Não me sinto seguro aqui, mas duvido que irão nos encontrar agora que abandonamos o carro. Ele compra alguns cookies para nossa irmã e sanduíches para nós. Estou morrendo de fome e com sede, me dou conta disso apenas neste momento. Entramos no táxi alguns minutos depois, amontoados no banco de trás. A cabeça de Brianna tomba contra meu peito e ela começa a adormecer. Olho para Seokjin e ele também observa nossa irmã.

— Isso não é vida — diz, o tom de voz baixo e cansado. — Me desculpa por não ter feito nada enquanto ele te punia. Eu não podia arriscar e pôr tudo a perder. Já estava planejando levar vocês dois para longe daqui. A avó Ana mandou o jato particular para nós.

Isso faz com que eu relaxe. Começo a comer um dos sanduíches.

— Você foi um bom irmão hoje — murmuro, a contragosto. Jin sorri, no entanto, não é nem de perto um dos seus sorrisos brilhantes que atraem garotas e caras que querem ser como ele no colégio. É triste.

— Eu tentei — é tudo o que diz e permanecemos em silêncio até o aeroporto.

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